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Beira Interior a morrer

2011-07-06

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Perdeu 31 mil pessoas em 10 anos.

Em contra ciclo. Se nos últimos 10 anos, Portugal ganhou alguma população, atingindo agora os 10 milhões 555 mil 853 indivíduos, um acréscimo de cerca de dois por cento na última década, pela Região Centro, e sobretudos nas zonas mais interiores, é o êxodo. É a desertificação. Há cada vez menos gente. Está-se a morrer… aos bocadinhos. Pelo menos, é o que dizem os resultados preliminares dos Censos 2011, divulgados oficialmente na quinta-feira, 30 de Junho, que mostram que a Beira Interior, desde 2001, perdeu tanta gente que até dava para povoarem uma cidade de média dimensão. Desapareceram da região mais de 31 mil pessoas. Parece que o Interior está a morrer. Sobrevive quase como um doente que está ligado à máquina.
A população residente na Região Centro é agora de dois milhões 327 mil e 26 indivíduos. Nove das doze Nuts III da Região Centro viram descer o número de residentes, com a redução mais significativa a dar-se na Serra da Estrela (menos 12 por cento), Beira Interior Norte e Pinhal Interior Sul (menos 10 e 9 por cento, respectivamente). Números que segundo o Instituto Nacional de Estatística mostram um "acentuar da tendência de desertificação das áreas do Interior". Em comparação com 2001, apresentam saldo negativo as NUTS da Beira Interior Norte (concelhos de Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhal, Sabugal e Trancoso), Beira Interior Sul (menos 4,18 por cento- Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de Ródão) e Cova da Beira ( menos 6,23 por cento- Belmonte, Covilhã e Fundão).
Por concelhos, os números revelados na passada semana mostram que o concelho de Castelo Branco aumentou o seu número de habitantes em cerca de 300, em 10 anos, enquanto que o concelho da Covilhã baixou em 4,8 por cento o seu número de residentes e, no Fundão, a quebra foi de 7,32 por cento. Em Belmonte houve um decréscimo de 787 habitantes, Idanha-a-Nova viu reduzido o seu número em quase duas mil pessoas enquanto que Penamacor baixou de 6658 residentes para 5652.
No Pinhal, Oleiros desceu de 6677 habitantes para 5702. Proença-a-Nova tem agora menos 1347 habitantes (a população é de 8263 habitantes) e na Sertã a quebra foi menor: de 16 mil 720 pessoas passou para 15 mil 927. Em Vila Velha de Ródão também se registou um decréscimo populacional (de 4098 em 2001 passou para 3579 pessoas).
Irene Barata diz que crescimento de Vila de Rei é consequência do trabalho
Vila de Rei acabou por ser uma excepção no distrito, tal como Castelo Branco. Em Vila de Rei, os 3.354 habitantes registados há 10 anos deram lugar a 3.449 pessoas. Para a autarca local, Irene Barata, os resultados são a consequência "de um incessante empenho e trabalho do executivo camarário" e uma "motivação" para continuar com políticas em prol do concelho, nomeadamente no que toca aos apoios à natalidade, casamento e habitação social. Irene Barata confessa que "não esperava muito" por este resultado, apesar de um "esforço muito grande da autarquia, ao longo destes últimos anos". Exemplo deste esforço para contrariar a desertificação foi a política de fixar imigrantes brasileiros no concelho feita em 2006 que acabou por não ter o sucesso esperado, já que só um casal permanecer no concelho. Apesar das medidas, como um apoio financeiro à natalidade, "as pessoas não são peças e fixá-las no território é extremamente difícil". Irene Barata acredita que a população cresceu graças à criação de emprego. A nova unidade de cuidados continuados da Santa Casa da Misericórdia "criou 54 empregos, dos quais 17 enfermeiros, entre outro pessoal especializado", destaca. Por outro lado, a rede de lares da terceira idade deu emprego nos últimos anos "a mais de 300 mulheres que de outra forma teriam que ir com a família para outros concelhos". Irene Barata realça que Vila de Rei "oferece diversas condições que não existem em Lisboa nem noutros centros", como creche e jardins-de-infância gratuitos, oficinas de reparação grátis para trabalhos domésticos e descontos para todas as faixas etárias noutras actividades sociais. A qualidade ambiental do concelho é "outra vantagem decisiva", conclui. Já no entender do investigador em Desenvolvimento Regional e subdirector da Escola Superior de Educação de Castelo Branco (ESECB), Domingos Santos, este resultado deste município poderá "estar relacionado, para além dos incentivos à natalidade promovidos pela autarquia, com existência de vários lares de idosos naquele concelho".
Crise do sector têxtil afecta Covilhã e Fundão
Segundo este especialista, as alterações do número de habitantes em Castelo Branco, Fundão e Covilhã, como mostram os dados preliminares do Censos 2011, está relacionada com crise do sector têxtil. Em declarações à Lusa, Domingos Santos indica duas justificações para estas tendências: intervenção autárquica e a crise do sector têxtil. "Em Castelo Branco houve uma forte intervenção autárquica que permitiu a captação de novos investimentos, como os call centers e outras empresas, os quais empregam mais de mil pessoas", explica. Aquele doutorado em Gestão do Território acrescenta que "o tecido produtivo de Castelo Branco é diversificado, com os sectores automóvel e do frio a empregarem mais de um milhar de pessoas". "Na Covilhã e no Fundão, por seu lado, o sector têxtil foi predominante e, nesta última década, perderam-se cerca de quatro mil postos de trabalho", afirma. A diminuição do número de habitantes nos restantes concelhos do distrito de Castelo Branco era, no entender de Domingos Santos, natural: "Esses concelhos ao não conseguirem captar e fixar pessoas, ficaram reféns da dinâmica demográfica natural, pois têm mais óbitos que nascimentos". O subdirector da ESE considera que são necessárias medidas de discriminação positivas para o Interior do País. "Elas vão ser necessárias, para se tentar inverter esta tendência, pois mesmo os concelhos que aumentaram o seu número de habitantes, tiveram um menor crescimento que nos últimos Censos", conclui.
"Modelo de desenvolvimento da Covilhã falhou"
Vítor Pereira, vereador da oposição socialista na autarquia covilhanense, no final da última reunião privada do executivo, na passada sexta-feira, 1 de Julho, demonstrou muita preocupação pelos resultados alcançados pelo concelho. "Andámos, nestes 10 anos, em contra ciclo em relação aquilo que aconteceu em Castelo Branco. E na Guarda, apesar de haver alguma perda, não é tão acentuada como aqui. Isto quer dizer que o modelo de desenvolvimento da Covilhã não funcionou. É preciso repensá-lo. É preciso criar mais emprego, mais empresas e fixar pessoas" diz. O autarca diz que a culpa "é de todos" mas tem "acento tónico" na presidência da Câmara liderada por Carlos Pinto, "a mesma há quase 20 anos".

(Peça completa na edição papel)



Autor
João Alves

Categoria
Secções Centrais

Palavras-Chave
Castelo / Interior / Branco / Beira / pessoas / Covilhã / habitantes / Vila / concelho / Barata

Entidades
Irene Barata / Domingos Santos / Vítor Pereira / Carlos Pinto / Instituto Nacional de Estatística

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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