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O último latoeiro da Covilhã

2012-01-11

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Junto ao cotovelo da Rua Combatentes da Grande Guerra um anacronismo chama a atenção. Numa zona onde as lojas foram fechando, o estabelecimento do latoeiro da Covilhã continua de portas abertas, com cântaros, funis, braseiras e panelas à entrada. No interior uma profusão de utensílios com a marca de outros tempos acomodam-se nas prateleiras de zinco e madeira ao lado de peças mais modernas. O torno, a bigorna, a fieira de moldar e a barra de cravação continuam dentro do estabelecimento, mas deixaram de ser solicitados como noutros tempos.
Com o tecto e o soalho, remendado a chapa de zinco, em madeira, a loja não sofreu alterações ao longo dos 50 anos em que Manuel Fonseca toma conta do negócio. "A loja foi sempre assim, nunca mudou", conta o latoeiro de 84 anos, que continua a passar ali os dias. "Com a renda que lhe dou, o senhorio não pode fazer obras, e eu também não ganho para as fazer", comenta.
Manuel Fonseca diz que se dedicou a uma profissão que não permitia enriquecer, mas que dava para viver sem preocupações trabalhando das oito à meia-noite, o seu horário habitual. "A nossa arte não era de dar muito dinheiro, mas a poder de muita hora arranjava-se". Fazia caleiros, regadores, cântaros, todo o tipo de peças para a lavoura.
"Antes, por exemplo, toda a gente tinha um cântaro para ir buscar água, porque as pessoas não tinham água em casa", recorda. A agricultura era também uma das principais fontes de subsistência. Os campos começaram a deixar de ser cultivados e isso reflectiu-se no negócio. "Começaram a pagar para não semear as terras e a agricultura parou. Agora está de rastos", analisa o latoeiro.

Coisas que não há "em mais lado nenhum"

Enquanto comerciante, já anteriormente teve de se adaptar, há cerca de 30 anos, quando o plástico apareceu e proliferou. "Quando as latas começaram a baixar as vendas, comecei a vender outras coisas para safar a féria. Comecei a meter uns cobres, uns alumínios", lembra Manuel Fonseca, que também vendia em feiras. Hoje olha para as lojas devolutas em redor, para as circunstâncias e parece-lhe não haver volta a dar. "O negócio morreu. E se fosse viver do que fazia antes, morria à fome", diz. Os mais de 50 caldeiros que vendia anualmente resumem-se agora a um ou dois. Passou a vender trens de cozinha e outras utilidades e a loja vai tendo movimento, só que longe da procura de outrora. O único motivo para resistir são os dois filhos que Manuel emprega.
Adaptou-se. Passou a ter menos material em armazém e apregoa margens reduzidas, para poder ser competitivo. Muitas vezes, garante o último latoeiro da Covilhã, sentado à braseira que aquece a loja nos dias mais frios, não factura para pagar os vencimentos dos filhos.
Abel, de 55 anos, trabalhava nos Serviços Municipalizados em tarefas pesadas que o pai não gostava de o ver executar, por isso preferiu tê-lo a ajudar no negócio. "Não pensámos que chegaríamos a este ponto", frisa, depois de acabar de vender uma forma para bolos a uma cliente. "Já não é como antigamente", observa. Ainda assim, é notória a procura diária do latoeiro da Covilhã. "Aqui encontram coisas que não se encontram em mais lado nenhum", sublinha. O mata-frangos é um desses artigos, mas também as braseiras, os respectivos estrados ou vários tipos de cântaros, vendidos maioritariamente a pessoas mais velhas.
(Reportagem completa na edição papel)



Autor
Ana Ribeiro Rodrigues

Categoria
Secções Centrais

Palavras-Chave
latoeiro / Junto / Rua / Combatentes / Guerra / Covilhã / Manuel / loja / Fonseca / negócio

Entidades
Manuel Fonseca / Manuel / Abel / Rua Combatentes da Grande Guerra / Covilhã

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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