NC esteve com os homens que têm a responsabilidade de montar o certame.
Diz o ditado que por detrás de um grande homem há uma grande mulher. Também por detrás de um bom certame há bons operários. Tem sido assim há sete anos, a esta parte, em Belmonte, onde todos os anos, em Agosto, se realiza a tradicional Feira Medieval do Artesão. A iniciativa, que se realizou este ano pela sétima vez, tem, por detrás dela uma pequena mas muito competente equipa que, para quem se diverte no certame durante três dias, passa despercebida e é esquecida. Mas para outros não. É o caso do NC que lhe dá a conhecer alguns dos "guerreiros" sem armadura que também eles lutam por este regresso à época medieval.
Faltam apenas três dias para o início da sétima edição da Feira Medieval do Artesão, na zona histórica da vila, e a azáfama é grande. Há ruas cortadas ao trânsito, durante o dia, nas quais apenas entram as carroças (carrinhas) da autarquia. Lá dentro, vêm valentes cavaleiros (os funcionários da Câmara) que munidos das suas armas (pregos, martelos, serrotes, chaves de fenda, aparafusadoras e afins) prometem erguer naquele local a "mui nobre" vila, onde mercadores (comerciantes), taberneiros, bruxos e outros que tal irão desenvolver o seu negócio. Nem o imenso calor que se faz sentir faz demover estes valentes homens (houve dias com mais de 35 graus), que debaixo do sol lá vão retirando a madeira que irá servir para construir uma nova vila no meio da vila.
"Já faço isto há sete anos" diz Joaquim José Costa, conhecido em Belmonte como Quim Zé. Funcionário da autarquia afecto ao sector da limpeza, em Agosto, já sabe que tem ali meia dúzia de dias em que tem que deixar o camião do lixo para se dedicar à Feira. "Já estou habituado. A primeira que fizemos cá, fomos buscar as barracas a Penamacor. Nem sabíamos como se montavam. Sabíamos lá nos se erram presas com parafusos ou pregos. Foram uns trabalhinhos" salienta. Hoje, sete anos depois, já não custa nada e montar um tradicional barraca para tasquinhas ou artesãos é algo que já faz quase de cor e salteado.
Uma centena de expositores
No ano seguinte, já não se pediram barracas emprestadas porque a autarquia resolveu conceber algumas. Coube a tarefa a Mário Leal, o homem que ajuda Quim Zé na montagem das mesmas desde a segunda edição.Com a ajuda de dois colegas construiu 26 barracas "das grandes", mas em sete anos passaram a ser muitas mais, já que Belmonte teve neste edição da Feira Medieval cerca de uma centena de expositores. Diz que em oito dias tudo fica pronto para a festa. Férias, nesta altura, nem pensar. "Há funcionários que estão de férias que são requisitados para este serviço, nesta altura" conta. A trabalhar com Quim Zé e Mário estão mais alguns colegas, que totalizam cerca de meia dúzia. Francisco Nunes, conhecido como o "Chico jardineiro", já que cuidou durante muito tempo dos jardins da vila, é o homem responsável pela electricidade. E durante os três dias ainda está sempre de prevenção. Encontrámo-lo na sexta-feira, 13, e lá tinha o seu automóvel equipado com cabos, lâmpadas, interruptores e afins, não vá algo estragar-se. "O meu carro parece uma loja de electricidade" frisa. Toda a gente que participa na montagem do certame está de prevenção. No ano passado, por exemplo, com o valente temporal que se abateu sobre Belmonte no segundo dia de feira, foi preciso trabalhar muito e depressa para reerguer o certame. "A gente não pára. Há sempre pessoal de apoio nos três dias. Há sempre coisas para fazer" explica Quim Zé. "Às vezes a feira está a começar e ainda temos trabalho a fazer" salienta. Este ano não foi diferente.
Depois de montar a tenda, vender bifanas
Mas Quim Zé nestes sete anos não se limitou à montagem do certame. Sempre participou ajudando amigos nas tradicionais tendas de comes e bebes. "Lembras-te do ano em que publicaste uma foto minha, trajado a rigor e de óculos de sol na cabeça, a assar chouriças e carnes" recorda. Este ano, volta a participar, mas desta vez por conta própria. Depois de montar as barracas, logo na sexta-feira, 13, a partir das 18 horas, lá estava ele no seu negócio junto ao Castelo. A barraca do "Bifanas", onde para além de cerveja, vinho e sangria, se dedicou a vender bifanas arranjadas na panela de ferro, a dois euros e meio cada. Um negócio que, no domingo à tarde, altura em que ainda faltavam algumas horas para terminar a Feira, se podia considerar positivo. "Sim, o balanço é bom. Já terei vendido à volta de 600 bifanas" salientava Quim Zé, que apenas lamentava que a animação, este ano, andasse mais pelo Pelourinho, onde estavam a maioria dos artesãos. "Este ano esqueceram-se de animar a parte da restauração" critica.
Judeus divulgaram a sua cultura
Nisto de feiras, há sempre quem esteja satisfeito ou não com o negócio. Quem venda mais, quem venda menos. Mas, no cômputo geral, os expositores e artesãos com quem o NC falou fazem um balanço positivo da iniciativa, por onde passaram, como é costume, milhares de pessoas, com principal incidência para os portugueses, mas também muitos espanhóis, franceses e até italianos. Mas este ano um dos fenómenos que mais se fez notar foi a considerável presença de emigrantes.
António Mendes, presidente da Comunidade Judaica de Belmonte, também viu no certame a oportunidade de divulgar a sua cultura e religião. Bem junto à sede da Banda Filarmónica, montou a sua tenda de venda onde para além de livros, artefactos, e objectos afectos ao judaísmo, tinha expostos alguns produtos kosher como o vinho, azeite e doces. Diz que em termos de divulgação da cultura judaica, esta participação foi "maravilhosa". Sempre se vende alguma coisa, mas não era esse o nosso objectivo. Era apenas divulgar a nossa cultura. Sob esse ponto de vista correu muito bem. Muita gente provou o nosso pão ázimo e perguntou sobre os objectos que aqui tínhamos expostos. Foi uma primeira experiência que é seguramente para repetir" assegura António Mendes, que ficou muito satisfeito por ouvir turistas dizerem que tinham finalmente visto um local com objectos que eram relacionados com a identidade de Belmonte.
Um pouco mais ao lado, durante as noites da Feira Medieval, Maria Rosa Cameira e a irmã fizeram sucesso com a confecção de crepes, gofres e talaças. Havia filas de gente à espera das iguarias. Por isso, o balanço, nesta primeira participação, também é bom. "Vendemos relativamente bem. Eu é a primeira vez que faço, mas a minha irmã, que é a especialista na matéria, tem participado em outras realizações noutros locais. Para nós, penso que foi muito bom" afirma.
Já no que toca aos artesãos, nem todos estavam assim tão satisfeitos. Havia quem se queixasse da muita gente que havia para ver "e não para comprar", mas apesar de tudo sempre se vendeu alguma coisita. "A crise chega a todos" afirmavam alguns.
Miguel Azevedo, proprietário da loja de artesanato "A Prensa", localizada junto ao Pelourinho, participou pela sexta vez na Feira, na condição de expositor, tendo no primeiro certame tido uma barraca na área da restauração. Diz que a iniciativa "esteve bem", que para o negócio "não esteve mau" mas que faltou um pouco mais de animação nas ruas. "Faltou quantidade e também mais alguma qualidade" afirma.
(Reportagem completa, com fotos, na edição papel)
Autor
João Alves
Palavras-Chave
Feira / Medieval / Belmonte / Quim / certame / vila / detrás / artesãos / durante / negócio
Entidades
Joaquim José Costa / Mário Leal / Quim Zé / Mário / Francisco Nunes
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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