Chega de grupos de trabalho porque todos eles acabaram a dar "palpites" e a arranjar confusões.
Somos um País de "artistas". Nunca tantos tiveram tanto palco. O "pó de palco" está a entupir o cérebro da nossa classe dirigente. É um espectáculo de loucura ver como estes artistas se consomem na comunicação social arranjando uma enorme confusão na sociedade.
A moda dos estudos e dos grupos de sábios regressou em força. Estudos sempre se fizeram no silêncio avisado de quem procura encontrar as melhores soluções. Recentemente o Governo entrou numa fase tecnocrática e vai de nomear grupos de trabalho para várias situações. O espanto acontece quando estes senhores, em vez de apresentarem as respectivas conclusões, a quem de direito, vêm para a praça pública dar conferências de imprensa onde apresentam e discutem as conclusões ou propostas apresentadas.
Os governantes embarcaram neste esquema e a confusão instala-se pois não se consegue distinguir o que são decisões de governantes ou declarações de grupos de trabalho. Recordo o grupo que estudou o problema de internacionalização da economia portuguesa e as várias hipóteses de trabalho. O espectáculo nos media foi o máximo. Foram mesmo "contas à vida" com a inerente promoção de um artista que não se poupou ao pó de palco. O Governo andou a reboque e a remoques das circunstâncias.
Apareceu depois outro grupo de trabalho para estudar a RTP. Foi um delírio de conclusões logo apresentadas na praça dos interesses. A confusão não podia ser maior. Mandaria o bom senso fazer o trabalho de casa, apresentá-lo ao ministro respectivo e ficar caladinho.
Mas a série de enganos continua agora na área da saúde e outros sábios produziram o tal estudo que foi publicamente apresentado. As discussões não param e os esclarecimentos sobre falsas interpretações aí estão a provar que, é preciso trabalhar no silêncio dos gabinetes. Conclusões não são, de forma alguma, decisões políticas.
Na área dos transportes outro grupo de trabalho apresentou as suas propostas ao ministro respectivo. Confesso a minha estupefacção ao ver o próprio ministro apresentar o estudo e entrar em discussão com alguns dos intervenientes interessados. Ministro não apresenta estudos e se quer discutir com alguém fá-lo tendo por norma a discrição que estes assuntos requerem. Governantes apresentam decisões e assumem as consequências dos respectivos actos. Estudos servem exactamente para ajudarem a tomar as melhores decisões e nunca para espectáculo na praça pública. Chega de grupos de trabalho porque todos eles acabaram a dar "palpites" e a arranjar confusões. Permitam-me perguntar se estes estudos não poderiam ser realizados pelos técnicos existentes nas estruturas da administração pública como trabalho interno, no silêncio dos gabinetes e sem propaganda? Não conhecerão estes técnicos o que de melhor se faz noutros países?
A moda estende-se ainda às conferências de imprensa "troikeiras" e a manifestos apressados que entram e saltam rapidamente do palco mediático. Todos despejam nos media os seus interesses de ocasião. Chega de circo mediático. O povo precisa de tranquilidade, paz de espírito e confiança nos dirigentes. O País não está à beira do abismo, caiu nele!
Autor
José Vicente Ferreira
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
estudos / palco / ministro / conclusões / decisões / Chega / confusão / praça / espectáculo / silêncio
Entidades
RTP / País / Governo
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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Um pouco mais de silêncio, mais trabalho e diálogo sério entre os vários actores políticos ajudariam...
Portugal pôs-se a jeito e infelizmente houve quem descobrisse tarde de mais o gosto pela filosofia...