A sociedade onde nos encontramos não passa de um campo fértil onde as sementes sociais vão sendo lançadas a cada instante.
Aprendemos, em tempos, que o mundo era feito de animais, vegetais e minerais incorporando-nos nós no primeiro setor com todos os defeitos e virtudes, mas sempre pensando na capacidade de dominar os outros, tudo e todos.
A natureza é nossa fonte de vida, pois dela retiramos tudo o que nos faz falta quer ela queira ou não queira. E, se não quiser, vamos nós inventando sempre algo para forçá-la a dar o que nos apetece, saciando os constantes apetites
Ao enquadrarmo-nos num desígnio social tudo fazemos então para tratar os campos ordenando suas produções, ceifando umas ervas em favor de outras, regando umas e tirando água a outras, semeando, colhendo, isto é educando a própria natureza através de enxadas, gadanhas, máquinas e outro tipo de animais que terão que ser auxiliares do pulso e imaginação da própria bravura a que vamos chamando humana. Educar as terras será, pois, uma forma de delas extrairmos o bem individual que, multiplicado, conduzirá ao bem comum em sua abrangência. As terras deixam-se educar quando a força e saber humanos lhes dizem o que pretendemos e o que terão de fazer para corresponderem aos desejos de quem as domina para delas extrair o que bem lhes apetece.
A sociedade onde nos encontramos também ela não passa de um campo fértil onde as sementes sociais vão sendo lançadas a cada instante. Só que nem sempre elas vão produzindo o que deviam porque quem lhes dá vida se esquece de tratá-las, educá-las, prepará-las para as funções do bem comum, da paz, da harmonia familiar e coletiva.
Estranhamos quando as terras não produzem o que desejamos, mesmo depois do esforço, do saber, da entrega humana e das horas gastas em seu favor. Não deveria ser também a sociedade resultado de um sentido de ordem, do cultivo de valores, de uma busca constante da solidariedade e de uma partilha do bem em menosprezo do individualismo doentio, segregação violenta e irracional?
Ao natural equilíbrio solar, da chuva, da sombra, do sabor do dia e doçura da noite era bom que correspondessem a ordem humana, o respeito pelos valores num caminho de responsabilidade e produção de harmonia tecida com fios de alma e coração. Só que as intempéries, umas naturais outras incendiadas por mãos estranhas, não desvanecem. Os relâmpagos e trovões sucedem-se, os abalos térreos e marítimos afrontam-nos e não são domináveis, correspondendo a tudo isso os vendavais humanos, réplicas de insegurança, que agora afrontaram Paris e suas gentes, mas sempre afrontaram e continuam a afrontar e a desafiar outros povos enquanto não soubermos educar-nos, à semelhança do que queremos fazer com a natureza que também ela não se deixa dominar com simples remedeios ou paleios com que o dia-a-dia nos vai engravidando.
Não basta querermos levar a água a nossos moinhos; temos que educar-nos com olhos e alma postos, não apenas no nosso vizinho, mas no todo do outro que é tal como nós e com ele temos que partilhar vida, feita de uma cultura de dignidade e responsabilidades repartidas.
Autor
Sergio Gaspar Saraiva
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
Aprendemos / natureza / terras / sociedade / animais / campo / lhes / vida / humana / queira
Entidades
Paris
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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