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Os génios da TDT

2012-12-05

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Mais uma bela ilustração da capacidade portuguesa de transformar uma boa ideia num falhanço.

Com alguma frequência, os portugueses revelam duas qualidades deprimentes: transformar uma boa ideia num falhanço; complicar aquilo que parecia fácil.
Vem este introito a propósito do recente processo de introdução da Televisão Digital Terrestre (TDT) em Portugal.
Quando há alguns anos se começou a falar da TDT, dizia-se que ela iria trazer, aos lares portugueses, não só uma grande melhoria em termos de qualidade da imagem mas também um aumento do número de canais acessíveis – e tudo isso de forma gratuita ou a um preço mais ou menos simbólico. O resultado está à vista.
Para não falar em temos genéricos, escolho aqui um caso concreto: o do senhor José e da senhora Ana. O senhor José e a senhora Ana são dois idosos, de cerca de 85 anos, que moram numa aldeia do Concelho da Covilhã situada nas margens do Zêzere. Até à introdução da TDT, viam perfeitamente os quatro canais nos dois aparelhos que possuíam em casa, um na cozinha, outro na sala-de-estar. E, se é verdade que grande parte da vida do senhor José e da senhora Ana foi passada arredados da televisão, agora já dificilmente passariam sem ela. Acabado o trabalho duro no campo, abalados os filhos para outras paragens, mortos muitos dos amigos, a televisão é, em muitos dias, a companhia que resta – e uma janela para o resto do mundo. Mais fácil seria, por vezes, passar sem comer do que sem televisão…
O senhor José e a senhora Ana não podiam, portanto, deixar de "aderir" (forçados) à TDT.
Cento e cinquenta euros depois – gastos em caixas, antenas e trabalho de instalação – qual é a situação? Em matéria de canais, apenas os quatro da velha televisão analógica, nem mais um. Quanto à qualidade da imagem ela é, de facto, superior – mas tão superior que, sempre que as condições meteorológicas são mais adversas (chuva, por exemplo), ela pura e simplesmente desaparece… E isso não se passa apenas na casa do senhor José e da senhora Ana – passa-se em toda a aldeia.
Infelizmente, o exemplo do senhor José e da senhora Ana multiplicou-se por esse país fora – e chegou mesmo ao extremo de povoações inteiras deixarem de ter acesso à televisão.
A coisa atingiu tais foros de escândalo que um investigador de uma universidade portuguesa defendeu, na sua tese de doutoramento, haver " fortes indícios de corrupção" no processo. E, segundo noticiava o Público de 20 de Novembro, a própria Comissão Europeia estará já a averiguar este caso.
Mesmo que não haja aqui corrupção – e, como se diz na linguagem jurídica, até prova em contrário todos são inocentes -, temos de confessar que há, no mínimo, uma grande trapalhada. Ou, voltando ao princípio deste texto: mais uma bela ilustração da capacidade portuguesa de transformar uma boa ideia num falhanço e de complicar aquilo que é fácil - e que o foi noutros países.



Autor
Paulo Serra

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
José / TDT / Ana / senhor / senhora / Televisão / ideia / transformar / canais / falhanço

Entidades
José / Ana / Acabado / senhora Ana / Televisão Digital Terrestre

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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