Estiveram 15 dias na região. E mostraram como se criam núcleos familiares com seis, sete e oito filhos.
Segundo a maioria dos estudos, entre os quais os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em Portugal, as famílias são cada vez mais pequenas e os lares monoparentais constituídos maioritariamente por mulheres. Os casais têm menos filhos e há mais pessoas sós, sobretudo idosos.
Portugal terá cerca de 3,6 milhões de famílias, com uma média de 2,8 indivíduos por agregado familiar.
Ao mesmo tempo, os rendimentos per capita são baixos e os apoios familiares insuficientes. Mas há quem, alheio a tudo isto, inverta toda esta "lógica". Falamos das famílias numerosas, que na segunda quinzena de Agosto passaram pela região para umas férias "diferentes", um programa que já realizam há sete anos.
O NC desloca-se no penúltimo dia de estadia na região, no passado dia 27 de Agosto, a Belmonte, onde nos disseram estar estas famílias que, para muitos, não são nada normais. Há quem diga que são "os loucos". Há outros que dizem que só têm muitos filhos "porque são ricos". Há outros que preferem reconhecer que esta é uma opção de vida. Neste dia de Agosto, a animação junto aos museus da vila é muita. Ouvem-se crianças. Aos montes. Há muita gente dentro e fora dos museus. Na Rua Pedro Álvares Cabral há uma movimentação invulgar. Gente com mochilas às costas, miúdos e carrinhos de bebés. Autênticas procissões de gente mais nova. À entrada do Museu dos Descobrimentos, há quem esteja curioso com a árvore centenária que ali está. "É uma amoreira" diz uma senhora para a filha, pequenita, que vinda da capital fica a saber de onde vêm as amoras. Também por ali está uma das funcionárias da Empresa Municipal, que gere estas estruturas. Perguntamos: "Anda por aí pessoal das famílias numerosas?" A resposta é: "Há cá muita gente, muitas crianças. Há aí uma família que tem oito filhos. Não sei como é que os sustentam" diz, para logo de seguida dar o seu palpite: "devem ter muito dinheiro". O grupo, extenso, foi dividido em dois. Enquanto uns estão aqui, no Museu que conta a história de Portugal, do Brasil e de Pedro Álvares Cabral, há outros que foram ao Museu do Azeite, ver como era o antigo lagar da vila e como se fazia o precioso líquido. De dentro da infra-estrutura, surge mais uma funcionária que diz: "Já estão na sala da palavra. Estão a acabar a visita" diz aliviada, suspirando com um "uff", pois foi mesmo muita gente para atender.
Nessa tarde, e ao longo de 15 dias, na Serra da Estrela, estiveram nada mais nada menos que 21 famílias. Umas com oito filhos, outras com sete, seis, cinco, enfim…. muita gente. Luís Francisco, o responsável pelo grupo, sai do Museu e conversa com o NC. "Quantas pessoas são, afinal" perguntamos. "Cerca de 150" responde, explicando que, em média, cada uma daquelas famílias tem cinco a seis filhos. Mas "há aí vários casais com oito". Luís Francisco, que vive em Tomar e que sempre participa nestas "Férias Diferentes", tem oito. "Não é difícil ter assim tantos filhos" perguntamos. "Não é fácil, mas é tudo uma questão de gestão e organização dentro da própria família, mas obviamente numa escala diferente" explica.
Sétimo ano consecutivo
As "Férias Diferentes" surgiram há já sete anos, organizadas pela Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) e o Centro de Orientação Familiar (CENOFA). No primeiro ano, o local escolhido foram as Penhas da Saúde. Que ainda hoje são um destino para estas famílias. Depois, juntou-se outro destino para quem queira fazer férias na primeira quinzena de Agosto: as Caldas da Felgueira, em Nelas. "Há aqui famílias que vêm desde sempre" afirma Luís Francisco, que esteve de 16 a 28 de Agosto com a sua extensa família na nossa região. As dormidas foram nos Chalés de Montanha das Penhas e do programa constaram algumas viagens a locais como as Aldeias Históricas. " O balanço é extremamente positivo. Fazemos férias todos juntos, com muitos amigos, e esta é sempre uma opção para quem não quer ir à praia" afirma. Para além das visitas a vários locais da região, foram também promovidas sessões de formação parental e várias actividades ao ar livre para os mais pequenos. Férias apreciadas sobretudo por algumas famílias de Lisboa e Porto, que ao NC realçam o ar saudável que se respira por estas bandas, a paz que se vive, os locais históricos que se visitam e as "banhocas" em rios e lagoas com "paisagens sempre admiráveis". "Há pouco ruído e podemos descansar em família" afirma o senhor Manuel, que veio da zona de Lisboa com os seus quatro filhos. As inscrições para o VIII Verão Diferente, na Serra da Estrela, abrem no site da APFN em Março de 2011. Cada família paga 220 euros de inscrição, mais 75 euros por dia por um T3 com kitchenete e um suplemento por meia pensão de 15 euros por adultos e jovens com mais de 10 anos, 7,5 euros para crianças dos três aos 10. Para crianças com menos de três anos, a refeição é grátis. Os almoços são à parte e assumidos por cada família individualmente.
Trocar de carro ou casa quando nasce mais um filho
Luís Francisco é um dos casos de uma família muito numerosa. Tem oito filhos e confessa que é preciso ter algum dinheiro para se poder ter uma família diferente. "Obriga a que, por exemplo, quando passamos do terceiro para o quarto filho seja preciso trocar de carro. Obriga a que, quando a família cresce ainda mais, se tenha que trocar um apartamento por uma casa maior. Mas recuso a ideia de que é preciso ser rico para se ter muitos filhos. Basta ver os nossos antepassados para contrariar essa ideia. É preciso é uma boa organização e gestão" assegura. Aí, os filhos mais velhos passam também a ter um papel importante. "Eles começam a colaborar nas tarefas da casa e são uma grande ajuda" afirma. Mas poderá um casal pobre ter muitos filhos, perguntamos. "Há pessoas sem grandes recursos que têm mais filhos que o normal. É preciso é, a cada passo, avaliar as possibilidades que existem. É óbvio que muitas destas famílias nunca terão um rendimento per capita baixo" explica. Para realçar que o importante é ter a ideia de que "um filho não é impedimento para uma família. Nunca é".
Com o Mundo e o País a atravessarem uma grande crise, sobretudo em termos económicos, como é que safam as famílias numerosas, perguntamos a Luís Francisco. "A crise, quando toca, toca a todos. As famílias numerosas correm, como é óbvio, mais riscos. Se o pai ou a mãe ficam desempregados, as coisas complicam-se. Mas com boa vontade e organização, arranja-se sempre uma solução para resolver os problemas" salienta.
Sobre a organização das Férias Diferentes, diz que, cada família, por si, trata de tudo. Do alojamento, das refeições e do transporte. "Já experimentámos vir todos num só meio, mas não é fácil. Cada um trás o seu carro e é mais simples assim". Para o ano, conta estar de novo por aqui, até porque esta é, segundo ele, uma experiência de férias, de convívio e amizade muito boa. "Gostei muito do vi. Em Belmonte, que não conhecia, visitamos muita coisa bonita. Os miúdos divertiram-se, na Serra, e não só, pois também houve passeios por diversos locais. Conto voltar" afirma.
(Reportagem completa na edição papel)
Autor
João Alves
Palavras-Chave
Famílias / família / filhos / férias / Agosto / Francisco / numerosas / Luís / muita / diferentes
Entidades
Pedro Álvares Cabral / Luís Francisco / CENOFA / Manuel / Serra
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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