NEWSLETTER MEDIA
O Arquivo Web do Notícias da Covilhã. Explore o passado deste jornal centenário
O Arquivo Web do Notícias da Covilhã. Explore o passado deste jornal centenário O Arquivo Web do Notícias da Covilhã.
Explore o passado deste jornal centenário

República retirou e deu liberdades à Igreja

2010-09-29

00:00    00:00

NC nas jornadas de comunicação social em Fátima.

"A I República deu à Igreja algumas liberdades, mesmo cortando-lhe algumas liberdades", disse o bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, na passada quinta-feira, 23, durante um debate sobre o centenário da implantação da República em que também participou o historiador Fernando Rosas, no âmbito das Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais, realizadas em Fátima.

O bispo fez referência aos "muitos custos" que os benefícios da Igreja tinham durante a Monarquia constitucional. Nomeadamente no que toca à ausência de independência da Igreja, com o controlo do Governo sobre dioceses e até os compêndios dos seminários.

Para Fernando Rosas, apesar dos seus exageros, o processo de laicização da República "é uma das obras modernizadoras mais importantes do século XX português". "Ela era pretendida pelos sectores mais lúcidos da Igreja. Era um absurdo opressivo da própria liberdade da Igreja", acrescentou o dirigente do Bloco de Esquerda. "Essa separação é um princípio da democracia moderna", acrescentou.

Com a postura neutral do Estado face à religião foram várias as alterações produzidas. A nacionalização do registo paroquial foi um dos exemplos dados. D. Carlos Azevedo salientou a "arbitrariedade religiosa na altura da separação" e a privação da Igreja do seu património.

Transformação da laicidade em questão religiosa foi fatal
Para Fernando Rosas, "a República cometeu um erro mortal: foi permitir que a questão da laicidade se transformasse numa questão religiosa" através de actos "jacobinos e vexatórios" traduzidos num "excesso neoregalista da República". "Tratou não de criar um ambiente de separação, mas quis restaurar muitos dos benefícios, agora a favor da República", frisou o historiador, que sublinhou a sua condição de ateu. "A República, ao permitir esse desvio, comprometeu o seu futuro", reforçou Fernando Rosas, que no entanto sublinhou o curto espaço de tempo que demorou essa questão religiosa. A partir de 1918, notou, esse dimensão perdeu relevo.

O papel da Igreja nesse período não é pacífico. D. Carlos Azevedo, também ele historiador, entende que "a Igreja limitou a defender-se, porque atacada". O prelado acentua ainda que a igreja não atacou a República nem se movimentou para restaurar a monarquia, apesar de reconhecer a proximidade da hierarquia do clero com os reis e o fundo monárquico do jornalismo católico.

Este é, aliás, um "erro" apontado à Igreja por Fernando Rosas. "Permitiu que a Monarquia caísse totalmente abraçada à hierarquia da Igreja". O historiador salienta que se estava perante uma Igreja "ultramontana, desconfiada da democracia e da modernidade". "A Igreja não teve opinião oficial contra a República, mas o espírito era de hostilidade", referiu. Fernando Rosas mencionou também que "muitos párocos estiveram envolvidos em manobras subversivas contra a República", especialmente no Norte do País.

D. Carlos Azevedo aproveitou para lamentar que se tenha "confundido muito desconfessionalização do Estado com desconfessionalização da sociedade".

Época de imprensa militante
Antes, na abertura das Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais, este ano dedicado ao tema "República – Comunicação – Igreja", D. Manuel Clemente, bispo do Porto, já tinha sublinhado que "o que sucedeu depois de 1910 foi um grande debate cultural". Surgiu "um novo modo de ser Igreja", realçou.

O poder da comunicação social no início do século XX foi também abordado por António Matos Ferreira. Numa época em que a maioria da população era analfabeta, a imprensa apenas circulava por uma elite e a oralidade tinha grande importância na disseminação de mensagens, "a imprensa era genericamente militante".

De acordo com o historiador era também uma imprensa "indutora, com objectivos propagandísticos" e um "terreno propício à manipulação". "Era um jornalismo fortemente político-partidário", realçou Matos Ferreira.




Autor
Ana Ribeiro Rodrigues

Categoria
Secções Religião

Palavras-Chave
Igreja / República / Fátima / Rosas / Fernando / Carlos / Lisboa / Azevedo / deu / bispo

Entidades
D. Carlos Azevedo / Fernando Rosas / Monarquia / D. Manuel Clemente / António Matos Ferreira

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

partilhe!

veja também

Isabel Alçada diz que ensino particular era privilegiado

Ministra da Educação avisa que situaçao vai acabar...

Ataque ao poder local criticado por Vítor Pereira

Nas comemorações dos 40 anos do 25 de Abril, Vítor Pereira lembra as conquistas da cidade, em divers...

VOLTAR À PÁGINA INICIAL