Há mais de uma centena de anos que nas profundezas das terras da Panasqueira e Barroca Grande se cavam galerias.
Por volta de 1895, ao que se diz, um carvoeiro natural de Casegas e de alcunha "Pescão", enquanto se preparava para queimar as torgas e fazer o carvão, em zona de panasco, terá reparado numa data de pedras brilhantes, pesadas, escuras e muito fora do normal. Apanhou algumas delas para oferecer a um amigo. O resto desenvolveu-se depois…
Terá sido este o primeiro passo para o nascimento das Minas da Panasqueira onde ainda hoje se labora e se desventra a terra em busca dos filões de onde vai saindo volframite, pirite, cassiterite, siderite, galena, quartzo e outras tantas pedras da mesma família. Afinal uma riqueza que continua escondida e que só o esforço e a sabedoria humanas são capazes de colocar à superfície, tirando delas o proveito que à técnica diz respeito e depois se encarrega de distribuir. Há mais de uma centena de anos que nas profundezas das terras da Panasqueira e Barroca Grande se cavam galerias. Nelas o suor se mistura com a poeira e a escuridão se quebra com frágeis crepúsculos luminosos. Hoje as máquinas dispensam muitos braços, mas continuam a ser humanos os que as manobram e aqueles que complementam o trabalho que nem todos desejam ou mesmo imaginam. Dos que perderam a vida lá nessas tais profundezas, que ficaram acaçapados por debaixo de um liso ou se deixaram apanhar pelos efeitos do deflagrar das cargas de dinamite, poucos se vão lembrando ou depressa vão passando no esquecimento.
Tudo isto se desenrola a uma meia centena de quilómetros da Cidade que acaba de festejar cento e quarenta anos. Sem que daqui venha qualquer mal ao mundo, vou ter o atrevimento de perguntar quantos serão os que já tiveram a curiosidade de passar uns momentos mirando as montanhas de pedras desfeitas saídas do ventre da terra; quantos já se atreveram a espreitar para o interior das galerias onde os dias se confundem com as noites e da noite se faz dia; quantos os que conseguirão identificar as pedras que são resultado de tanta dureza e cansaço; quantos, propositadamente, já se encaminharam ao sul do Concelho em visita de turismo e lazer…
O exemplo de bravura colhido dos mineiros chilenos salvos, há poucos dias, pela inteligência e capacidade humanas, em consonância com o poder de resistência e entreajuda, é retrato fiel de episódios da mesma natureza, embora de contornos diferentes, mas já vividos bem perto da nossa porta. Os meios audiovisuais transportaram-nos com insistência a realidades a que estão sujeitos os que continuam desbravando a alma da terra. Para eles a nossa admiração e respeito com dispensa de todo o aproveitamento social adjacente. Se um dos mineiros tinha duas ou três mulheres pouco nos interessa; se alguns deles já começaram a cobrar pelas entrevistas e fotografias, a mesma coisa; se alguns clubes de futebol estão a convidar os 33 homens para virem assistir a jogos na Europa, isso é lá com eles; se o facto de serem 33 já despertou a sensibilidade dos cibernautas, é mais um dado curioso que pouco importa.
Fiquemos, sim, com a marca daquilo que o Homem é capaz de fazer quando para tal se liberta de egoísmos e arrogâncias.
Autor
sérgio gaspar saraiva
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
Panasqueira / Pescão / pedras / Casegas / terra / terá / minas / Barroca / centena / profundezas
Entidades
Homem / Panasqueira / Barroca Grande / Casegas / Pescão
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