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20 de Outubro de 1870: o corolário de um processo adiado

2010-10-21

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A Covilhã constituía no panorama nacional um exemplo do desenvolvimento pretendido para a indústria nacional.

Decerto já todos os covilhanenses, interessados na história da sua cidade, se terão interrogado sobre a razão de a Covilhã só ter sido elevada à categoria de cidade em 1870. Na verdade a elevação a cidade era uma questão de justiça reclamada há vários séculos.
Quando a Covilhã recebeu o primeiro foral, em 1186, tornou-se o centro de um vasto termo que se estendia desde Famalicão da Serra até ao Tejo. De uma dimensão aldeã que então teria transformou-se progressivamente num dos maiores núcleos urbanos do país. Os vários monarcas reconheciam a sua importância, Afonso V, por provisão de 2 de Dezembro de 1453, declara que a Covilhã é uma das principais povoações de toda a beira, D. Sebastião, por provisão de 6 de Julho de 1570, eleva a Covilhã à categoria de vila notável.
De igual forma, a sua importância estratégica, como traço de união entre a Beira Baixa e a Beira Alta, foi efectivamente reconhecida com a criação do Senhorio da Covilhã, entregue ao Infante D. Henrique em 1415.
No século XVI a Covilhã era uma das maiores aglomerações urbanas a seguir a Lisboa, Porto, Évora e talvez Santarém contabilizando 2.334 moradores, ascendendo os direitos reais do seu castelo a um rendimento de 88.000 reais.
Tudo o que se disse parece motivo de sobra para a elevação da Covilhã a cidade, é, no entanto, necessário clarificar que até ao surgimento de nova legislação saída do liberalismo, só podiam aceder à categoria de cidade as sedes de diocese.
Através da bula "Exposuit Nobis", em 1203, o Papa Inocêncio III permitiu a transferência da diocese da Egitania para a Guarda que assim se transforma em cidade. O extenso termo da Covilhã ficaria integrado nesta diocese, afinal o que mudava era a sede, pois o território era o mesmo da velha diocese da Egitania como o confirma, em 1283, o bispo D. João Martins. A Covilhã ficou desta forma, durante toda a Idade Média, impossibilitada de se tornar sede de diocese e consequentemente cidade.
A partir do século XVI, depois do concílio de Trento, Roma tenta alterar o estado lamentável em que se encontravam as dioceses no que respeita à residência e visita pastoral. Para levar este objectivo a cabo cria novas dioceses, foi o caso de Miranda, Leiria e Portalegre, esta última saída da diocese da Guarda, em 21 de Agosto de 1549. Na mesma data estava prevista a criação de outras quatro: Viana do Castelo, Freixo de Espada à Cinta, Abrantes e Covilhã.
A diocese da Covilhã seria, como nos refere o Pe. António Brásio, em 1942, "grande, bem povoada e de boas rendas". Quanto ao novo Cabido, o projecto de criação referia a existência de "outras dignidades, prebendas, capelães e moços do coro, assim e da maneira que fica declarado no Cabido de Viana, às 10 folhas, e terá a mesma renda, que são 831.000 réis." Para além da renda o bispado teria ainda 79.700 réis para a fábrica da Sé.
A criação da nova diocese era vontade de Roma, não dos interesses locais instalados, nas palavras do Pe. Brásio "as paixões da terra batem muitas vezes os ideais do apostolado Cristão; por vezes tem-se mais a peito tirar às ovelhas a lã e o leite, quando não a própria pele, do que ministrar-lhes o pão e o vinho espirituais", "os prelados eram mais homens de salão e da política e do rebanho apenas curavam para lhe haverem as benesses".
Da estratégia para impedir a criação desta diocese não existem documentos escritos, nem nunca algum autor lhe fez referência, parece no entanto bastante clara. Em 1550, logo após a elaboração do projecto para a criação da diocese da Covilhã, é confirmado e sagrado bispo da Guarda D. Cristóvão de Castro, natural da Covilhã e oriundo de uma das famílias mais poderosas desta vila, seu pai D. Rodrigo fora alcaide-mor da Covilhã e fidalgo muito respeitado na corte. Desta forma a Covilhã não reivindicaria a criação da diocese, pois D. Cristóvão teria mais benesses sendo prelado da extensa diocese da Guarda. Por outro lado D. Cristóvão manteve a sua residência na Covilhã, decerto não por amor à terra natal, mas porque lhe seria assim mais fácil controlar qualquer tentativa de erigir uma nova diocese. As visitações foram intensas, durante o tempo que ocupou a cadeira episcopal, como forma de evitar o desmembramento da diocese da Guarda.
Em 1552, D. Cristóvão morre mas o bom trabalho iniciado afastara para já a criação de uma nova diocese e a Covilhã continuaria a ser vila até finais do século XIX
Desde meados do século XIX que em Portugal se operava uma mudança na paisagem económico-social. O reequipamento material do país, previsto e planeado por Costa Cabral, veio com um enorme atraso em relação aos progressos materiais de Inglaterra e de França. O nome de Fontes Pereira de Melo ficou ligado a esta enorme tentativa de renovação material do país. Mas a política de modernização material não se devia a um único estadista, era antes fruto do espírito do tempo. Com D. Luís institucionalizou-se o rotativismo político, no entanto a oposição estava nos chefes partidários e nas palavras não nos programas que aspiravam à modernização material do país.
É na concretização deste processo de renovação e desenvolvimento que se insere a elevação da Covilhã à categoria de cidade.
A Covilhã constituía no panorama nacional um exemplo do desenvolvimento pretendido para a indústria nacional. Ao elevá-la a cidade, D. Luís demonstrava o sucesso duma política de fomento ao desenvolvimento industrial. Mais do que um acto de reconhecimento era o indicar do caminho que ambicionava para o país.



Autor
carlos madaleno

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
Covilhã / diocese / cidade / criação / Guarda / Outubro / país / categoria / beira / século

Entidades
Afonso V / D. Sebastião / Infante D. Henrique / Papa Inocêncio III / D. João Martins

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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