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Roupa velha vira estofo de automóveis

2009-06-17

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No Fundão uma loja recolhe roupa que depois entrega numa fábrica do Tortosendo para transformar em novas fibras.
As peças que já não se usam dão origem a revestimentos térmicos para a construção civil e brindes publicitários.Desde sempre se lembra de ter a preocupação de reutilizar e dar nova vida aos materiais. Já era assim em jovem, quando de roupas fora de moda inventava novos modelos com o mesmo tecido. Quando ficou desempregada Ana Domingos, de 41 anos, decidiu apostar num conceito diferente no Fundão. Uma loja de vestuário onde também se aluga, se recicla e se recolhe roupa para transformar em revestimentos térmicos, estofos de automóveis ou brindes publicitários.

"Pesquisei quatro ou cinco anos para este projecto", conta a proprietária. A Stillos abriu em Novembro último e está agora a dar os primeiros passos. A recolha de roupa para entregar na empresa que a vai triturar e fazer novas fibras é um complemento à parte comercial da loja. "Esta vertente é uma preocupação ambiental e social, não comercial".

O espaço, amplo, está dividido fisicamente. De um lado os modelos das marcas representadas. Do outro a zona de aluguer e reciclagem. É ao fundo desta área que se encontram os dois recipientes onde quem já não precisa pode entregar todo o tipo de roupa, mesmo em muito mau estado.

Aspiração é ter contentores nas ruas
Feita a triagem, o que é entregue é separado. O que pode ser aproveitado com arranjos é depois posto à venda com preços baixos. Ana Domingos aproveita para mostrar um casaco de ganga feito a partir de duas calças. As roupas que ninguém vai usar, comidas da traça, rasgadas ou modelos muito desactualizados são enviadas para a Jomafil, sedeada no Parque Industrial do Tortosendo, para serem trituradas, darem origem a novas fibras que vão ter usos técnicos industriais.

Há ainda a roupa em condições que Ana Domingos entrega rotativamente a instituições. Já juntou artigos para o Abrigo de São José. Actualmente tem um cartaz onde informa que a próxima associação a beneficiar é a Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM). Por baixo está um expositor de roupa em segunda mão com peças entre 1 e 10 euros. As receitas revertem também para a APPACDM.

São já muitas as pessoas que fazem entregas na Stillos, mas Ana Domingos gostava que o projecto se expandisse. "Escusadamente teríamos de fazer mais aterros e há quem não queira deitar para o lixo e não saiba onde deixar a roupa. Acaba por ser útil", frisa a proprietária do estabelecimento, para quem o ideal seria uma parceria entre várias entidades que facilitasse a recolha. A instalação de contentores, como existem para o vidro, o plástico ou o papel, é a ambição prioritária.

"Se tivesse um à porta em que as pessoas pudessem depositar sem estarem condicionadas ao horário da loja, seria óptimo. Acredito que este conceito poderia ganhar outra dimensão. O ideal seria haver contentores espalhados pela cidade", preconiza Ana Domingos, que pensa contactar a Câmara Municipal para averiguar a exequibilidade da ideia.

O resultado, refere, seria um maior aproveitamento dos materiais. Uma camisola velha ou rota, que mais ninguém vai usar, pode daí a uns tempos converter-se num isolador térmico usado na construção de casas, num estofo ou até numa original agenda, como a que a dona da Stillos mostra. Uma marca italiana que usa para revestimento placas de desperdício exportadas pela Jomafil.

Transformação, aluguer e reciclagem
Para já os fundanenses ainda não estão muito familiarizados com esta forma de olhar para o destino a dar à roupa que não se quer. Ana Domingues entende que é necessário sensibilizar e desta forma mudar mentalidades, até porque "assim sabem que as peças vão ser reaproveitadas". A mesma mudança que considera necessária para o aluguer funcionar em pleno, já que a região não tem tradição nesta área.

Os fraques destacam-se na frente do expositor, onde também se encontram vestidos, trajes para cerimónia, roupas para crianças usarem em procissões e outro tipo de peças associadas a ocasiões especiais. "Precisamos inovar, ter uma outra cultura. Ainda por cima numa época de crise porque não alugar roupa para uma festa, se depois não se volta a usar?" É o que vai acontecendo, "mais para festas".

Na reciclagem de roupa conta com a colaboração de uma designer, que ajuda a conceber novas linhas para velhas roupas. Os clientes agradecem. É o caso de Odete Ribeiro. Soube da Stillos por uma amiga e decidiu ir à loja saber que soluções podia haver para um vestido de cerimónia que usou apenas duas vezes e deixou de lhe servir. No balcão mexe no desenho, faz perguntas, tira dúvidas e mostra-se satisfeita com o que lhe foi proposto. "Era uma pena ter o vestido encostado sem quase o ter usado, agora é um modelo novo, uma peça única, feita à medida", elogia Odete, que se prepara para o usar num baile de danças de salão.



Autor
Ana Ribeiro Rodrigues

Categoria

Palavras-Chave
Roupa / Ana / Domingos / roupas / loja / Stillos / Fundão / peças / usar / fibras

Entidades
Ana Domingos / Stillos / Escusadamente / Ana Domingues / Odete Ribeiro

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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