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Turismo teme perder clientes

2011-12-14

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Devido às portagens.

Autarcas e empresários estão frustrados por não terem conseguido evitar a criação de portagens nas auto-estradas do Interior e temem as consequências do agravamento da situação financeira de empresas e famílias.
As portagens começaram a ser cobradas na A23 e A25 na passada quinta-feira, 8, e, Luís Veiga, porta-voz do movimento Empresário pela Subsistência do Interior confessa sentir "uma grande frustração" que acredita estender-se "a toda a população que sempre viu estas auto-estradas como vias de trabalho", comparando-as à "Segunda Circular ou Eixo Norte-Sul" de Lisboa. Agora, "todo o centro de Portugal esta rodeado de portagens e esta vai ser a região mais penalizada", com "o preço por quilómetro mais caro do País e provavelmente da Península Ibérica", na casa dos nove cêntimos. O empresário destaca que todos os indicadores sócio-económicos mostram o Interior cada vez mais pobre e desertificado que o Litoral, considerando "insultuoso para quem aqui investe que não tenha sido feita uma ponderação" no preço das portagens. Para Luís Veiga, "não há explicação, por mais plausível que seja, que permita compreender isso", defendendo que o mesmo tipo de redução já devia ter sido aplicado nas auto-estradas do Norte e deveria existir também no Algarve.
Amândio Melo, presidente da Câmara de Belmonte, receia que caia por terra a aposta numa rede de museus que tem captado turistas desde que a A23 gratuita desencravou o concelho há 10 anos. O município enveredou por uma estratégia de turismo cultural que considera "muito bem sucedida", graças a espaços como o Museu Judaico de Belmonte ou o Museu à Descoberta do Novo Mundo, que recria a descoberta do Brasil. Mas os trunfos de ser terra de Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, ou acolher uma das mais antigas comunidades judaicas da Europa, "são claramente prejudicados". O problema "é que há empresas que vivem disso e uma redução de turistas vai reflectir-se nessas economias que dão muitos postos de trabalho", destaca. Mesmo para quem vive na Beira Interior, a A23 representava "mobilidade facilitada e permitia a muitas pessoas trabalhassem noutros concelhos" entre a Guarda e Castelo Branco. Agora, "estas medidas estapafúrdias vêm por tudo em causa: as portagens são como dar muitos passos atrás em matéria de desenvolvimento", conclui.
Comissão de utentes pode ir para Tribunal
A comissão de utentes da A23, A24 e A25 avisa o Governo que a luta contra as portagens "não é apenas uma partida mas sim um campeonato" e o próximo jogo pode ter lugar nos tribunais. Francisco Almeida, da comissão de utentes, lançou este aviso em conferência de imprensa, no dia em que se iniciou a cobrança de portagens nestas vias que "em grande parte dos seus troços, têm portagens mais caras que as restantes auto-estradas nacionais".
O recurso aos tribunais não é, no entanto, sinalizou Francisco Almeida, uma medida que vá "limitar a luta e a resistência", porque vai ser apenas um complemento a novas marchas lentas e buzinões, bem como determinar um dia no mês para que as empresas e as pessoas circulem nas estradas nacionais para reafirmar a sua "impraticabilidade" por camiões. Ainda quanto ao recurso aos tribunais, Francisco Almeida adverte que a comissão de utentes vai procurar sensibilizar as pessoas particulares e as empresas para que também, por iniciativa própria, avancem igualmente pela via judicial como complemento "a este combate e à resistência". "É um crime cometido com agravantes porque é o que é a introdução de portagens em auto-estradas sem alternativa em regiões onde o poder de compra é metade, ou mesmo abaixo, da média nacional", diz, acrescentando que alguns dos troços, por exemplo, da A25, "têm custos que chegam a ser 60 por cento superiores aos da A1 (Lisboa-Porto) ou da A5 (Lisboa-Cascais). A comissão de utentes deixa claro que a activação dos pórticos "não é o fim do caminho" porque "os protestos são para continuar".
Empresas apontam à deslocalização
Júlio Fernandes, administrador da Patinter, a maior empresa de transportes do País, com 1200 camiões e com sede em Mangualde, admite que a concentração das operações em Espanha "é uma das opções em estudo". "Concentrar as operações em Espanha é uma das opções em estudo no curto, médio prazo. E reduzir trabalhadores é outra das opções, embora essa possibilidade não nos seja de todo agradável, mas a situação(introdução de portagens nas ex-SCUTS) para isso nos encaminha", adianta. O administrador da Patinter sublinha que a empresa ainda não quer ponderar despedimentos, "mas isso será inevitável, se não conseguirmos fazer transitar os custos acrescidos com as portagens para o cliente final" Em média, por dia, a Patinter tem cerca de 200 dos seus 1200 camiões a circular na A23 (Guarda/Torres Novas), na A24 (Viseu/Chaves) e principalmente na A25 (Aveiro/Vilar Formoso), via que cruza Mangualde, onde se encontra a sede. Para já, a intenção da Patinter, sinaliza Júlio Fernandes, é "falar com os clientes para aceitarem a revisão dos preços, incorporando os custos das portagens, mas todas as opções estão em cima da mesa. Visto que é uma empresa já instalada em França e em Espanha, facilmente poderemos avançar para a deslocalização".
Também Jorge Lemos, proprietário da empresa Transportes Lemos, com cerca de 40 camiões e com sede em Mangualde, equaciona a sua deslocalização como resposta aos mais de 250 mil euros que as portagens na A23 e A25, essencialmente, vão custar. "Não somos contra as portagens desde que existam alternativas credíveis, o que não é o caso EN 16", aponta.
Espanhóis dizem que virão cá menos vezes
Condutores espanhóis abordados pela agência Lusa em Fuentes de Oñoro, junto a Vilar Formoso, consideram "má" a medida de aplicação de portagens na A25 admitindo reduzir deslocações a Portugal, pelos custos acrescidos. "Parece-me mal, porque costumava visitar amigos [em Portugal] e o que tenho que fazer [futuramente] é visitá-los menos vezes, em cada 15 ou 20 dias", declara José Maria, residente em Ciudad Rodrigo. O espanhol acrescenta que procurará "fugir" às portagens pela Estrada Nacional 16 (EN 16), por ter conhecimento que as tarifas, na A25, são "elevadas". Também observou que com esta medida "Portugal vai perder muito", dizendo que conterrâneos "têm amigos" no nosso país "e apartamentos na costa" marítima.
Com as portagens, vaticina que as deslocações irão diminuir e o comércio nacional "vai notar as consequências". Em sua opinião, o Governo fez "mal" em avançar com as portagens nas últimas ex-SCUT, devendo antes ter tomado medidas relacionadas com o aumento de impostos em sectores como "o tabaco ou os artigos de luxo". José Maria diz estar informado das condições de pagamento, mas advertiu que as taxas aplicadas, sobretudo na A25, são "muito altas".
Javier Herrero, de Toledo, também considera as tarifas elevadas, admitindo que nas futuras deslocações ao nosso País procurará alternativas ao automóvel. "Não me parece muito bem, mas se tiver que pagar, terei que o fazer", declara assumindo recorrer ao avião nas próximas viagens. Já Juan Vicente, morador em Fuentes de Oñoro, que utiliza a A25, por razões de trabalho, refere que a medida que entrou em vigor será prejudicial para Portugal porque muitos espanhóis deixarão de "poder ir lá". Diz que futuramente acabarão "as visitas em passeio" e passará apenas a deslocar-se em situações de trabalho. "Se tiver que pagar e não tiver outra alternativa, é algo em que terei que pensar", no futuro, admite Francisco Vermello, de Madrid.



Autor
Notícias da Covilhã

Categoria
Secções Centrais

Palavras-Chave
portagens / Interior / Portugal / auto-estradas / Devido / Autarcas / empresas / Patinter / Francisco / Comissão

Entidades
Luís Veiga / Amândio Melo / Pedro Álvares Cabral / Francisco Almeida / Júlio Fernandes

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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