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Imagens valem mais que mil palavras

2010-08-25

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Safa, nem uma simples garrafa de água são capazes de vender ali, num dia de tanto calor….

No século passado ensinava-se, não sei onde, que não era nada bonito andar a espreitar à fechadura das portas e era muito feio estender os ouvidos para a conversa dos outros e, muito mais ainda, comentá-las depois. Isto era no século passado porque as coisas agora estão muito mudadas em todos os aspectos, a ponto de as tais conversas serem até motivo de retrato nos variados meios de comunicação, como está a acontecer neste preciso momento enquanto o estimado leitor vai percorrendo estas linhas com o olhar e a mente.

Pois não querem lá saber que nas bancadas do Complexo Desportivo da Cidade, enquanto os atletas serranos davam o litro contra o Trofense, um grupinho nortenho que acompanhara a sua equipa esbracejava com algum palavreado simpático pelo meio, isto já depois dos primeiros quarenta e cinco minutos, e para dizer que, num dia de tanto calor, nem uma garrafinha de água estava à venda no recinto desportivo e que os haviam mandado comprá-la lá fora não sabiam onde. Ainda por cima um deles se dirigiu a uma senhorinha de mini-saia, que estava encostada ao balcão dos camarotes, a quem pediu, por favor, uma garrafinha de água, que estava à vista, para pagar. Respondeu-lhe que aquelas garrafinhas não eram para venda, porque estavam destinadas aos convidados do camarote. Então é que o calor apertou e redundou em desabafos que mais aqueceram ainda, como devem calcular. E querem eles ver gente nas bancadas batendo palmas aos atletas!.. Safa, nem uma simples garrafa de água são capazes de vender ali, num dia de tanto calor….

A mãe do menino, sentada ao lado, também não se ficou pelos ajustes e foi completando a conversa dizendo que tinha saído do norte no dia anterior e que passara a tarde a passear pela cidade. Perguntou a um senhor onde poderia encontrar um parque infantil para levar o filhote e indicaram-lhe o Jardim Público. Dirigiu-se para lá e entrou numa igreja ao lado, por sinal bastante bonita, conforme confessava, dirigindo-se então para o parque. Se aquilo é um parque para crianças, vou ali já venho, comentava para a restante comitiva e para alguns dos que pensavam que ainda era feio deitar os ouvidos para a conversa dos vizinhos. Uns barrotes de madeira que já não se usam, nuns metros quadrados de terra sem as mínimas condições e chamarem àquilo um parque infantil no meio da Cidade… A paisagem vista do Jardim merecia um parque a sério como há em outras terras….

O senhor árbitro deu por terminado o encontro, que sorriu às gentes da Covilhã, e com ele se interrompeu o conteúdo de mais uma conversa interessante, que no fundo se resumia aos ares da Serra que, em vez de terem feito bem à selecção nacional de futebol como se dizia, e nos representou na África do Sul, devem ter feito mal aos treinadores e dirigentes federativos. Se tinham ou não razão tais comentários por certo nunca chegaremos a saber, mas que, em tempo que correm, manter ouvidos atentos nunca fará mal a ninguém. Nem que seja apenas para deixar uns tantos recados no arcaboiço de cada um de nós.



Autor
sérgio gaspar saraiva

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
água / parque / calor / conversa / Cidade / século / passado / Desportivo / ouvidos / Safa

Entidades
Serra / Trofense / Safa / Complexo Desportivo da Cidade / Jardim Público

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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