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Ainda não consegui nada

2010-06-16

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Desempregados da Delphi com dificuldades em arranjar trabalho.

Cigarro numa mão, imperial na outra. Olhar para o infinito, poucas palavras e muito pensamento. S, 34 anos, junto aos amigos, num bar, fala da selecção, do seu Sporting, de tudo um pouco, mas não gosta muito de abordar o tema "Delphi". Ele, que durante mais de uma década deu o melhor pela fábrica de cablagens da Guarda, apesar disso, também não escapou ao despedimento colectivo que, entre 31 de Dezembro do ano passado e finais de Abril deste ano, afectou 574 operários da fábrica. Mais 27 em Maio. "A gente nunca espera. Mas neste caso, já há muito tempo que a malta desconfiava" afirma.

Natural de uma freguesia do concelho de Belmonte, onde outros amigos seus também viram a "guia de marcha", S, casado e pai de um filho, diz estar preocupado com o futuro, mas mantém a esperança de conseguir arranjar alguma coisa. "Ainda não consegui arranjar nada. Isto está difícil, mas vou continuar a tentar" afirma, optando, claro, por procurar empresas do mesmo ramo, ligadas ao sector automóvel. "Estamos tantos anos a fazer a mesma coisa que é difícil mudar depois"afirma, dizendo, porém, que deitará as mãos "ao que aparecer".

Cerca de um mês e meio após o despedimento colectivo da Delphi, que atingiu 601 pessoas da Guarda, concelhos vizinhos e inclusive Cova da Beira, muitos são os que ainda andam a tentar encaixar-se em algum sítio. Muitos dos trabalhadores despedidos estão preocupados com o futuro, por viverem numa região do Interior onde as oportunidades de emprego são poucas, havendo já casos de desempregados que foram trabalhar para o estrangeiro.

Victor Tavares, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas (STIMM) de Aveiro, Viseu, Guarda, e Coimbra, citado pela Lusa, diz que são poucos os operários que conseguiram um novo trabalho ou apostaram na criação do auto-emprego. "Temos vários casos em que estão a estudar, a tirar o 9.º ou o 12.º ano, outros em cursos de formação e uma pequena minoria viu-se obrigada a emigrar, porque na Guarda, infelizmente, a procura [de trabalho] é muito maior do que a oferta", conta o sindicalista. Acrescentou que os casos de operários despedidos da Delphi que conseguiram um novo emprego, por contra própria ou de outrem, representam "um número muito reduzido". Victor Tavares prevê "um futuro muito negro" para os desempregados, pelo facto de não existirem alternativas de emprego na região que permitam absorver os 601 desempregados da maior fábrica do distrito.

O sindicalista do STIMM diz temer que o tempo passe, os subsídios acabem e que, no futuro, a Guarda assista a "uma calamidade social". Os desempregados que não estão a frequentar acções de formação nem centros de Novas Oportunidades, procuram emprego mas asseguram que não o encontram, dando já sinais de algum desespero.

Joaquina Brás, de 39 anos, que trabalhou 18 na Delphi, conta à Lusa que já "bateu" a várias portas, a pedir trabalho mas, "não há nada". "Pedem experiência e, infelizmente, só tenho a experiência de trabalhar na fábrica", lamenta a desempregada que tem o 12.º ano. Com dois filhos menores e o empréstimo da casa para pagar, Joaquina Brás mostra-se preocupada com o futuro, porque "o tempo está a passar" e não vislumbra uma nova ocupação profissional. Elisabete Rei, 39 anos, que também trabalhou 18 na multinacional, abdicou do subsídio de desemprego e optou pela criação do próprio emprego, tendo aberto um café no centro da Guarda. Diz que não teve ajudas para avançar para o negócio, apesar de ter apresentado "duas candidaturas" ao Centro de Emprego local, que não foram aprovadas. A antiga trabalhadora da Delphi explica que fez a opção de não ficar dependente do subsídio de desemprego porque o café "acaba por ser uma ocupação e uma mais-valia em termos profissionais".

A Delphi da Guarda, que já chegou a ter cerca de três mil, labora agora com apenas 314.

(Reportagem completa na edição papel)



Autor
João Alves

Categoria
Secções Centrais

Palavras-Chave
Guarda / Delphi / emprego / Cigarro / Desempregados / futuro / fábrica / afirma / casos / arranjar

Entidades
Cigarro / Victor Tavares / Joaquina Brás / Elisabete Rei / Sporting

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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