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Os fios que o tempo tornou dispensáveis

2013-01-16

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Os novelos e meadas de lã são vendidos há 44 anos ao balcão da loja Tricots Brancal, agora sem a procura de outros tempos. Mas o encerramento do estabelecimento pode estar iminente.

Sem o fulgor de outros tempos, a intenção de António Brancal é continuar com a loja Tricots Brancal de portas abertas, em instalações marcadas pela erosão dos anos. A não ser que as exigências das Finanças para este ano o obrigue a encerrar a actividade iniciada há 44 anos, era então um jovem ainda com o serviço militar por cumprir. A expectativa do empresário é que exista tolerância para com o pequeno comércio, mas caso lhe imponham a aquisição do equipamento para a factura electrónica, o fecho do estabelecimento está iminente.

"Se as exigências continuam, eu mando-os brunir de amarelo. Já não estou para modernices", diz António, actualmente com 66 anos e ao balcão para se "entreter". "Se me obrigarem a isso, fecho. Não estou para investir, atendendo à idade e aos negócios", vinca, aborrecido com as exigências crescentes, que considera incomportáveis para o pequeno comércio.

Hoje o movimento anda a par do poder de compra e há alguns anos da popularidade crescente do pronto-a-vestir. Hoje as velhas prateleiras, com pó nas mais cimeiras, albergam apenas o que António tem a certeza que se vende. Já lá vai o tempo de todo o tipo de novelos à espera de gostos mais alternativos. O que agora compra, receoso de um provável fim da actividade, é apenas "o indispensável".

Ao nível dos olhos estão novelos de várias cores e qualidades. Mas o resto do espaço encontra-se com grandes clareiras, a contrastar com a abundância de outros tempos, em que havia quatro pessoas ao balcão, dois viajantes pelo País, 20 tricotadeiras numa sala interior e 70 ou 80 encomendas diárias. "Quando chegávamos aos correios para expedir, as meninas ficavam logo atrapalhadas, já tinham ali para umas horas", recorda António Brancal.

Mais novos "não ligam" ao tricô

Na altura era um negócio "muito rentável", que permitiu ao proprietário fazer outros investimentos. "As malhas foram um negócio formidável durante uns anos. Pouco a pouco, foi abrandando", até restar o próprio numa loja em que o espaço permite uma espécie de regresso ao passado. Subidas as escadas de madeira na Rua Conselheiro António Santos, nas imediações do Mercado Municipal, o aspecto é o de outrora. Nada de brilhos, de apontamentos modernos. A balança branca é a de sempre. A registadora funciona à força da manivela e do caderno de facturas espreita o papel químico. No tecto de madeira, a tinta descasca-se em lascas e ao fundo do balcão corrido, junto à janela, uma máquina lembra os tempos em que as meadas eram ali passadas para novelos.

O que mudou? Antes rara era a moça que não aprendia a tricotar. Na Covilhã, tal como no País, à mão ou à máquina, perdia-se a conta às tricotadeiras. Faziam-se de vestidos a casacos compridos ou camisolas. Mas as peças acabadas, em lojas, feiras e mercados, a preços mais em conta, foram ganhando adeptos. Hoje, repara António, "os mais novos não ligam a isso, não se habituaram" a pegar nas agulhas.

(Reportagem completa na edição impressa do NC).



Autor
Ana Ribeiro Rodrigues

Categoria
Secções Centrais

Palavras-Chave
Brancal / António / Tricots / tempos / balcão / novelos / exigências / loja / fios / tornou

Entidades
António Brancal / Tricots Brancal / António / Tricots Brancal / NC

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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