Um pouco mais de silêncio, mais trabalho e diálogo sério entre os vários actores políticos ajudariam a credibilizar a democracia.
Certamente muitos se recordarão da intervenção do Rei de Espanha quando, numa reunião internacional, mandou calar o inveterado falador presidente da Venezuela que, com comentários inconvenientes, interrompia alguns oradores convidados. Por cá, nestes últimos tempos, a situação está a pedir um comentário semelhante tal o desaforo que vários dirigentes públicos têm assumido.
Nas áreas da justiça os intervenientes de primeiríssimo plano deram um espectáculo mediático confrangedor com entrevistas, cartas, respostas e contra-respostas. O rasto de falta de credibilidade ainda está presente e é preocupante para o comum dos cidadãos que esperam que a justiça seja cega, justa e transparente e jamais venha para a praça pública justificar o injustificável. Afinal a (ir)responsabilidade na justiça parece passear-se pelos corredores dos vários interesses corporativos. Porque dão este triste espectáculo colocando a justiça num perigoso patamar de dúvidas. Mas, porque não se calam?
Na educação, a senhora ministra, com uma entrevista estival, lança mais confusão sobre o "eduqês" deixando entender que chumbos de alunos são coisa para acabar. A confusão entre "novas oportunidades" e "novas facilidades" continua a perturbar a mente de dirigentes que falam de mais e a despropósito. Afinal, porque não se calam?
Os partidos políticos vivem em ambiente de churrasco e cada vez que falam lançam gasolina no braseiro da crise que continua vivinha da costa, a ir ao bolso dos portugueses. O País continua a desbobinar nos média histórias de encantar detalhadamente contadas no faz de conta que acontece. Lemos, escutamos e vemos o inacreditável acontecer e passado uns tempos parece que não aconteceu nada. A mentira e o parece que vale tudo, virou coisa natural e o pior é que tudo passa como normalidade numa conjuntura que se tornou irresponsável. Os incêndios continuam todos os anos e todos os anos a conversa dos responsáveis é a mesma. Não se limparam as matas e os terrenos, os acidentes continuam a acontecer, os meios envolvidos são sempre escassos mas, tudo se esquece de ano para ano. O ministro da Agricultura, numa tirada mágica, fala em expropriar terrenos. Mas, porque não se cala?
No meio desta tragédia dois ilustres democratas interrompem as férias e num espectáculo mediático aparecem, dizem uma série de trivialidades e.. regressam ao bem bom. Mas porque não se calam? Se tivessem feito esta actuação no começo da Primavera, aí sim, poderiam ter actuado a nível de meios e de mobilização de boas vontades locais, ajudando a melhorar uma situação que todos os anos se repete. E quando é que se legisla seriamente para por fim a estes crimes?
Um pouco mais de silêncio, mais trabalho e diálogo sério entre os vários actores políticos ajudariam a credibilizar a democracia. e principalmente os seus dirigentes.
Autor
José Vicente Ferreira
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
calam / justiça / espectáculo / políticos / continua / dirigentes / Rei / Espanha / Venezuela / Afinal
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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