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Salvou centenas de vidas e recebeu cinco escudos

2015-12-03

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Coisas da vida e da CP.
Há casos reais que convém recordar para memória futura. Foi no dia 6 de janeiro de 1963 que um pastor natural dos Enxames, Fatela, Joaquim Martins Maceiras, evitou que centenas de pessoas perecessem num possível acidente ferroviário que esteve na iminência de acontecer devido ao desabamento de uma trincheira à entrada do túnel ferroviário perto dessa localidade.

Era vulgo o jovem pastor deslocar-se àquele local para saudar a tripulação da automotora, a rápida como era conhecida, e se apercebeu do enorme fragor causado pelo desabamento da referida trincheira ao Km 139,270, quase à entrada do túnel próximo da estação da Fatela Penamacor.

Citando o Boletim da CP do mês de março do mesmo ano, "..o jovem pastor procurando a todo o custo evitar uma possível tragédia, o pequeno correu com todas as suas forças por cima da linha e, apesar de fustigado duramente pela chuva intensa, conseguiu quase sem alento, alcançar a estação e avisar a todos da ocorrência.

Do local do acidente estava, entretanto, a aproximar-se o comboio de passageiros nº 3022. O pessoal ferroviário, com bandeiras e petardos, conseguiu felizmente deter, quase no último instante, a composição repleta de passageiros (500, estimados na altura). Verificou-se que o desabamento da trincheira tinha interrompido a linha, numa extensão de 30 metros por 10 de altura.

O Boletim da CP tem o maior prazer em divulgar, no meio ferroviário, o louvável feito deste humilde e jovem pastor, extremamente pobre em haveres – mas rico, muito rico em sentimentos de abnegação e solidariedade humanas."

Perante este ato a CP decidiu compensar mais tarde monetariamente o referido pastor com a quantia de 200 escudos o que causou muita indignação na altura por entre as pessoas que foram conhecedoras do caso, tendo reunido nessa ocasião, mais outros 700 escudos que foram entregues ao jovem Joaquim Maceiras.

No domingo seguinte ao sucedido e no ato de desimpedimento da via foi um maquinista a única pessoa que o chamou no próprio local, lhe pediu os dados pessoais, lhe agradeceu e lhe entregou a quantia de 5 escudos, ao que o pastor lhe terá respondido ser a 1ª pessoa a ter um reconhecimento.

É sabido que mais tarde este pastor investiu os valores recebidos na aquisição de um fato novo e um relógio que estreou no domingo de páscoa.

E porquê este título? Foi o primeiro que encontrei na imprensa da época referindo-se ao caso que nunca esqueci, pois um dos passageiros da referida "automotora do meio-dia", como era conhecida na Covilhã, podia ter sido eu, sabendo ainda que um estimado amigo, que já partiu, me falou diversas vezes deste assunto, aquando das nossas conversas acaloradas sobre os comboios.

Em 1996, 29 de dezembro fui interveniente num acidente em tudo semelhante a este em que as carruagens só por mero acaso não se despenharam nas margens do rio Tejo. Apenas a locomotiva não se livrou da queda. Curiosamente, para além das 3 horas que mais de duas centenas de pessoas permaneceram no local, ninguém, nem da CP, nem dos bombeiros vieram indagar do estado dos passageiros.

Costumo dizer quando se fala deste assunto, nem água nos trouxeram.

Coisas da vida e da CP. que não tem tratado da melhor forma esta linha nem os comboios da Beira Baixa.



Autor
Pinto Pires

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
pastor / centenas / jovem / Fatela / ferroviário / passageiros / desabamento / trincheira / escudos / lhe

Entidades
Joaquim Martins Maceiras / Joaquim Maceiras / CP / Enxames / Fatela

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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