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Foi você que pediu... um barbeiro?

2011-05-25

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ASAE fechou-lhe a barbearia, por isso passou a trabalhar em casa dos clientes.

António Feijão, de 71 anos, é um dos poucos barbeiros de aldeia ainda em actividade. Um dos últimos exemplares activos de uma profissão em vias de extinção. "Profissão não. Arte!", reclama entre sorrisos, enquanto explica que "não é pelo dinheiro, mas pelo gosto, que continua a cortar cabelos a novos e velhos na freguesia do Teixoso… "e arredores".
Iniciou-se na arte da "barba e cabelo" por volta de 1954 na tasca do Manuel Barbeiro que, para além de passar a tesoura pela guedelha dos clientes, "também arrancava dentes e curava feridas", lembra. "Eram outros tempos, e a maioria dos clientes pagava em géneros. Sobretudo em sementes de trigo, centeio e milho que o mestre vendia aos moinhos e às padarias da região".
Aos 14 anos aprendeu a arte, tomou-lhe o gosto e, desde então, nunca mais pousou a tesoura e o pente. E só tem pena de já não poder barbear os clientes porque "as mãos já tremem um bocadinho".
Operário fabril de profissão, manteve sempre a actividade paralela, e clientes nunca lhe faltaram. Nem faltam. Até na sua breve passagem de três meses pelo exército, arranjou maneira de "fazer uns trocos para gastar nas licenças, a cortar cabelo aos militares".
Reformado há cerca de uma década, decidiu abrir uma barbearia no Teixoso, onde reside. O projecto correu bem durante cerca de cinco anos, até uma inspecção da Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE), há dois anos, o ter obrigado a encerrar o estabelecimento por falta de alvará. "Não tenho nenhum ressentimento em relação a isso", assegura. "Não tinha licença, é verdade, porque o rendimento não compensa, mas apesar de ser numa casa velhinha, a barbearia até tinha boas condições", descreve.
Ficou desiludido, mas não baixou os braços. Literalmente.

Barbeiro ao domicílio
Ao longo de mais de meio século de actividade granjeou um conjunto assinalável de fiéis clientes que, não tendo um local onde se dirigir para cortar o cabelo, começaram a solicitar os seus serviços… ao domicílio. António Feijão não se fez rogado. Juntou todos os utensílios necessários num malote e começou a percorrer as ruas da freguesia para cortar o cabelo de porta-em-porta. Por mês, faz cerca de 30 a 40 cortes, só no Teixoso. E ainda vai na sua "acelera", às aldeias vizinhas visitar dois ou três clientes.
Acaba por ser um serviço fundamental e que mais ninguém presta, porque grande parte da clientela é composta por pessoas idosas, algumas das quais acamadas, e sem possibilidade de se dirigir a um barbeiro ou cabeleireiro. Aliás, 10 dos seus mais leais fregueses residem no Lar Anita Pina Calado, que até lhe disponibilizou uma pequena sala para que possa aparar o cabelo aos utentes.
Foi precisamente no lar da terceira idade do Teixoso que o NC foi encontrar o barbeiro: com a tesoura e o pente à volta da cabeça de João Bordadágua, que reclama o título de "cliente mais antigo". Com 76 anos, o idoso garante que raramente recorre a outro barbeiro e que há mais de 50 anos só confia em António Feijão para lhe deixar o cabelo como gosta. "Às vezes tenho que esperar vários dias até que ele tenha tempo de me atender, porque já tem outros pedidos, mas vale a pena", garante.



Autor
Alexandre Salgueiro

Categoria
Local Covilhã

Palavras-Chave
clientes / cabelo / barbeiro / Teixoso / cortar / Feijão / profissão / António / tesoura / Arte

Entidades
António Feijão / Manuel Barbeiro / João Bordadágua / ASAE / Operário

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

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