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Natal, sempre Natal

2010-12-22

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O mundo de quem precisa está em franca expansão, mas era bom que o reforço informativo não se prendesse só com relatos.

A época natalícia aí está com todos os seus pergaminhos. Nas montras não faltam os habituais adereços e em algumas janelas bem se nota o colorido festivo, se bem que nada comparado com anos anteriores. O Pai Natal, que antes subia e descia às chaminés, agora não está para sujar a farda e prefere subir e descer pelo gradeamento das varandas, onde passa dias e noites pendurado à chuva e ao sol, mas de roupinha encarnada sempre na perfeição, com etiqueta "made in China" e barba branca bem aparada. Como as coisas estão mudadas, comentava um senhor bem conhecido das ruelas da cidade em conversa que se prolongou por alguns minutos nos corredores de uma grande superfície. Dizia ele que, na noite da consoada, em seu tempo de meninice, tinha que se deitar cedo e só o deixavam levantar quando a manhã já estava clara e isto para não se encontrar com o Pai Natal na cozinha, onde o sapato, em cima do fogão, por baixo da chaminé, esperava pela merecida prenda, quase sempre uma laranja, cinco tostões e dois ou três rebuçados. Era o delírio quando ia recolher o que se encontrava dentro do sapato – coisa tão saborosa e ainda por cima com tanto dinheiro..
Nesses tempos ainda não se sabia o que eram crises porque esta designação deve ter vindo indexada ao novo acordo ortográfico. O certo é que o figurino das laranjas, dos tostões e rebuçados já passou à história porque o Pai Natal nos tempos que decorrem vai abastecer-se aos hipermercados onde nada falta e, às vezes, nem é preciso dinheiro porque basta meter-se um cartão numa racha e traz-se tudo o que se queira. Este foi campo para onde descambou a dita conversa, que ainda deu tempo para o octogenário acrescentar mais alguma coisa, ao dizer que as montras até fazem doer os olhos com produtos tão bonitos, encantadores e cativantes. Se a gente se descuida e não tem cabeça até apetece levar tudo. Veja lá que eu vim aqui para comprar uns sapatos, porque o sapateiro da minha rua me disse que já não valia a pena deitar meias-solas nos sapatos que tenho vai para três anos e, em vez dos sapatos, já comprei uma camisa e uma camisola para o frio, para condizer com a camisa. Isto está mesmo pela hora da morte, acrescentava ele tentando sempre comparar o presente com o seu passado, o que todos nós acabamos por fazer também em cada momento.
Claro que Natal, dizemos nós, deveria ser todo o ano, sabendo-se que para muitos assim é, nomeadamente para aqueles que vão dando, anonimamente, seu tempo e esforço à causa da solidariedade, da entreajuda social de que muito se fala nesta quadra, mas que depois se vai desvanecendo ao longo do ano. O mundo de quem precisa está em franca expansão, mas era bom que o reforço informativo não se prendesse só com relatos. O estímulo das capacidades e o alento no desbravar de caminhos são outras tónicas que encorajam e também terão alguma coisa a ver com a dita solidariedade. Há que praticá-las porque Natal tem que ser todos os dias, mesmo que o Senhor do fato e garruço encarnados, barbas alvas de neve e trenó puxado por renas se esqueça do número da porta ou, mais modernamente, do número de telemóvel ou email de um sem número de candidatos.



Autor
sérgio gaspar saraiva

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
Natal / Pai / sapatos / tempo / pergaminhos / época / natalícia / sapato / tempos / senhor

Entidades
Dizia / Senhor / China / Natal

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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