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Indiferença

2010-09-22

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A indiferença está a corroer a democracia e mais tarde ou mais cedo a conta há-de chegar.
No século XIV, o filósofo Buridan criou uma figura imaginária, um burro caracterizado por um estado de espírito que hoje está demasiado presente no País.

Este burro tendo ao mesmo tempo fome e sede, hesita entre um molho de feno e um balde de água e incapaz de decidir acaba por morrer. É o exemplo da liberdade da indiferença, isto é da situação de uma pessoa que se sente incapaz de escolher entre duas situações, pois não quer incomodar nem ser incomodado.

A realidade em que vivemos está bem fornecida de pessoas que incapazes de falar verdade fazem o discurso de conveniência como forma de sobrevivência. Continuamos num faz de conta permanente a viver de optimismos conjunturais onde as cortes de serviço traficam realidades a gosto. Devemos ao exterior cerca de três vezes a riqueza produzida num ano. Como é possível continuar neste facilitismo de consumo distribuindo gratuitamente milhares de computadores? Como se pode entender que nos primeiros seis meses do ano se tenham vendido 3 milhões de telemóveis? E como compreender que um país que precisa de pedir emprestado muitos euros continue a viver em clima de festim sem se preocupar com a conta que há-de vir? E que dizer do forte crescimento na compra de automóveis com o sector estatal a entrar em força no novo-riquismo vigente? Temos um País dividido entre os que têm emprego, os que não têm e ainda os que não têm nem emprego nem qualquer subsídio. A situação social pode vir a tornar-se algo perigosa. Talvez seja altura de lembrar que um optimista não passa muitas vezes de um pessimista mal informado ou pior de um fugitivo da realidade, pois não tem soluções para os problemas e naturalmente não tem ou não quer ter consciência das dificuldades que nos esperam.

Estamos a caminho de um país entalado entre que estão no poder e os respectivos credores. Vivemos uma falsa riqueza como vivemos uma falsa liberdade de consumo e pior uma falsa liberdade política. A indiferença está a corroer a democracia e mais tarde ou mais cedo a conta há-de chegar. Já Descartes considerava esta liberdade da indiferença como o "grau mais limitado da liberdade". E como não se deve estimular as pessoas a serem complacentes com a mediocridade e o facilitismo é altura de dar a volta ao texto, falar verdade e preparar as ditas pessoas para colaborarem nas decisões que terão que acontecer antes dos credores começarem a exigir o pagamento das nossas continhas. Bruxelas, o FMI e os credores do País estão atentos. A Alemanha, através do partido da senhora Merkel, faz saber que Portugal não está a fazer o suficiente para evitar o destino idêntico ao da Grécia. O futuro, se encararmos a realidade, não será fácil mas terá as suas oportunidades. Todavia se continuarmos no esquema do "vamos gastando que alguém há-de pagar" aí as dificuldades vão ser a doer e sempre para o lado dos mesmos. O que me deixa pasmado é que o País continue a conviver com esta indiferença anormal.



Autor
José Vicente Ferreira

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
País / XIV / Indiferença / Buridan / liberdade / conta / há-de / pessoas / burro / realidade

Entidades
Buridan / Descartes / Merkel / FMI / País

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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