Várias gerações aprenderam a ler na colectividade, onde outros viram pela primeira vez televisão e que era ponto de encontro dos operários das redondezas.
Não foi ali que aprendeu a ler e a escrever, como aconteceu com gerações de covilhanenses, mas era no Grupo de Educação e Recreio Campos Melo que José de Sousa, 68 anos e sócio da colectividade há 53, tinha oportunidade de ver televisão, numa altura em que o aparelho existia em muito poucas casas. "Comecei a vir ver para cá televisão, pagava cinco tostões", lembra.
Tal como José de Sousa, muita gente acorria à Sala da Televisão da agremiação, agora convertida em museu, sobretudo aos fins-de-semana. E era também aí que se assistiam "a filmes do Zorro, da Amália e do Vasco Santana". Apesar da distância no tempo, essa é uma das memórias que o sócio 101 tem mais presente da vida da colectividade, agora com instalações renovadas.
No bar, durante a semana, as mesas são ocupadas pelos entusiastas da sueca. José Armando é um deles. Nasceu e foi criado no Bairro Municipal. Até aos 32 anos, altura em que partiu para França, o Campos Melo era ponto de encontro, como voltou a ser depois do regresso. Os "grandes bailes", as "grandes festas" são destacadas pelo septuagenário. "Quando havia esses bailes vinha gente de todo o lado para aqui", realça o covilhanense, que fala nos "namoros que se arranjaram" nessas ocasiões.
Florentino Mendes, 70 anos, menos um que o GER Campos Melo, recorda os tempos em que na Covilhã havia uma fábrica "porta sim, porta sim" e em que a maioria dos operários da zona era ali que passavam os tempos livres e conviviam.
Chegou aos três mil sócios
Quando começou a namorar a mulher, há 41 anos, tantos quantos tem de sócio, Carlos Rodrigues passou a frequentar o grupo, até hoje. Pelas duas salas onde até 2001 funcionou a escola passava muita gente. Tal como acontecia nas muitas actividades. Da música ao teatro, do desporto às longas noites de preparação das marchas populares. "Eram quase todos operários de fábricas. Saíamos do trabalho e o nosso convívio era aqui", salienta Carlos Rodrigues, que também menciona a biblioteca onde alguns aproveitavam para ter contacto com os livros. Ao longo de sete décadas a colectividade, uma das mais antigas da cidade, "teve altos e baixos". "Chegámos a ter mais de três mil sócios", vinca. Actualmente são 800 os associados e os presentes no bar consideram estar-se a viver um período positivo, embora sem paralelo com o que acontecia noutros tempos.
Hugo Cesário não guarda na retina essas épocas mais longínquas mas, com apenas 19 anos, tem uma relação longa com a agremiação. "Sou sócio desde que nasci", informa, com orgulho. Fez nas instalações do Campos Melo parte do ensino básico e sempre se lembra de frequentar o grupo, onde actualmente integra o elenco que está a recriar a primeira peça de teatro encenada na colectividade, para estrear até ao final do ano. "Uma sócia não sabia ler nem escrever e fez a peça", sublinha, mostrando que, apesar da idade, é conhecedor da história do GER.
À volta, a maioria dos sócios presentes são já seniores, mas Hugo Cesário garante que entra ali gente de todas as idades.
(Texto completo na edição impressa).
Autor
Ana Ribeiro Rodrigues
Palavras-Chave
Campos / Melo / televisão / gerações / Várias / Educação / Recreio / Sousa / José / colectividade
Entidades
José de Sousa / Amália / José Armando / Florentino Mendes / Carlos Rodrigues
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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