Uma Democracia que prefere viver na mentira, embrulhada em discursos de ocasião e justificação, põe-se a jeito para que lhe faltem ao respeito.
Em recente edição do jornal Expresso podia ler-se na primeira página como grande manchete: "Bruxelas e Cavaco travam auditoria às contas públicas". Lê-se e custa a acreditar. Portugal e a Europa, tudo sugere, aceitam viver na verdade da mentira. Que Europa é esta que concorda com este tipo de negociações?
O País continua numa lógica de aldrabice a esconder aos portugueses a sua real situação financeira e o seu endividamento externo global. Quando se pede sacrifícios atrás de sacrifícios, a um povo cada vez mais pobre, precisa-se de seriedade e confiança nas pessoas que conduzem o futuro do País. Convém ter presente que as pessoas vivem atrapalhadas para se aguentarem na trapalhada que os dirigentes criam, incapazes de se entenderem, mas cheios de iniciativa na agressão verbal. Como foi possível o triste espectáculo apresentado, na sessão de inauguração do ano judicial, pelos mais altos responsáveis da Justiça? Há problemas nesta área que infelizmente todos conhecemos, sentimos e pagamos. Todavia, em vez de procurarem as soluções, trabalhando entre eles como seria normal em democracia, vêem discursar uns contra os outros, apontando sempre a outros a responsabilidade que, de facto e de direito, lhes está atribuída.
A trapalhada é grande e torna-se ainda mais complicada com as entrevistas que estes senhores vão dando queixando-se do funcionamento de sistema e da sua incapacidade para mudar o que está errado. "Rei fraco, faz fraca a forte gente",dizia Camões e tal dito mantém uma preocupante actualidade que urge corrigir. E que dizer das facilidades para autorizar mais despesas por ajuste directo, isto é ,dispensando os salutares concursos públicos? Difícil entender que no meio das dificuldades ainda se arranjem mais trapalhadas que possam permitir abrir portas a mais despesismo e outras perigosas aldrabices.
Perdeu-se o respeito pelos dinheiros públicos e fecham-se os olhos às auditorias das contas públicas? O País ensandeceu? Um "exame de consciência nacional" pode ajudar a abrir os olhos a muita reivindicação impossível. Por isso Senhor Presidente.."Diga à gente, diga à gente como vai este País".Uma Democracia que prefere viver na mentira, embrulhada em discursos de ocasião e justificação, põe-se a jeito para que lhe faltem ao respeito. A senhora Merkel ralha com o nosso Parlamento e calamos. Afinal de soberano já só temos a dívida externa que por sinal é financiada por uns quantos bancos alemães. Quem deve, cala. Estamos mesmo atrapalhados..

Autor
José Vicente Ferreira

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
País / Bruxelas / Expresso / Cavaco / mentira / viver / Democracia / Europa / manchete / aldrabão

Entidades
Cavaco / Camões / Difícil / Senhor Presidente / Merkel

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

partilhe!