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Cebola ou São Jorge da Beira?

2010-10-27

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Cebola mudou de nome há 50 anos. Reportagem no NC desta semana.
Nasceu em Cebola, mas reside em São Jorge da Beira, desde que a localidade mudou de nome, há 50 anos. Ainda assim, a designação original da terra continua a estar presente na documentação oficial, desde que foi fazer o cartão do cidadão e não lhe foi permitido actualizar o nome.

Até ao momento ainda não teve problemas, como alguns conterrâneos, emigrados, quando vãos aos consulados e se vêm obrigados a longas explicações para ultrapassar constrangimentos burocráticos, por Cebola constar na identificação mas não estar reconhecida nos registos oficiais.

Para precaver uma dessas situações, Hermínio Antunes traz na carteira um ofício da junta de freguesia. E não fosse recear eventuais confusões administrativas, não o incomodaria estar identificado como natural de Cebola.

A decisão de alterar o nome foi tomada fez 50 anos no dia 21. Algumas figuras influentes da localidade decidiram requerer a troca pelo nome do padroeiro da terra, por Cebola ser mencionada com um sentido pejorativo por quem era de fora. A decisão foi de um grupo restrito, mas aceite com agrado pela população.

"Faziam pouco de nós"

Na terra mineira contam-se as viagens ao Fundão, à Covilhã, ou as idas para a tropa, em que os cebolenses eram alvo de chacota por causa do nome, que dava azo às mais diversas associações, todas pouco abonatórias.

"Foi feito à vontade do povo, apesar de terem sido os manda-chuva cá da terra a decidir. Se não houvesse entusiasmo o nome não tinha sido mudado", considera Pedro Gregório, na altura com 15 anos. "São Jorge da Beira é mais bonito que Cebola", opina.

António Barata, 70 anos, recorda bem essa alteração. "Foi uma coisa consensual, não dei conta de haver discórdia". Na altura, conta, surgiram várias hipóteses para nomes, mas São Jorge da Beira acabou escolhido por ovação, quando foi sugerido, conta António Barata.

Há quem não saiba ou não se recorde porque se optou pela alteração. Outros ainda têm presente o motivo. "Íamos para outra terra e diziam: Olha, os ceboleiros!", lembra António Bernardino, que durante 25 anos sentiu alguns inconvenientes de viver numa freguesia chamada Cebola. "Faziam pouco de nós", acrescenta.

Novo nome aprovado a 21 de Outubro de 1960

O pedido da Junta de Freguesia foi aceite em menos de seis meses pelo Ministério do Interior, a 21 de Outubro de 1960, com a justificação de Cebola ser "quase sempre usada pelos estranhos à freguesia em sentido depreciativo para os seus naturais".

Fausto Bastista, presidente da autarquia, simpatiza com o antigo nome, mas faz também referência aos motivos porque levaram a população a querer outra designação para a terra. "Antigamente usava-se qualquer coisa para fazer chacota. E o nome era alvo de gozo", conta. Chamavam aos naturais de Cebola "cebola podre", diziam-lhes "cheiras a cebola", entre outros apupos. "As pessoas de cá sentiam-se gozadas pelo nome", refere Fausto Batista.

Assim que o novo nome foi oficializado, o nome Cebola tornou-se de imediato passado. Duas semanas depois da transição, o correspondente do NC de São Jorge da Beira pedia aos leitores para esquecerem essa nomenclatura, aconselhava toda a gente a habituar-se quanto antes à nova designação e pedia a todos os serviços que actualizassem o nome da freguesia.

"Cebola pereceu, passou à posteridade", dizia Tó Almeida. Para que a nova designação se fixasse rapidamente, o correspondente do NC fazia um "apelo a todos, sejam eles ou não de São Jorge da Beira: Que nunca mais pronunciem Cebola".

(Reportagem completa na edição papel)



Autor
Ana Ribeiro Rodrigues

Categoria
Secções Centrais

Palavras-Chave
Cebola / Jorge / Beira / terra / freguesia / António / conta / designação / Faziam / Barata

Entidades
Cebola / Hermínio Antunes / Pedro Gregório / António Barata / António Bernardino

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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