Ir, pela Nacional 18, entre Covilhã e Castelo Branco, leva, neste momento, mais de uma hora. Mas será a alternativa para fugir às portagens.
Um regresso ao passado para não pagar o presente. Caso, em Abril (data pode atrasar) as portagens sejam mesmo aplicadas na A23, uma simples deslocação à capital de distrito por uma estrada nacional levará, em média, e respeitando todos os limites de velocidade, mais que uma hora. Não acredita? Meta-se no carro, saia pela Nacional 18 e verifique o tempo que demorou. O NC fez o teste e avisa já: vai demorar o dobro do tempo que demora agora, numa auto-estrada que era, para muitos, um dado adquirido e sem custos, se as promessas governamentais de longos anos se tivessem cumprido.
Saímos por volta da uma e meia da tarde da Covilhã. Quilometragem a zero, relógio com cronómetro e toca a andar. Pela Nacional 18, sempre a menos de 90 quilómetros hora, há trânsito, mas nada de especial. Olhamos pelo vidro e do lado de lá, na A23, o tráfego é muito mais intenso. Passam por nós como se fossem de mota e nós de bicicleta…. Chegamos às imediações do Fundão e, por ali, a estrada passa a ter, desde Alcaria, duas vias para cada lado, mas atenção: os 90 deixam de ser o limite para baixarem, já no Parque Industrial fundanense, para os 50. Conseguimos entrar na cidade e, por lá, as obras que decorrem, algumas no âmbito da requalificação da Linha da Beira Baixa, atrasam-nos um pouco. O trânsito também ajuda e, pasme-se, até agora já gastamos, sem qualquer paragem, cerca de 22 minutos. Estaríamos, supomos, caso tivéssemos entrada na A23 no nó do Tortosendo, possivelmente bem para lá da Soalheira…. Seguimos viagem, lenta, pela Nacional 18. Começamos a subir a Gardunha, aquela para a qual durante imensos anos se reivindicaram túneis que atravessassem para evitar o martírio que era fazê-lo. Eles vieram, os túneis, mas vão passar a ser pagos, logo… Gardunha acima. É Primavera e para quem gosta da natureza, e até vem com tempo, até é bonito poder ver, por esta altura, as cerejeiras em flor. Mas para quem trabalha, cada curva e contracurva é mais um obstáculo a uma viagem rápida e segura. Não há trânsito, o piso é irregular, há alguns remendos, mas vai-se andando.
"Malta vai continuar a ir pela A23"
Chegamos a Alpedrinha, que há uma década pediu, na rua, um acesso directo à A23 e contestou o facto da auto-estrada da Beira Interior "matar" a localidade. Há pouca gente na rua, embora se vão notando algumas pequenas obras. E há pouco trânsito, ao contrário de há uma década atrás. "Isto era o diabo… carros e mais carros. Agora, vão passando, mas não é tanto como em tempos" explica-nos o senhor José, 74 anos, que anda ali pela rua. Abordamos o idoso ali, à beira da estrada, e ele, simpático, não se furta a responder. Perguntamos se acredita que o trânsito vai aumentar por aquelas bandas quando houver portagens. "É capaz, um bocadito. Mas acho que a malta vai continuar a ir pela auto-estrada, mesmo que seja a pagar. Então, já viu o bife que é subir a Serra? Há crise, há crise, mas não vejo ninguém a fazer sacrifícios" vaticina. E avisa: "olhe que para a frente a estrada está um pouco pior. Se passarem aqui muitos carros não sei como vai ser" diz. Seguimos viagem e de facto, de Alpedrinha para a frente temos uma estrada em pior estado, com alguns buracos e remendos, que só volta a ganhar cor de Castelo Novo em diante.
Aconselhados a ir por alternativa a pagar
Estamos a cerca de quatro quilómetros da Soalheira e já levamos mais de 35 minutos de viagem. Muito tempo, pensamos. Estaríamos já em Castelo Branco pela A23, pergunta o nosso subconsciente. Faremos o teste à vinda. Para já, continuar. A caminho da Lardosa, sempre lado a lado com a via que, tão ligada ao nosso quotidiano e ao presente, poderá fazer parte de um imaginário futuro, já que o presente tem que ser pago. Cruzamo-nos com a auto-estrada, num viaduto que nos manda para a esquerda da A23, junto à Lardosa, onde decorrem obras de instalação dos pórticos. Mas na Nacional 18 também há obras. Limpam-se valetas, arranjam-se murros e pontes. Entramos finalmente no concelho de Castelo Branco. Demorámos cerca de 50 minutos a fazê-lo. E, chegados a Alcains, um aviso: decorrem obras de requalificação da via, em nove quilómetros, pelo que somos aconselhados a ir por uma via alternativa… que só pode ser a A23. Ou seja, pode muito bem dar-se o caso de ter que, como alternativa a uma estrada em obras, ter que se ir por uma via paga….
Ali, nos últimos seis quilómetros, procede-se à repavimentação do terreno. Há um troço em que só se pode usar uma via, pelo que existe um semáforo que impede a circulação simultânea. Está vermelho. Esperamos, esperamos, mas há muito quem não espere que venham os automóveis em sentido contrário. E que fure a obrigação de parar. Vemos, pelo menos, seis automóveis a fazer isso, entre os quais dois pesados, com os riscos que correm ao poderem deparar-se com um carro de frente na única via que está a funcionar. Continuamos à espera e o semáforo não muda de cor. Demorou quase 10 minutos a voltar ao verde. Mas lá mudou. Seguimos marcha e chegamos ao Estádio Municipal do Vale do Romeiro, em Castelo Branco. Demorámos uma hora e 10, para efectuar 62 quilómetros… uma eternidade.
Menos quilómetros e metade do tempo pela A23
Para cá, fazemos o inverso. Utilizamos a A23. E é como mudar do dia para a noite. Há muito mais trânsito, é certo, mas duas vias para cada lado. O limite de velocidade, exceptuando alguns locais que estão a 100 e os túneis da Gardunha, a 80, é de 120 quilómetros hora. Cumprimos religiosamente todos os limites impostos. Saímos da capital de distrito às 15 horas em ponto. E chegamos à Covilhã às 15 horas e 34 minutos, com 53 quilómetros percorridos. Que nos custariam, segundo a Comissão de Utentes da A23, A24 e A25, tendo em conta o preço de portagens aplicados pelo Governo em outras auto-estradas, a módica quantia de 4,5 euros.
Autor
João Alves
Palavras-Chave
Nacional / presente / quilómetros / Castelo / via / estrada / trânsito / Branco / tempo / Covilhã
Entidades
Primavera / José / Aconselhados / Nacional 18 / NC
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