Não se ponham a gastar notas, moedas e moedinhas em máscaras, foguetes, bombas e busca pés (..) que isso são uma espécie de gordura nacional a que é urgente por termo.
Este País, à beira mar escarrapachado, parece cada vez mais enregelado. Em tempos recuados, sabia-se quando era inverno ou verão, quando entrava o outono ou se contemplava a primavera. Nos tempos que correm, as coisas parecem ter mudado a ponto de se confundir o inverno com o verão e por aí além. Sabemos que, nestes últimos dias, o sol brilhou logo pela manhã, mas o frio, não lhe querendo ficar atrás, foi apertando também e, de tal modo, que até algumas bocas de credenciados meios de comunicação saíram respingadas de um autêntico sabor glaciar. Os blocos de gelo acabaram por deixar ouvintes a tiritar, para não dizer mesmo, arreganhados de todo. Foi o que aconteceu com uma das últimas notícias que se abateu sobre o carnaval, que parece não merecer as boas graças das tolerâncias de ponto. No tempo da pedra lascada dizia-se que pelo carnaval ninguém levava a mal. Agora, o entrudo … viste-o por um canudo. Continua a ser a uma terça-feira, mas no ano da graça de dois mil e uma dúzia, ninguém pode ser dispensado da sua rotina laboral. O país precisa desse dia bem suado e não de brincadeiras mascaradas e provocadoras. Não se ponham a gastar notas, moedas e moedinhas em máscaras, foguetes, bombas e busca pés, em saias, saínhas, saiotes, calças, coletes e archotes que isso são uma espécie de gordura nacional a que é urgente por termo. Os que vivem dessas coisas, arranjem outro passa tempo. Dediquem-se ao futebol. Os que ao longo do ano passaram o tempo a imaginar figurinos, música carnavalesca, carros, carrinhas e carroças ornamentados com gigantones de cores variadas, que pensem noutras coisas. Aqueles que, porventura, costumam associar-se a manifestações carnavalescas engrossando o movimento turístico e hoteleiro, que se deixem da boa vida e se agarrem à enxada porque isso das tradições nunca deram pão a ninguém e muito menos agora. Se fosse entre feriados, algumas autarquias eram bem capazes de dar tolerância de ponto, agora a uma terça-feira, ainda por cima de carnaval… Não levem a mal, mas é preciso dar às unhas nesse dia. O País não perdoaria uma folga tão desnecessária e os bens não produzidos pelas médias e grandes empresas, nesse dia de borga, poderiam mesmo ser motivo para despedimento por causas mais que justas. Vamos, pois, trabalhar a sério dia de entrudo. Até porque, tendo sido retirados subsídios de férias e de Natal, as extravagâncias carnavalescas iriam contribuir para a degradação das famílias que, futuramente, deverão mesmo aproveitar o domingo para trabalhar, porque também nesse dia comem, gastam luz, água e a sola dos sapatos.
O verdadeiro cidadão deverá seguir religiosamente os conselhos de quem sabe, isto é, de quem manda, mesmo que seja necessário deixar de parte alguns cêntimos para entregar em casa de um Senhor que diz ganhar pouco, mas que respeitamos, e não queremos ver um dia a fazer greve por motivos de aumento salarial. Isso seria um desprestígio para a Nação.
O carnaval e sua história irá merecer um dia estudo aprofundado em termos empresariais e governamentais. Temos a certeza que, nessa altura, já estará em vigor e com todo o rigor, o novo Acordo Ortográfico, mesmo no Centro Cultural para os lados de Belém onde os frios também se fazem sentir, trazidos pelos ventos provenientes do oceano que lhe banha as faces em dias de tempestade.
Então, já que aí vem o carnaval, vai trabalhar e não leves a mal… Ponto final.
Autor
sérgio gaspar saraiva
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
carnaval / mesmo / País / tempo / carnavalescas / ninguém / Macaquices / escarrapachado / enregelado / beira
Entidades
Senhor / Macaquices / País / Natal / Centro Cultural
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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