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Democracia de leões

2010-05-05

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Quem tem poder, pode e actua e saca sem olhar às consequências, magoando e destruindo.
Nos tempos que vivemos, as palavras, os discursos e as ideias vão sendo plastificados à medida dos interesses da ocasião.

Quem não ouviu defender com entusiasmo determinada ideia ou medida política e passado algum tempo com maior entusiasmo… os respectivos contrários?

O amanhã é uma construção atabalhoada de interesses discutidos no dia anterior. Continuamos a assistir impotentes e desconfiados a novas partilhas de poder, esperançados que num qualquer amanhã tudo possa ser diferente. Afinal quem tem poder nos momentos cruciais diz como é. Quem não tem limita-se a dizer qualquer coisinha… Esopo, por sinal grego, já então tinha conhecimento destas situações, certamente também típicas na sua época. Vem por isso a propósito recordar a sua fábula "O Leão e as Outras Feras".

Um belo dia o leão foi à caça com três outras feras. A caçada correu bem e no final o leão, assumindo o poder inerente à sua condição de rei da selva, encarregou-se de repartir a caçada dividindo-a, muito democraticamente, em quatro partes iguais. Os seus companheiros de caçada assistiam risonhos e complacentes a tudo o que acontecia, pois reconheciam no seu íntimo que o leão era naturalmente o rei da selva.

Todavia, quando os "amigos" da caçada tomaram a iniciativa de pegar em cada um dos respectivos lotes, o leão falou e disse: "Mais devagar e façam favor de me ouvir. Este primeiro lote é meu, porque obviamente representa a minha parte. O segundo, também me pertence, pois como sabem sou o rei dos animais. O terceiro lote também só pode ser meu pois é a oferta que certamente os meus amigos farão ao seu rei, como forma de homenagear o líder incontestado que sou.

Quanto ao quarto lote, vamos disputá-lo lutando e logo ficarão a saber quem tem força e quem manda."

Qualquer semelhança entre esta fábula e acontecimentos que diariamente vamos observando não é pura coincidência. De facto, os fenómenos de poder estão na ordem do dia. Quem tem poder, pode e actua e saca sem olhar às consequências, magoando e destruindo. A economia e a política parecem não querer compreender as pessoas e as suas reais necessidades num mundo onde a liberdade de hoje é atropelada pela liberdade amanhã. Tudo vale e tudo se analisa na base do dinheiro. As pessoas sabem ver a realidade, porque sentem no dia-a-dia o peso, cada vez maior, dessa realidade. Sabem muito bem ver quem caçou o quê e como se entendem na partilha da caçada. A "democracia de leões" está bem à vista.




Autor
José Vicente Ferreira

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
Leão / caçada / rei / medida / amanhã / qualquer / interesses / entusiasmo / lote / vivemos

Entidades
Esopo

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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