NEWSLETTER MEDIA
O Arquivo Web do Notícias da Covilhã. Explore o passado deste jornal centenário
O Arquivo Web do Notícias da Covilhã. Explore o passado deste jornal centenário O Arquivo Web do Notícias da Covilhã.
Explore o passado deste jornal centenário

Gabriel Morais de Sousa: o músico vanguardista do Tortosendo

2012-02-01

00:00    00:00

Morreu aos 28 anos, mas deixou obra.

Se havia um piano por perto, ele estava ao pé dele. Foi sempre assim, até desaparecer prematuramente, aos 28 anos. Nas reuniões de família ou entre amigos, mostrava os seus dotes enquanto músico e a esposa lembra que adorava improvisar, daí muita da obra não ter ficado registada.

Gabriel Morais de Sousa, natural do Tortosendo, é visto pelos seus pares como um dos mais proeminentes compositores da primeira metade do século XX. Destacava-se pela singularidade do seu trabalho, inovador para o que se fazia na época, de difícil execução. Segundo Campos Costa, delegado na Covilhã da Juventude Musical Portuguesa, são ainda hoje composições muito modernas. Mas as partituras estavam dispersas, silenciadas. Só recentemente foram criadas condições para resgatar a obra de Gabriel Morais de Sousa do esquecimento.

Foi na década de 70 que uma das composições foi parar às mãos de Manuel Campos Costa, através de uma familiar, sua aluna. A partitura surpreendeu o maestro, que se mostrou desde logo interessado em conhecer a restante obra, só que a tarefa não se afigurou fácil, por não existirem cópias e dada a dispersão dos originais. Contactar a família, pesquisar e reunir todas as composições revelou-se um processo moroso. Ao longo de anos, Campos Costa foi, pacientemente, reavivando nota a nota, as partituras já pouco perceptíveis. Concluído esse trabalho minucioso enviou as composições para escolas de música e compositores amigos, com o intuito de que despertasse o interesse de alguém.

Foi o que aconteceu com o pianista e professor Filipe Pires, que ao perceber o interesse do trabalho de Gabriel Morais de Sousa o sugeriu como tema de tese de mestrado à aluna Joana Moreira. Actualmente a obra encontra-se compilada e analisada no trabalho académico onde é recomendado que comece a ser integrada em programas de recital, interpretada e divulgada.

Música "muito avançada"
Com as partituras na mão, Campos Costa mostra-se surpreendido com o vanguardismo de Gabriel Morais de Sousa. O maestro observa a escassez de compassos, o que torna as composições apenas acessíveis "a pianistas muito bem preparados". "A música dele é para pianistas de elevado mérito, não para principiantes. Exige conhecimentos muito apurados, não é para qualquer um", salienta Campos Costa.

Para Filipe Pires, se Gabriel "não tivesse falecido tão cedo, viria a ser um dos músicos mais proeminentes do século XX".

"Naquele tempo a música que se divulgava e ensinava não era nada parecido com isto. Era música já muito avançada", observa Campos Costa. "A concepção musical é completamente diferente do tempo em que vivia. Era um tipo de composição que não seguia as regras do romantismo e do pós-romantismo", acrescenta o maestro covilhanense.

Obra mereceu elogios de Freitas Branco
João de Freitas Branco, numa análise ao trabalho do compositor, diz que "tudo, em Gabriel Morais de Sousa, nos prometia uma contribuição importante para a revitalização e o desenvolvimento da cultura musical portuguesa". O musicólogo sublinha o "traço de independência", a "individualidade própria" do músico covilhanense, que não se deixava influenciar pelo gosto vigente e frisa que o pianista "não teve tempo de revelar todas as suas potencialidades". Ainda assim, sublinha que o que produziu demonstrou que o seu trabalho "nunca conseguiria cair no medíocre, no rotineiro, no anti-artístico".

Com um estilo de composição inovador e único, Gabriel Morais de Sousa captava a atenção de quem tinha oportunidade de o ouvir.

Joana Moreira, autora da tese "Gabriel Morais de Sousa – Vida e Obra", acentua que as suas composições tinham "um espírito inovador, de técnicas modernas, como o dodecafonismo que, naquela época, ainda não tinha chegado ao mundo musical português". A sua música, sublinha a pianista, que já incluiu as obras de Gabriel Morais de Sousa em recitais seus e quer agora gravar o que ficou registado do seu génio, acrescenta que se tratam de composições marcadas "pela atonalidade e experiências rítmicas".



Autor
Ana Ribeiro Rodrigues

Categoria
Secções Centrais

Palavras-Chave
Morais / Gabriel / Sousa / Campos / Costa / composições / Morreu / música / Tortosendo / Musical

Entidades
Gabriel Morais de Sousa / Campos Costa / Manuel Campos Costa / Filipe Pires / Joana Moreira

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

partilhe!

veja também

Marmelo e Silva é nome de rua

No Paul, onde surgirá em 2011 um Centro de Estudos sobre a obra do autor...

Um dos únicos músicos a tocar o violoncelo do Rei D.Luís

Bruno Borralhinho, músico covilhanense, em entrevista ao NC...

VOLTAR À PÁGINA INICIAL