Emigrantes regressam ao estrangeiro, após férias, mas não querem viver em Portugal.
Agosto chega ao fim e com ele terminam também as férias de milhares de portugueses radicados no estrangeiro. Por todo o País, emigrantes preparam-se para o regresso aos países onde trabalham. O distrito de Castelo Branco não foge à regra: Refazem-se malas de viagem, atestam-se as bagageiras dos automóveis, acondicionam-se garrafas de vinho português entre a roupa, encaixam-se à força queijos, enchidos e doces onde parece já não caber mais nada.
"Os carros vão cheios como um ovo porque hoje, devido à abertura de fronteiras na Europa, já não há o controlo alfandegário que existia até aos anos 90", explica José Borrego, que há 40 anos faz todos os verões o percurso entre o Fundão e Nimes, em França, e ainda se lembra de quando tinha que descarregar tudo o que levava primeiro na fronteira espanhola e, depois, na francesa.
Ao fim de tantos verões de vindas e idas, este emigrante de 59 anos, já se habituou a lidar com a parte emocional, mas assegura que a principal bagagem que leva no regresso a França "é a tristeza.. vou carregado dela, como de vinho e chouriços".
Deixar família e amigos para trás continua a ser difícil, mesmo quando, no país onde se trabalha a vida até corra bem. "O coração aperta e sinto um nó no estômago que custa a desatar", descreve Carla Pires, de 29 anos. Oriunda de uma família grande e unida, esta emigrante na Suíça, há seis anos, confessa que ainda não consegue lidar com as despedidas sem sentir saudades antecipadamente.
Na última noite antes do regresso a Genéve, Carla juntou a família quase toda, na qual se incluem outros emigrantes espalhados pela Europa, e foram à Festa da Senhora do Rosário, na freguesia de Quintãs: "É mesmo para queimar os últimos cartuchos e levar connosco uma última recordação daquilo que gostamos em Portugal, que é a festa, a música popular e conviver com os amigos".
O primo, Rui Jorge, de 36 anos, emigrado há quatro em Bordéus, ainda fica mais uma semana, mas veio para se despedir da familiar. "Já estou com saudades e ela ainda aqui está", afirma com os olhos embargados. "Só temos oportunidade de nos vermos três a quatro semanas uma vez por ano, porque nem sempre as férias coincidem, e por isso o momento da despedida é sempre muito triste", esclarece enquanto confessa que, de cada vez que ele próprio se mete à estrada para regressar a França "as lágrimas vêm ao canto do olho".
Também Pedro Robalo, de 33 anos, há três a viver em Lyon, admite que "a partida é o pior momento das férias". "Passamos o ano inteiro à espera de Agosto e, depois de cá estarmos, ele passa em dois minutos", lamenta.
A família Rodrigues, porém, é mais pragmática: "Desde que se aproveite bem o tempo que cá se passa, consegue-se recarregar baterias para o resto do ano", afirma Paulo, o pai, que em conjunto com a esposa Noémia e os filhos Tiago e Diogo, fazem compras de última hora no mercado do Fundão. Emigrado em França, este técnico de vendas de 47 anos, regressa a Le Mans em poucos dias, mas assegura que não leva tristeza, "apenas boas recordações para nos aquecer até ao próximo ano".
(Reportagem completa na edição papel)
Autor
Alexandre Salgueiro
Palavras-Chave
estrangeiro / França / Emigrantes / família / férias / regresso / Portugal / Europa / viver / emigrante
Entidades
José Borrego / Carla Pires / Genéve / Carla / Rui Jorge
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original
Já começaram a chegar e até ao final de Agosto dão uma agitação diferente a muitas aldeias. Os filho...
As carências são muitas, algumas vividas por pessoas que até há pouco tempo viviam uma vida desafoga...