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Bispo pede maior responsabilidade social às empresas

2010-03-10

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Em Belmonte, no passado domingo, D.Manuel abordou o tema do desemprego e perguntou para quem vão as mais-valias se as empresas continuam a lucrar o mesmo e têm cada vez menos empregados.

"Se os lucros são os mesmos ou ainda maiores e os trabalhadores são menos, a quem pertencem as mais-valias?". Esta foi uma das perguntas que o Bispo da Diocese da Guarda, D.Manuel da Rocha Felício, deixou no domingo à tarde, em Belmonte, no III Domingo da Quaresma, um dia que também assinalou o Dia Nacional da Cáritas e em que o Bispo abordou temas como a exclusão social e o desemprego.

Elogiando o trabalho da Cáritas, "o instrumento de que a Igreja dispõe para dar cumprimento, de forma organizada, ao mandamento do amor ou da caridade", d.Manuel lembrou a encíclica "Caritas in Veritate", do Papa Bento XVI, em que diz que o verdadeiro desenvolvimento é, de acordo com a encíclica do Papa, missão de toda a Igreja e que "a Cáritas assume, em nome e por vontade da mesma Igreja."

A noção de bem comum é algo, que segundo o Bispo, deve estar na cabeça e coração de cada um, pois é um dever "da comunidade política e das suas instituições de governo, mas também é dever de cada cidadão e dos grupos que estes possam criar com finalidades específicas. A Igreja, por missão, que lhe é própria, sente que tem de acompanhar e ajudar cada pessoa no percurso do seu desenvolvimento que, como lembra o Papa Bento XVI, citando o seu antecessor Papa Paulo VI, deve ser entendido como vocação. Isto significa que o desenvolvimento de cada pessoa é resposta a um apelo transcendente que vem de Deus e só de Deus recebe o seu último significado. Por sua vez o desenvolvimento de cada pessoa nunca se processa à margem do desenvolvimento social; pelo contrário, cada pessoa só se desenvolve verdadeiramente na medida em que se sente a fazer parte e mesmo se sente protagonista do desenvolvimento da sociedade que a enquadra. Por isso, criar espaço para todas as pessoas e cada uma delas nos programas de desenvolvimento de uma sociedade é o que se chama processo de verdadeira integração e portanto a única forma de combater a exclusão social, infelizmente, um dos grandes males que continuam a afligir-nos." D.Manuel recorda que o combate à exclusão social é uma das principais missões da Igreja e que a Cáritas "é o braço da Igreja especialmente empenhado em dar cumprimento a esta missão e a lembrar a toda a comunidade a obrigação de nela colaborar, ainda que de formas variadas."

Um dos fenómenos que tem contribuído para o aumento da exclusão é, segundo D.Manuel, o desemprego, pelo que tem que existir o direito de pedir ao Estado "condições para a criação de empregos para que as pessoas possam exercer o direito ao trabalho. Todos sabemos, porém, que o desemprego é o grande flagelo que atinge actualmente as sociedades mesmo as desenvolvidas com agravamento na crise financeira que vivemos desde há um ano."

Mais-valias para ajudar regiões desfavorecidas

O Bispo da Guarda lembra que em Portugal o desemprego está "todos os dias a bater recordes e na nossa região mantém-se a tendência para os seus números serem mais altos do que a média nacional."Por isso, pergunta como se pode resolver este "gravíssimo problema que afecta todos os portugueses, mas principalmente aqueles que, como nós, habitam as zonas mais desfavorecidas do nosso País?". A resposta, diz, está na responsabilidade social de empresa "defendida pela encíclica do Papa Bento XVI com muitos e bons mestres da ciência económica a acompanhá-lo." Um princípio que parte da convicção de que a gestão de uma empresa não pode ter em conta "unicamente os interesses dos proprietários da mesma, mas deve preocupar-se também com as outras diversas categorias de sujeitos que contribuem para a vida da empresa, incluindo a comunidade de referência, onde ela se situa." D.Manuel pergunta como é que, apesar de certas empresas fecharem e outras diminuírem o número de trabalhadores, os resultados finais da produção "não diminuem. No caso português, o PIB desacelerou no seu crescimento, mas não diminuiu apesar da crise." E pergunta para quem vão as mais-valias produzidas. "É aqui que é preciso aplicar o princípio da responsabilidade social da empresa de que fala a encíclica. Isto é, os lucros das empresas - e por princípio, a empresa deve dar lucros - devem incluir nos seus destinos também a satisfação das grandes necessidades da sociedade em que se enquadram. Há fundos e mais-valias que têm de ser transferidos para dinamizar a criação de empregos onde eles não existem e para irem em auxílio das populações famintas que infelizmente são ainda um grande flagelo da humanidade" propõe D.Manuel. Que diz que não de pode esperar que grandes empresas venham a absorver, na região, muita mão-de-obra, e que o combate ao desemprego poderá passar para capacidade empreendedora de cada pessoa. "Tem razão o Papa quando, nos manda cultivar o empreendedorismo. Por isso temos de pedir às nossas autoridades o cumprimento do dever de justiça que é criar as condições para este empreendedorismo, com a transferência de mais-valias financeiras para regiões carenciadas como a nossa. Aqui se deve incluir também a facilitação do acesso aos fundos comunitários ainda existentes, que em si mesmos se destinam a desfazer assimetrias como acontece na região em que nos encontramos. É escandaloso o facto constatado de que houve fundos que não foram aproveitados e voltaram para trás, para os cofres da Europa, deixando em grande necessidade muitos cidadãos das nossas terras que deles poderiam ter aproveitado. Argumenta-se que não houve projectos atempadamente feitos ou então que o Estado não tinha dinheiro para pagar a parte que lhe correspondia. Se não havia projectos, era da responsabilidade das instituições públicas para isso vocacionadas ajudar as pessoas ou grupos de pessoas a fazerem esses projectos de acordo com as exigências técnicas correspondentes" critica.



Autor
Notícias da Covilhã

Categoria
Secções Religião

Palavras-Chave
Igreja / Bispo / Papa / Cáritas / desenvolvimento / social / domingo / D.Manuel / Belmonte / pessoa

Entidades
D.Manuel / D.Manuel da Rocha Felício / d.Manuel / Papa Bento XVI / Papa

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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