Há quem apoie novas eleições para a Junta, a 13 de Julho, e quem não concorde.
"Olhe, se não consegue que ninguém lhe diga o nome, eu digo. Sem medo". Bem-disposta, e conversadora, Maria Adélia, 54 anos, é a única que, abordada sobre o tema das novas eleições na Junta de Freguesia da Boidobra, aceita dar a cara para falar do tema. De resto, as pessoas, quando abordadas pelo NC, falam, mas quando se lhe pede uma identificação, aí, "a porca torce o rabo". Há quem diga que o tempo da censura está de volta….
Na Boidobra, desde Outubro do ano passado que o executivo da Junta está apenas em gestão corrente. As várias forças partidárias não se entendem e na passada semana, a Secretaria de Estado da Administração Local decidiu marcar para dia 13 de Julho a realização de eleições intercalares para a Assembleia de Freguesia da Boidobra, de acordo com despacho publicado em Diário da República. As eleições intercalares surgem depois de vários desentendimentos verificados após as eleições e que levaram todos os elementos da oposição para a Junta de Freguesia da Boidobra a renunciarem ao mandato. A decisão foi justificada pelos mesmos com alegadas "ilegalidades e irregularidades", que terão sido cometidas na votação para a eleição dos vogais da Assembleia de Freguesia. Até às eleições, e de acordo com informação prestada pela Câmara Municipal da Covilhã, que tem acompanhado o processo, aquela freguesia será gerida por uma comissão administrativa que, por aplicação do método de Hondt, terá dois elementos da CDU e um do PS.
Nas ruas da localidade, tudo corre normalmente. Quando se fala de novas eleições, as opiniões dividem-se e encontram-se facilmente apoiantes do actual presidente da Junta, João Simão, mas também de outros concorrentes ao último acto eleitoral. Dar a cara é que é mais difícil. Mas Maria Adélia não teme. "Eu já aqui vivo há uns anitos" ironiza, quem já há décadas reside na Boidobra. "Antes, não ia a nada. Agora, vou a tudo. Assembleias de freguesia, do rancho, enfim, de tudo. Gosto de saber o que se passa" assegura. Maria apoia a realização de um novo acto eleitoral. "Eu acho que sim. Se não resultou à primeira, irá resultar à segunda. Senão, que seja à terceira, se for preciso" afirma. Esta popular diz que irá votar e, "se puder, levo quatro ou cinco comigo. Tem que se dar a volta a isto" vinca.
Na Boidobra, porém, as opiniões dividem-se. Na rua, encontramos quem esteja a preparar o almoço. "Agora não tenho tempo de falar" dizem-nos. Quando se fala sobre as eleições, a resposta é célere. "Eu nem sei se voto ou não. Isto está tudo mal. Para mim, foi uma chantagem que fizeram. Votar de novo, não acho grande coisa" diz esta residente, que mantém o anonimato. "Nós, no dia-a-dia, nem notamos nenhuma diferença da Junta estar em gestão ou não" assegura. Mais à frente, encontramos um octogenário, reformado, que logo nos avisa que não nos revela o nome. "Não. É melhor não. Há aqui duas facções e há represálias por tudo" garante. Este nosso interlocutor diz que a realização de novo acto eleitoral "é uma treta", que a situação chegou a este ponto porque "todos estão com ânsia de poder". "Eu sempre apoiei esta junta", garante. Ou seja, o antecessor, José Pinto. Também da CDU, tal como agora João Simão.
Pela rua, encontramos quem esteja a carregar uma carrinha a caminho do trabalho. E que aceda a falar connosco. "O ideal era terem chegado a um entendimento. Era bom para todos. Tudo isto é uma guerra de poder. Mas aqui nem sentimos se a Junta está em gestão corrente ou não. Faz o seu serviço, normalmente. Se não faz obras, não é grave. Acho que nenhuma Junta, na actual crise, as irá fazer" assegura-nos este homem, na casa dos 50 anos. "Eu não irei votar, porque não concordo com nada do que se tem passado" assegura, não revelando a identidade. "É melhor não. Parece que aqui voltámos ao tempo da censura" diz.
Autor
João Alves
Palavras-Chave
Junta / Boidobra / eleições / Freguesia / Olhe / Maria / Julho / Assembleia / eleitoral / Adélia
Entidades
Bem-disposta / Maria Adélia / João Simão / Maria / José Pinto
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