Alcongosta acolheu a Festa da Cereja mais concorrida de sempre. Durante os quatro dias venderam-se mais de 30 toneladas.
Largos milhares de pessoas de todo o País rumaram a Alcongosta entre os dias 11 e 14 para a mais concorrida Festa da Cereja de sempre, com mais animação e mais produtos feitos a partir da cereja a surpreenderem os visitantes. Durante os quatro dias a Junta de Freguesia calcula que se terão vendido mais de 30 toneladas da fruta que é a imagem de marca da terra.
"Estou maravilhada", dizia Alice Correia, vinda de Albufeira, a comer passas de cereja e a ver passar um grupo de bombos. Veio pela primeira vez, com o marido e um casal amigo, depois de terem ouvido falar do evento na televisão. A viagem "valeu a pena". Para o ano, pensam regressar e sugerir o passeio a outros.
A comer uma espetada de cereja banhada em molho de chocolate, Fernando Matos, acompanhado da esposa, mostra-se "surpreendido com a diversidade de produtos relacionados com a cereja". "Não tinha conhecimento que se fazia tanta coisa diferente com o fruto", frisa.
Em 2004, durante o Europeu de Futebol, passou a prestar atenção à cereja do Fundão quando lhe ofereceram uma embalagem promocional em Coimbra. Só lamenta que na cidade dos estudantes não consiga encontrar o rubro fruto da região. "Não chega lá, só a de Resende". Como acha a de cá melhor, vem buscá-la à origem. Foi quando passou há pouco mais de um mês por Alcongosta que soube da festa. Marcou logo a data no calendário e já pensa na visita do próximo ano.
Para sábado e domingo, informa a Junta de Freguesia, estavam agendadas 123 excursões. Sexta-feira durante o dia foi o período com menos gente, mas à noite milhares de pessoas circulavam pelas ruas, a entrar de tasquinha em tasquinha. Sábado à noite deu-se a maior enchente, com as artérias repletas até de madrugada.
Diversidade e inovação
Espetadas, licores, passas, gelados, crepes, compotas, conservas, tripas, bolos, sangria, sumo, bombons, rissóis, empadas, tartes, tudo com cereja na composição, eram alguns dos produtos que era possível provar na cerca de meia centena de tasquinhas decoradas com motivos alusivos à cereja.
Os visitantes enaltecem a criatividade, que leva os expositores a quererem fazer melhor de ano para ano. David Rodrigues, da Tasca do Levezinho, considera a Festa da Cereja um veículo importante para divulgar o fruto da Gardunha e Alcongosta. Por isso entende que se deve oferecer aos visitantes qualidade e fazer um esforço para os contemplar com inovações.
No seu caso, tinha para prova 29 licores em copo de gelo, bolacha ou numa caneca de barro, para além dos doces, passas e pés de cereja. As espetadas de cereja este ano serviu-as numa cascata de chocolate. "Para ajudar à festa" promoveu ainda um torneio de paintball.
A especialidade de São Henriques são os mil e um doces à base de cereja, como o nome da tasquinha, Cerejinha Doce, deixa antever. Embora o sumo também tenha saída. "Foi um ano bom, correu bem, com muita gente", nota. No entanto, diz ter-se notado a crise. "As pessoas levam em menor quantidade, vendeu-se mais porque era mais gente e foram mais dias", analisa.
Nos Cestos da Gardunha, como é costume, chegou-se ao último dia quase sem nada para vender. A cestaria típica de Alcongosta, em muitos casos apresentados com licores e doces dentro, tem bastante procura. Ana Cláudia Ribeiro, da Tasca da Piti, menciona o aproveitamento que se faz de tudo na cereja, do pé ao caroço, e realça o cansaço que representam estes dias para quem está atrás do balcão, embora entenda que vale a pena para beneficiar a aldeia. A animação, refere, foi melhor.
Cereja vendeu-se bem
Apesar da chuva que caiu com alguma intensidade na tarde de domingo, e que afastou as centenas de pessoas que já se encontravam na festa, Anunciação Brito vendeu todas as caixas de cereja que tinha na banca. Se a noite é forte para as tascas com bebidas, o dia é a melhor altura para vender o fruto. Sábado e domingo, com muta excursão, foram os melhores para Anunciação. "Foi bom, o calor ajudou a trazer gente e foi bom serem mais dias, aqui sempre se ganha mais alguma coisa".
Graciosa Ribeiro também não se queixa. Nos quatro dias vendeu bem. Só lamenta o preço baixo. "Só as de maior calibre se vendem a dois euros. As outras vendi a um euro e um e meio. Não é muito, porque a mão-de-obra é cara, os adubos e caldas encareceram", queixa-se.
Luís Martins, presidente da Junta de Freguesia, mostra-se satisfeito com a adesão dos visitantes. Às queixas dos expositores da Rua Nova sobre a má distribuição da animação e o pedido de um palco na zona, o autarca diz que "não se consegue agradar a toda a gente". No próximo ano, pondera reservar aquela artéria para "outros produtos regionais de qualidade", como o queijo ou os enchidos. "Fazer ali uma zona mais típica", adianta.
Alcongosta de luto
A placa à entrada de Alcongosta apresentava uma tira negra e as placas identificativas das tasquinhas tinham uma faixa laranja, a mesma que os bombos usaram como braçadeira. Era a cor preferida de Diogo Cardoso, de 19 anos, elemento do grupo de bombos local que perdeu a vida na terça-feira, 9, depois de quatro dias antes ter tido um acidente de viação a caminho da cerimónia de entronização da Confraria da Cereja.
A aldeia ficou de luto e o primeiro dia da Festa da Cereja, 10 de Junho, foi cancelado, tal como alguma da animação do dia seguinte.
Autor
Ana Ribeiro Rodrigues
Palavras-Chave
Cereja / Alcongosta / Festa / milhares / visitantes / gente / Durante / Junta / Freguesia / fruto
Entidades
Alice Correia / Fernando Matos / David Rodrigues / São Henriques / Ana Cláudia Ribeiro
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