Algumas casas foram cercadas pelo fogo que lavrou na noite de segunda para terça-feira.
Pelo segundo ano consecutivo, José Gonçalves teve o fogo perto de casa, entre o Sabugal e Belmonte, mas desta vez em pânico: foi obrigado a evacuar a habitação e a lutar para que as chamas não queimassem mais que a horta.
"Não percebo: por mais incêndios que haja andamos sempre com o coração nas mãos", desabafou à Agência Lusa, em Maçainhas, Belmonte, à porta da casa cercada de terrenos ainda fumegar.
Um incêndio florestal destruiu mato e pinhal desde as 22h de segunda-feira com as chamas a nascerem no concelho do Sabugal e a avançarem para Belmonte, onde o fogo foi dominado às 10h30, passando a fase de rescaldo, segundo fonte dos CDOS de Castelo Branco.
O fogo lavrou em parte dos terrenos que já tinham ardido no maior incêndio da Europa em 2009, com 10 milhões de euros de prejuízos e que afectou o concelho do Sabugal. Esta noite, as chamas queimaram ainda diversas áreas adjacentes.
De acordo com a protecção civil dos distritos da Guarda e Castelo Branco, desta vez não há registo de prejuízos como em 2009, mas houve dezenas de pessoas cercadas pelo fogo em Maçainhas.
"Estivemos aqui a noite toda a molhar os telhados e tudo à volta", descreveu Maria Pacheco, de 67 anos, que viu as férias em casa da filha transformadas numa luta pela sobrevivência.
Às 00h20 a família foi acordada por um vizinha que os alertou para a proximidade do fogo. "Acordei e em segundos já estava a arder o pinhal junto à casa. Entrei em pânico", relatou.
A filha Elisabete Pacheco, de 39 anos, levou a neta de cinco anos e os dois carros para a aldeia, mais afastada das chamas e junto à A23, enquanto a mãe e o marido protegeram a casa.
"Já o ano passado andei a apagar o fogo por esta altura", referiu, numa alusão ao fogo do Sabugal que destruiu 12 mil hectares de mato, floresta e terrenos agrícolas. "Andamos sempre com o coração nas mãos", lamentou.
A poucos metros, Ilda Rosa e o marido José Marques levaram mangueiras durante a noite para junto de um pavilhão onde um familiar guarda animais e ao qual se encostaram as chamas.
"Depois de conseguirmos tirar para camiões, estávamos nós cercados pelas chamas. Os bombeiros disseram-nos para esperar até chegarem mais carros de combate", contou Ilda Rosa, que esteve no local, junto ao apeadeiro de caminho-de-ferro de Maçainhas, entre as 22h00 e as 05h00 da madrugada.
Naquela zona há telefone fixos que não funcionam, uma vez que o fogo destruiu alguns postes de telecomunicações, assim como arderam algumas das travessas do troço da linha de ferro da Beira Baixa, que está desactivada para obras entre a Covilhã e a Guarda.
O fogo provocou sustos no concelho de Belmonte, mas lavrou sobretudo em terrenos do Sabugal.
Segundo António Robalo, presidente da Câmara do Sabugal, o incêndio "não teve prejuízos avultados, ocorreu sobretudo numa zona inóspita e, segundo consta, teve origem numa deficiência numa linha elétrica. Não é algo usual, nem tão pouco algo que se controle", realçou.
O autarca garantiu que "está a ser feito tudo o que humanamente possível para tratar da floresta e evitar incêndios no concelho", nomeadamente depois do incêndio do ano passado, seja ao nível da prevenção como de vigilância.
Autor
Lusa
Palavras-Chave
fogo / Belmonte / Sabugal / Maçainhas / Chamas / Gonçalves / casa / incêndio / concelho / terrenos
Entidades
José Gonçalves / Maria Pacheco / Elisabete Pacheco / Ilda Rosa / José Marques
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