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Um País de luxo

2011-08-24

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O novo acordo ortográfico pode ter levado à troyca da palavra "luxo" por "lixo" pensando-se que o "u" seriam dois "ii" agarradinhos.

Agosto, "esperanças no rosto". Não sei se já teriam ouvido falar deste provérbio. Seguramente que não, porque ele foi inventado não há mais de dois minutos e apenas para levantar ânimo a quem tanto tem ouvido falar de coisas más traduzidas no tal "lixo", milhentas vezes mencionado em variadas situações. Este Agosto tem vindo a contrariar a palavra com que pretenderam depreciar-nos a todo o vapor. Senão vejamos: imagens de areais repletos de gente de várias línguas são pão nosso de cada dia; albufeiras e margens de rios dão conta de acções de veraneio como nunca antes vistas; estradas atafulhadas de viaturas, repletas de olhares, não quiseram deixar passar sem aplausos a rapaziada das bicicletas; nas aldeias, vilas e cidades as festividades ainda não pararam com palcos construídos à maneira e plateias a abarrotar de admiradores quase em delírio; nas grandes superfícies as filas avolumam-se e os carrinhos passam carregados dos mais variados mantimentos onde não faltam bugigangas bem dispensáveis se o mal fosse mesmo de morte; complexos desportivos, esses então apinham-se de assistentes que vibram de entusiasmo em partidas futebolísticas que não são sinais de mínima pobreza. Estou em querer que quem nos apelidou de " lixo" não era isso que pretendia dizer. O novo acordo ortográfico pode ter levado à troyca da palavra "luxo" por "lixo" levando alguém a pensar que o "u" seriam dois "ii" agarradinhos. Este Agosto parece estar, de facto, a colocar-nos esperanças no rosto, mesmo contando com as subidas do gás e electricidade. Como a gente bastas vezes se engana, leva outros a enganarem-se também. Os responsáveis da gestão nacional ainda estão a tempo de ensinar a uns tantos responsáveis europeus que Portugal é um país de "Luxo" com "L" grande e não leva nenhum "i". Que não haja confusões. Amigos, amigos, negócios à parte, assim se fala em bom português. E mais, se quiserem lições no que diz respeito aos domínios da bola, concretamente na área futebolística, estamos prontos para o que for necessário, pois são poucos os que nos ultrapassam em termos de dirigentes, estádios à maneira, sem falarmos nos treinadores e executantes. A propósito, até estava capaz de sugerir, a quem de direito que, sendo Portugal um país geometricamente rectangular, em época de crise e com as habilidades que vamos demonstrando em negociatas futebolísticas, deveria o Governo mandar colocar uma baliza a toda a largura do Minho, outra no Algarve, marcar o centro do campo na Serra da Estrela e levar toda a população a investir na prática futebolística, no pontapé na bola. Assim se daria corpo a uma actividade para que temos imenso jeito e que vem produzindo avultadas somas nos últimos tempos, as quais se multiplicariam com olhos postos na exportação. Investimento garantido era o que era. Transformar-nos-íamos em excelente pólo de animação, de formação e criação de riqueza, traduzida nuns milhões sem fim, a acrescentar a outras tantas riquezas a que nos encontramos ligados e que existem em cada um de nós, mas a que não damos a devida importância. Senão vejamos e digam se é ou não verdade. Temos imensa prata nos cabelos; ouro nos dentes; ferro nas articulações; depósitos nas ancas; pedras nos rins e no fígado; chumbo nos pés e ainda excelentes reservatórios de gás natural no Interior.
Andamos nós a lamentar-nos para quê? Se isto não é mesmo "luxo", vou ali já venho.
As esperanças no rosto anunciadas por Agosto não falham, mas não embandeiremos em arco porque nunca se sabe quando é que um desconhecido não pode aparecer por aí dando uma cabeçada no árbitro, mesmo fora de jogo.



Autor
sérgio gaspar saraiva

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
Agosto / lixo / luxo / palavra / mesmo / País / esperanças / rosto / pensando-se / ouvido

Entidades
Agosto / Portugal / Luxo / Governo / Minho

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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