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A comédia e a tragédia em dois actos no Teatro das Beiras

2010-04-21

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Peça exibida até dia 24.

Durante a guerra civil espanhola dois anónimos artistas de variedades são capturados pelas tropas franquistas. Vêem-se então encostados à parede. O preço da sobrevivência passa por actuar para os vencedores da batalha de Belchite, na presença dos prisioneiros republicanos das Brigadas Internacionais, cujo destino é o fuzilamento na manhã seguinte. Até que ponto é possível manter a dignidade numa situação-limite? Paulino e Carmela são postos à prova. E durante dois actos, onde o humor predomina, sem nunca ofuscar o dramatismo que se vive, o público é levado nessa viagem onde o conflito interior gera tensão, onde as relações entre a arte e o poder são exploradas, onde, a rir, se percebem as farpas lançadas às violações dos direitos humanos e as punhaladas à condição humana são postas em evidência.

"Ay, Carmela!" estreou na quinta-feira, 15, com casa lotada. A mais recente produção do Teatro das Beiras, uma encenação de Gil Salgueiro Nave do texto de José Sanchis Sinisterra, está em cena até dia 24, com sessões às 21h30.

Embora se reporte a uma época em concreto, transmite mensagens intemporais. Podemos sempre escolher, mesmo com uma arma apontada há a possibilidade de aceitar ou resistir. Como dizia Manuel Alegre, "há sempre alguém que diz não".

"O maior desafio foi tornar as personagens humanas para um público que pode não conhecer a situação histórica, mas pode reconhecer-se noutras situações", sublinha Sónia Botelho, que consegue dar vida a duas Carmelas distintas. "Estamos perante o dilema de um ser humano que, mesmo não percebendo nada de política, se sente angustiado, injustiçado pelo que se está a fazer a umas pobres almas", realça a actriz, numa alusão ao último espectáculo proporcionado ao grupo de prisioneiros.

"A injustiça que há no mundo existiu na guerra civil espanhola e existe hoje em dia. É uma mensagem actual. Esta história pode ser revista em outras tantas", nota Sónia Botelho, que tal como Fernando Landeira, ambos em papéis exigentes, responderam com muita competência.

Gil Salgueiro Nave utilizou a mestria para conseguir agarrar o público numa peça longa, com uma duração que ultrapassa as duas horas sem que se dê conta que passou esse tempo. As oscilações de humor das personagens, a alternância entre cenas hilariantes com os períodos de tensão, fazem-se naturalmente. "Há muito que queria fazer esta peça, desde que conheci o texto já há uns 16 anos. Estou satisfeito por a poder ter feito com estes actores, esta companhia, nestas circunstâncias, tendo em conta a situação ibérica, a crise, a crise de valores", frisa Gil Salgueiro Nave.



Autor
Ana Ribeiro Rodrigues

Categoria
Secções Cultura

Palavras-Chave
Salgueiro / Nave / Gil / Teatro / Beiras / Carmela / franquistas / Peça / Durante / público

Entidades
Ay / Carmela / Gil Salgueiro Nave / José Sanchis Sinisterra / Manuel Alegre

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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