Um banho de realidade prova que o fácil não é opção.
Vivem-se tempos difíceis que pedem discernimento. Salomão pedia sabedoria para poder levar o seu reinado e as suas gentes a bom caminho. Todavia, com a cultura vigente, o efémero e o imediatismo tudo exigem. Parar para pensar é coisa que não interessa e, de instante em instante, queima-se tempo num consumo fácil.
Vamos andando ao sabor de modas e de hábitos sem os questionar e sem analisar os seus impactos no futuro.
Recentemente a universidade católica publicou um documento que recomendava a utilização de "vestuário digno" apelando ao respeito da própria instituição universitária. Vários comentadores criticaram esta atitude de forma cínica. Concordo com este tipo de acções pois permitem fazer compreender que a escola e a universidade são instituições que educam, cultivam o espírito, questionam futuros e preparam para a vida profissional. A experiência de cerca de 30 anos como docente universitário permite-me explicar esta posição. Quando estudei na universidade a "regra" colocava os professores num pedestal distante. Os alunos tinham medo de muitos doutores.
Actualmente vive-se um clima completamente diferente com total liberdade. É aqui que algumas coisas devem ser analisadas pois há limites que devem ser indicados e explicados como verdadeira ferramenta para a vida profissional. De facto, ir para a universidade como se vai para a praia ou para um qualquer pic-nic pode ser visto como exercício de liberdade pessoal mas, também, como falta de senso comum. Recordo que muitas vezes chamei a atenção de alunos finalistas comparando a sua descontracção exagerada com a futura realidade do mundo empresarial. Trabalhei durante alguns anos numa empresa internacional que tinha uma forte cultura empresarial que se impunha por si própria. Aconteceu que, na minha primeira semana de trabalho, me apresentei vestindo camisola de gola alta. O director, a quem reportava, chamou-me e, delicadamente, explicou-me que, por respeito para com os seus clientes, a forma de vestir fazia parte da cultura da empresa. Recomendou-me que olhasse à volta e que me fosse habituando às respectivas regras de conduta. Percebi que me estava a ajudar e a abrir os olhos para uma realidade bem concreta. Recordo que muitas vezes falava sobre estes assuntos e aconselhava os alunos a olharem para o espelho e avaliarem-se a si próprios. Estas conversas informais pretendiam chamar a atenção para situações reais do mundo do trabalho. Lembro-me de um aluno a quem, após um exame, disse que esperava nunca mais o ver com a imagem que apresentava, visível num cabelo comprido e desgrenhado, sandálias de praia e ganga bem suja e rota. Não sei se era moda ou desinteresse mas, com tal "aspecto", disse-lhe que muito dificilmente passaria a portaria de qualquer empresa. Claro que não gostou e com e com total liberdade tentou defender-se. Passado algum tempo encontrei-o, muito diferente, com uma imagem "normal e casual".Cumprimentou-me e com um sorriso maroto deu-me razão. Um amigo, casado com uma japonesa, contou-me que no Japão são bem visíveis na rua, pela forma com andam formalmente vestidos, as pessoas que acabaram os seus cursos e andam à procura de emprego. Acrescentou que passam por sucessivas avaliações em que, além das competências técnicas, são "examinados" na forma como comunicam, como se apresentam e mantêm uma conversa e como se comportam à mesa. Tudo pormenores que são atentamente observados durante o estágio. Claro que o hábito não faz o monge mas pode ajudar se complementar o essencial. O futuro não se constrói com facilidades. Um banho de realidade prova que o fácil não é opção.
Autor
José Vicente Ferreira
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
Vivem-se / fácil / universidade / cultura / realidade / alunos / discernimento / liberdade / difíceis / pedem
Entidades
Salomão / Recomendou-me / universidade católica / Claro / Japão
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