Obrigado, Guterres, pela Faculdade

2010-05-05

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Ex-primeiro ministro recebe doutoramento Honoris Causa na UBI.

"O contributo de António Guterres para este projecto estruturante, actualmente com grande impacto na região e no País, constitui um exemplo do seu compromisso com o desenvolvimento de Portugal e, em concreto, do seu Interior". Foi assim que o Reitor da UBI, João Queiroz, agradeceu ao ex-primeiro-ministro, o seu contributo para a aprovação da criação da Faculdade de Ciências da Saúde, entre 1996 e 2002, na UBI. Um agradecimento que surgiu nas cerimónias do 24º aniversário da UBI, na passada sexta-feira, 30 de Abril, e que resultou na atribuição do doutoramento Honoris Causa a Guterres.

Queiroz classificou o momento de "alto para a instituição", lembrando que a UBI distingue com este grau personalidades que se notabilizem nos diversos domínios ou tenham contribuído para o engrandecimento de Portugal e, em particular, da UBI. Apesar de citar outros méritos de Guterres nomeadamente no trabalho feito em prol dos mais pobres, foi a criação da Faculdade o principal motivo para uma "justa e reconhecida homenagem que também nos prestigia", justifica o Reitor.

Quando ao novo doutorado, agradeceu o gesto de "generosidade" da UBI, sem atribuir os méritos que foram descritos, mas lembrando a caminhada em comum com a Universidade e cidade para "valorização da região". Guterres diz que a Covilhã é hoje uma cidade "motor essencial" para o desenvolvimento da região. E, emocionado, disse ter ficado "muito agradado pelo facto de o grau que me atribuem o ser no quadro das Ciências Sociais e Humanas, porque sempre me considerei um engenheiro social". No breve discurso, o ex-primeiro-ministro assegurou que não tem o objectivo de voltar à política activa. "Eu não costumo fazer juras, nem são as juras que fazem sentido. O que posso dizer é que não tenho qualquer intenção de voltar à política activa em Portugal". Guterres diz que prefere continuar "a desempenhar um trabalho a que me dedico de alma e coração. Houve um capítulo que se fechou e outro que se abriu. Quero escrever este, de acção humanitária, até ao fim", sublinha.

O ex-primeiro ministro teve como padrinho Bruto da Costa, antigo presidente do Conselho Económico e Social e que António Guterres recorda ter sido quem lhe deu a ideia do Rendimento Mínimo Garantido, que lançou em 1997. Também o padrinho de Guterres nesta cerimónia, lembrou na sua intervenção o papel que a Faculdade teve para "esbater as assimetrias entre Litoral e Interior." A atribuição de um valor mínimo aos cidadãos é uma questão "que ainda hoje gera muita discussão", recordou Bruto da Costa, mas realçou que "eventuais efeitos perversos da medida" não podem apagar "a bondade que lhe é intrínseca".

"Valeu a pena correr o risco", diz Sócrates

O primeiro-ministro, José Sócrates, fechou a cerimónia de aniversário da UBI e confessou que "os políticos devem ser treinados para estarem sempre a ser decepcionados". "Mas são momentos como este, em que a UBI decide atribuir o grau Honoris Causa a António Guterres que me fazem reconciliar com a política e me fazem lembrar que ainda existe reconhecimento e gratidão nos corações humanos", destaca. Sobre a criação da Faculdade de Medicina na Covilhã, Sócrates considerou essa uma decisão "que muda a história", lembrando que em 1998, em pleno Conselho de Ministros, quando se discutia a necessidade de mais médicos para o País e criação de uma nova faculdade, a maioria das pessoas inclinava-se para outra cidade. "Mas António Guterres disse que era a altura de dar uma oportunidade a uma universidade do Interior" recorda, reconhecendo que "foi um risco, mas é para isso que existem os políticos. Valeu a pena correr o risco" afirma. Um momento que "abriu novas hipóteses ao Interior.

Mais vagas nos próximos três anos

Também presente na cerimónia, o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, deixou o anúncio de aumento de vagas em Medicina, na UBI, nos próximos anos. O número de vagas para acesso ao curso vai crescer até 200 nos próximos três anos.

O curso na Covilhã tem actualmente 115 vagas, número que vai crescer 20 por cento já no próximo ano lectivo, adianta Mariano Gago. "No próximo ano lectivo o número de vagas crescerá 20 por cento e depois até 200 nos próximos três anos, a partir das 115 que estão hoje no concurso nacional de acesso", referiu o governante no discurso oficial da cerimónia de aniversário da UBI. "A ministra da Saúde autorizou-me a dizer aqui que encontrará neste espaço de tempo a resolução de problemas de integração em hospitais e centros de saúde dos novos estudantes no ciclo clínico", acrescenta.

O curso de Medicina da Universidade da Beira Interior, na Covilhã, foi criado em 1998 pelo Governo de António Guterres.