NC encontrou muitos beirões em Fuentes de Onóro a atestarem e a comprarem gás.
Gás a metade do preço, combustível muito mais barato. É assim na Espanha, de onde o ditado diz que não vêm nem bons ventos nem bons casamentos, mas de onde chegam, sem dúvida, preços bem mais atractivos. Pelo menos, no que concerne a este dois produtos energéticos.
O constante aumento dos combustíveis em Portugal está a fazer com que, nas zonas fronteiriças, cada vez mais portugueses optem por dar uma saltada a Espanha para encher o depósito. O IVA é bem mais baixo, de 18 por cento, em vez dos 23 que entraram vigor em Janeiro deste ano, o que se reflecte, claro está, no preço do produto final. Pode o leitor perguntar: valerá a pena fazer, por exemplo, cerca de 80 quilómetros entre a Covilhã e Vilar Formoso, para comprar em Espanha? Se fizer bem as contas, verá que pode compensar, dependendo, claro está, do que comprar por terras vizinhas, pois também há produtos em que a relação qualidade/preço não compensa uma saída do nosso País.
O NC fez o teste e, numa manhã de sexta-feira, arrancou em direcção a Fuentes de Onõro. Quando se chega a Vilar Formoso, a realidade fala por si, em imagens. Alguns postos de combustível desactivados, outros activos mas com avisos de terem alguns combustíveis "fora de serviço". E pouca gente na rua, junto a lojas ou comércios. Passa-se a fronteira e tudo é diferente. Carros em fila para abastecerem, a maioria de matrícula portuguesa, e nas áreas comerciais, muitos veículos. Lusos, claro está. É assim, por exemplo, no supermercado mais frequentado por aquelas bandas, as Galerias Gildo. Salta logo à vista a quantidade de carros que estão nas bombas de gasolina. E os preços…esse não deixam ninguém indiferente. Gasóleo da Galp a 1,18 cêntimos o litro, quando há pouco mais de meia hora, na A23, no posto da mesma marca junto à Guarda estava marcado a 1,34… dá que pensar. E ainda com direito a descontos de quatro cêntimos para quem faz compras nas Galerias Gildo…
Paramos a viatura e, no estacionamento do supermercado, começamos a abordar pessoas que saem de lá, com sacos de compras. Não será difícil falar com portugueses… é só portugueses que de lá saem. A primeira pessoa com quem falamos é Maria Manuela, que reside na Guarda e que garante vir a Fuentes "uma vez por semana. Não é só pelos preços, é também pela qualidade" assegura. O que compensa comprar, perguntamos. "Desde logo abastecer o carro, pois os combustíveis são bem mais baratos e da mesma marca que lá. O gás, que custa metade. E venho também pela carne, que é de qualidade, e também com melhores preços". Perguntamos se já fez contas sobre o que poupa com este atravessar da fronteira. E Maria Manuela tem a resposta na ponta da língua: "entre 15 a 20 euros, de cada vez que cá venho".
"Com esta crise, tem que ser"
Mais ao lado vemos mais uma viatura de matrícula portuguesa, em que duas pessoas, homem e mulher, descarregam as compras. Na mala vai uma botija de gás, para além dos sacos com outros produtos. "De onde é?" perguntamos. É mais uma pessoa da Guarda. É a dona Alexandrina que veio a Fuentes porque a avisaram que o gás de uso doméstico é mais barato. "E é mesmo" confirma, dizendo que pagou pela botija que leva, da Galp, 13,20, quando na sua terra paga cerca de 24 euros. "É claro que compensa cá vir. Dá para levar duas botijas praticamente pelo preço de uma. Se isto continuar assim, venho cá mais vezes" assegura, dizendo também ela que para além do gás e gasóleo para o seu carro, só leva mesmo carne. "No resto da mercearia penso que não compensa, tirando também alguns produtos de limpeza ou detergente para lavar a roupa, que têm uma taxa de IVA mais baixa" afirma. Para se despedir avisando que ainda vai passar pela bomba de gasolina "para atestar". "Já lá vi gasóleo da Galp a 1,31, 1,27 e aqui é a 1,18. Então diga-me lá se não é de aproveitar" pergunta. A catadupa de portugueses que encontramos numa manhã de um dia de semana não pára de aumentar. Encontramos agora um casal, de idade, reformados, que também por ali anda. "Claro que vim de propósito. Comprei algumas coisitas, enchi o depósito, levo uma botija de gás e pronto, está feita" afirma o marido, que prefere não se identificar. "É raro cá vir, mas com esta crise, tem que ser" remata. Ana, outra portuguesa com quem falamos, diz que este é o reflexo "do País que temos. A despesa aumenta, os preços sobem e os ordenados diminuem."
À porta do supermercado, que nos garantem, ao sábado, tem muito movimento "portuga", há o aviso para atrair a clientela do lado de cá da fronteira. "Abertura aos domingos", uma vez em cada mês. Em Março AS Galerias estarão abertas no dia 6, em Abril no dia 3 e em Maio no dia 8. Juanfran, gerente do supermercado, explica que esta é uma opção que procura atingir novos clientes. "Há quem veja o domingo como o dia ideal para passear. Assim, sempre há gente que pode vir até Espanha e ao mesmo tempo junta o útil ao agradável, fazendo umas compras" afirma, confirmando que desde Janeiro tem havido mais portugueses por ali.
(Reportagem completa na edição papel desta semana)
Autor
João Alves
Palavras-Chave
Espanha / gás / Onóro / Fuentes / preços / claro / preço / produtos / portugueses / Galerias
Entidades
Maria Manuela / Fuentes / Alexandrina / Ana / Juanfran
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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