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Revolta no regresso

2010-08-18

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Operários da Delphi voltam ao trabalho após as férias e sabem que vão para o desemprego.
Os 321 trabalhadores da Delphi da Guarda regressaram segunda-feira, 16, ao trabalho pela última vez e alguns não esconderam revolta e angústia depois da administração anunciar que a empresa vai fechar no final do ano.

Para Horário Antunes, um dos trabalhadores, não podia haver pior regresso de férias na fábrica da multinacional de cablagens para automóveis. "Já sabemos aquilo pelo que vamos passar: é quase como os animais que vão para o matadouro, mas é a vida", diz à Agência Lusa, à entrada da fábrica.

"É uma desilusão, mas temos que a enfrentar. Temos que ser fortes e aguentar isto", sublinha. No entanto, reconhece que, por mais forças que tenha, o encerramento da fábrica tira-lhe o sono. "É muito complicado. À noite, em vez de dormir, fico a pensar no que será da nossa vida. Acho que ainda não conseguimos assimilar isto como uma realidade". Para este trabalhador, há a certeza de que, por mais indemnizações que sejam pagas, as dificuldades vão bater à porta. "Não sei o que vai ser de nós. Num ano ou dois esgota-se tudo e ainda por cima vamos para a rua numa época em que, algum emprego que houvesse, já estará ocupado".

Fausto Monteiro, outro trabalhador, quer deixar a Delphi para trás das costas o quanto antes. "Não há nada a fazer: não há futuro. É tempo de procurar outras coisas, o mais depressa possível, e esquecer isto", destaca, mostrando-se descontente com o valor das indemnizações que está negociado, mas não acredita que haja volta a dar. "Queria mais do que estão a oferecer, mas infelizmente já está definido. Agora ja é tarde", conclui.

O valor de indemnização que está em cima da mesa é de dois meses de salário por cada ano de trabalho, sendo que "a média ronda os 10 a 11 anos de trabalho", afirma Vítor Tavares, delegado sindical. Administração e Sindicato das Indústrias Transformadoras e da Energia (SITE) voltam a reunir-se em nova ronda negocial no dia 24 de Agosto, próxima terça-feira, e aquele responsável pretende chegar a um valor mais alto. "Os trabalhadores acham que merecem mais, porque sentem-se revoltados e enganados pela administração: disseram que os últimos despedimentos iam acontecer para viabilizar a empresa, mas afinal ainda nem passou um ano e a empresa vai encerrar", sublinha.

Segundo Vítor Tavares, estão a ser produzidas na fábrica da Guarda cablagens para a Ferrari e Maserati que vão passar a ser feitas em Castelo Branco e outras cablagens ainda de carros em fim de vida que vão passar a ser fabricadas na Polónia. "A administração justificou-se dizendo que as cablagens dos carros em fim de vida não eram rentáveis e iam para a Polónia", acrescenta. "As outras duas, Ferrari e Maserati, são rentáveis, mas não justificam uma empresa desta envergadura, pelo que, para salvaguardar a produção das cablagens em Portugal a administração decidiu concentrá-las em Castelo Branco", explica o sindicalista. Por parte da administração da empresa "foi dito que é uma situação sem retorno".

A Delphi mostrou "abertura" para haver deslocação de pessoal da Guarda para Castelo Branco, mas o sindicalista não acredita que haja quem faça 200 quilómetros por dia sem compensações. "Estamos a trabalhar com o governador civil e o presidente da Câmara da Guarda para encontrarmos alternativas que ainda não se viram. As indemnizações, o subsídio de desemprego e alguma formação podem garantir a vida a médio prazo, mas o dinheiro gasta-se", conclui.

Entre 31 de Dezembro de 2009 e finais de Maio deste ano a Delphi da Guarda despediu 601 pessoas, a maioria mulheres.



Autor
Notícias da Covilhã

Categoria
Local Guarda

Palavras-Chave
Delphi / Guarda / Revolta / Operários / administração / fábrica / trabalhadores / empresa / vida / cablagens

Entidades
Horário Antunes / Fausto Monteiro / Vítor Tavares / Agência Lusa / Sindicato das Indústrias Transformadoras

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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