Arquitecto diz que projecto da nova Pousada da Serra da Estrela será realista e pragmático, porque se assim não for, "o património desaparece".
O arquitecto Souto de Moura quer recriar a "serenidade monumental" do Sanatório dos Ferroviários, na Serra da Estrela, da primeira metade do século XX, na Pousada de Portugal que está a nascer a partir da recuperação do edifício. É o primeiro projecto na região do vencedor do Prémio Pritzker, o maior galardão mundial na área da arquitectura, atribuído em Março.
O investimento total ascende a 19,6 milhões de euros e os trabalhos arrancaram em Março, informou a Entidade Regional de Turismo da Serra da Estrela. A obra adjudicada à empresa Soares da Costa deverá estar pronta dentro de dois anos e vai requalificar o edifício abandonado a mil e 200 metros de altitude, no concelho da Covilhã. A gestão e a exploração da unidade ficarão a cargo do grupo Pestana Pousadas.
O projecto que está a ser aplicado é uma terceira versão desde que Souto de Moura abraçou a transformação do antigo sanatório, em 1998, a pedido do então primeiro-ministro António Guterres e no mesmo ano em que ganhou o Prémio Pessoa. Desde o desenho inicial, o número de quartos passou de 50 para 90, "para a Pousada ser mais rentável" e "diminuíram-se alguns equipamentos", como um SPA. Apesar das revisões a que o projecto foi sujeito, Souto de Moura diz-se "satisfeito" com o resultado, porque "há que ser realista e pragmático: se não se for, o património desaparece".
Apesar de a futura Pousada preservar as linhas originais do edifício, traçadas por Cottinelli Telmo na década 1920, boa parte está a ser demolida para ser reconstruída. Souto Moura pensava que "a casca estava pronta a recuperar", mas "o betão foi feito há muitos anos, foi um betão pioneiro, com base numa argamassa e areia muito fracas, que se deterioram. Também as armaduras estão muito danificadas por causa de um incêndio". Quando renascer, "a entrada principal do edifício vai passar para o que eram as traseiras", libertando a vasta área frontal com vista panorâmica para toda a região "para um jardim e piscina", explica o arquitecto. Para Souto Moura, o imponente imóvel "não pode ser enfeitado, não se pode ceder a amabilidades que o podiam transformar numa coisa falsa e desvirtuar o espírito original do arquitecto Cottinelli Telmo". Ou seja, "tem que manter aquela serenidade monumental que tem" e que Souto Moura faz questão de estender à decoração, que a seu pedido faz também parte do projecto.
Segundo explica, "não é agradável passar anos e anos a fazer um projecto e depois ser outro a fazer a imagem final: o que pretendi foi manter um certo espírito e sabor da época". Um regresso ao passado que vai ser possível graças a "mobiliário moderno, mas que não faz uma rotura no tempo. Pretendo transportar as pessoas para a época". Afinal, "é essa a função de adaptar um edifício antigo. Se um arquitecto recupera um imóvel antigo, depois há um conjunto de trabalhos como o mobiliário e decoração que têm que ter continuidade nessa coerência" explica à Lusa.
Autor
Notícias da Covilhã
Palavras-Chave
Moura / Souto / Serra / Estrela / Pousada / projecto / Ferroviários / Portugal / Arquitecto / edifício
Entidades
Arquitecto / Souto de Moura / Soares da Costa / Pestana Pousadas / António Guterres
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