Não vale a pena armar em carapaus porque qualquer dia nem já as sardinhas querem nada connosco.
Ó ana … ó ana, era assim que se dizia e ainda continua a dizer quando a gente se vê à rasca para ultrapassar dificuldades e não há maneira de se ver livre delas. Nos dias que correm, porém, dizer ó ANA, ó ANA já não é bem assim. Tem antes a ver com aeroportos e outras coisas que vagueiam pelos ares. A ANA e a TAP foram tema de conversa em dias e noites sucessivas e ainda continuam na ordem do dia, apesar das últimas decisões políticas terem apagado os rabiscos que atafulharam noticiários e debates televisivos já de si amarfanhados por tantas e tantas desgraças.
O ritmo das privatizações parece não querer descartar e o interregno agora concedido à TAP deve ter tido ajuda do Pai Natal que estabeleceu alguma calmaria de certo modo adocicada com as iguarias natalícias. Mas se o domínio dos ares ainda continua inseguro, também o dos mares que nos batem à porta e das gentes a ele ligadas continuam numa constante ondulação que parece não mais ter fim. Que o digam os estivadores em luta sucessiva há não sei quanto tempo e cujo paradeiro parece não mais ter fim. Não vale a pena armar em carapaus porque qualquer dia nem já as sardinhas querem nada connosco. Do bacalhau nem é bom falar.
A entrega de bens públicos estratégicos ao setor privado nunca deixará de ser uma hipoteca do todo nacional. Se o privado tem forças e saber para se erguer e elevar por que razão os gestores nacionais se ficarão pelas covas?
Também o Pai Natal que nos visitou há pouco, justificando-se com o excessivo preço da A23 e outras anexas, apresentou-se de trenó quase vazio e limitado a algumas frágeis guloseimas. Mesmo muitos dos seus congéneres, que em anos anteriores se viam pendurados em varandas e janelas, este ano não quiseram pavonear-se com o caraterístico gorro encarnado e fato a condizer. Sinal de uma crise que persiste não se adivinhando o seu termo e os nefastos efeitos. É que a música está a mudar e de tal maneira assim é que até a gestão da celebérrima Casa da Música bateu com as portas quando as notas se desviaram do tom afinado que havia sido prometido. Outros responsáveis em meios televisivos de grande audiência, em setores financeiros e culturais se lhe seguiram. Os desentendimentos em domínios sociais estão também em constante desalinho e a crescer a olhos vistos.
Cá pelas nossas bandas a música há muito começou a desafinar em vários campos com nuvens carregadas e enegrecidas por bocas que vão lançando tons fora do alinhamento da partitura governamental e autárquica. Os periódicos têm feito eco de tais desafinações que nunca nos passaram pela ideia poderem existir.
O exercício governamental, a todos os níveis, exige troca de ideias, debate e estudo das diferentes posições em busca da eficaz solução para os problemas, no sentido do bem comum e da dignificação da pessoa humana. Será esse o exemplo que vamos colhendo de muitos que nos governam e cujos berros, por vezes, nos entram pelos ouvidos e nos fazem esgargalar os olhos de admiração ?..
Autor
Sérgio Gaspar Saraiva
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
ana / música / TAP / delas / Natal / dizia / rasca / ultrapassar / dificuldades / livre
Entidades
Ó ana / Casa da Música / ANA / TAP / A23
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