O Arquivo do Tribunal da Covilhã.
23 de Maio de 1831.
A Primavera estava no seu auge e a canícula aquecia o casario da encosta serrana.
Os nove frades franciscanos "resmoem" o almoço junto ao chafariz de quatro bicas, que fornece água de primeiríssima qualidade ao convento e é o seu encanto.
É o pretexto para os religiosos "lavarem as vistas" com as "criadas de servir", que aí vão diariamente com a superior autorização do Padre Guardião.
O síndico do convento, Francisco da Paula Leitão, andava preocupado com a construção de obra nova, junto à cerca do convento.
O capitão Francisco Rodrigues Antunes construíra sobre o canal e a arca que conduzia as águas para o Convento, desviando-as.
A influência do militar na vila, obriga o Juiz de Fora Luís da Cunha Lima, a nomear um "Letrado Fora da Terra", para assistir o Padre Guardião na lide.
"O Convento dos Religiosos de S. Francisco desta villa de Covilham tem o domínio de hum Nascente de Agoa, que serve aos servos do mesmo Convento exclusivamente, com seo chafariz de quatro bicas, por onde desagoa no claustro da sua caza, com seo aqueduto subterrâneo, que atravessando o terreiro fronteiro ao dito Convento athe uma Arca sita ao simo da rua de Francisco de Almeida Saraiva, no sitio do Batoreo, serve de conduzir ao dicto Chafariz a mencionada Agoa."
Esse direito dos religiosos à melhor água da Covilhã e arredores, tinha já impedido que António Rodrigues Maia, no ano de 1776, edificasse aí uma casa.
11 de Agosto de 1831.
Na casa de residência do Juiz Cunha Lima, foram inquiridas as testemunhas Luis Rodrigues Mouzaco, cardador, Jozé Francisco, apontador de lans, Ana Roza, Brites Maria, Pedro e Joaquim da Silva, Oficiais da Vara, Francisco Teixeira, carpinteiro, Manuel Nunes da Costa, fabricante, Jozé Bentto Saraiva, alfaiate, e outros, cujos depoimentos se espraiem por 15 folhas e 5 sessões, devidamente conjugados com a louvação.
A 6 de Julho de 1832, ainda se discute a nomeação dos louvados.
O louvado Francisco de Almeida Saraiva escreve umas letras ao processo, resmungando " …que há bastante tempo que está deitado em sua cama, com sua terrível moléstia da Gota, que o priva do exercício de pernas e de braços, não podendo por isso comparecer em a Vistoria."
Dezembro de 1832.
O Capitão Francisco Rodrigues Antunes e sua mulher, por escritura de composição com o Sindico do Convento de S. Francisco, estando em "Cauza o Embargo de Obra Nova", põem fim às hostilidades judiciais.
Em 1834, ano da extinção das ordens religiosas, ainda amesendavam no convento nove frades e "nenhum se evadio delle, servio hostilmente contra a legitimidade da Nossa Augusta Rainha a Senhora D. Maria Segunda".
Saíram os religiosos e entraram os militares do regimento de infantaria n.º 12, que ocuparam com as suas armas, o antigo convento de S. Francisco.
Mas esta, é uma outra história, de fuga, rebelião, vinhaça e fervor patriótico ao D. Miguel.
Autor
Avelino Gonçalves
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
convento / Francisco / Rodrigues / Arquivo / Tribunal / Maio / religiosos / Saraiva / capitão / chafariz
Entidades
Padre Guardião / Francisco da Paula Leitão / Francisco Rodrigues Antunes / Francisco de Almeida Saraiva / António Rodrigues Maia
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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