Pela minha conta já iremos no PEC 12, ou por aí….
Mais importante do que saber como chegámos aqui, é saber como podemos sair disto – deste pântano que é hoje Portugal.
Sobre a primeira questão, a explicação é ao mesmo tempo simples e complexa.
Simples, porque no fundo sabemos que fomos todos nós, governados e governantes, que nos conduzimos até aqui.
Complexa, porque no seio deste "todos", há certamente grupos que são mais responsáveis do que outros: os governantes dos sucessivos governos e dos diversos escalões; os partidos políticos, de esquerda como de direita, do governo como da oposição; os sindicatos, as ordens e outros grupos de pressão; os vários tipos de lobbies (das obras públicas, da energia, das telecomunicações, etc.); os autarcas, maiores e menores; os dirigentes da administração pública e os que nem por isso; etc.
Complexa ainda porque o estarmos aqui implica reconhecer, afinal, que a democracia portuguesa iniciada em 25 de Abril falhou quanto ao essencial. De facto, se considerarmos os três Ds que foram o seu lema - Descolonizar, Democratizar e Desenvolver -, verificamos que, quanto ao primeiro, deixámos de ser colonizadores para passarmos ao estado de colonizados; quanto ao segundo, vivemos numa situação de democracia tutelada, em que só formalmente nos governamos a nós próprios; quanto à terceira, estamos a caminho de, e apesar de todas as nossas belas auto-estradas, termos de reaprender a andar de burro…
Podemos sair disto?
Aparentemente sim. Não passa um dia sem que uma multidão de economistas, de gestores, de comentadores, de jornalistas, de comunicadores das mais variadas espécies nos diga quais as medidas a tomar para que tal seja possível. No entanto, ainda um governante nos está a comunicar as últimas medidas tomadas, e que irão resolver definitivamente o nosso problema, e já são precisas outras medidas adicionais e ainda mais duras – pela minha conta já iremos no PEC 12, ou por aí…
Assim, nos últimos tempos, a sina de Portugal tem-se assemelhado, cada vez mais, à canção dos Deolinda cujo mote serve de título a este texto, e cujo primeiro verso nos diz que "Agora sim, damos a volta a isto!". Mas, e por uma inexorável lógica de união dos contrários – o tal "movimento perpétuo associativo" que dá título à canção -, o "Agora sim" transforma-se, invariavelmente, em "Agora não":
"Agora não, que falta um impresso.. - Agora não, que o meu pai não quer.. - Agora não, que há engarrafamentos..
- Vão sem mim, que eu vou lá ter.."
"Vão sem mim, que eu vou lá ter"? É o que tem estado a dizer, cada vez mais, a geração mais qualificada de sempre de Portugal - emigrando à procura de outras vidas. Provavelmente é o que nos restará a todos, mais cedo ou mais tarde…
Autor
Joaquim Paulo Serra
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
saber / Portugal / complexa / PEC / podemos / medidas / importante / chegámos / pântano / simples
Entidades
Complexa / Descolonizar / Deolinda / 25 de Abril / Portugal
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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