As batas amarelas que humanizam o Hospital

2011-01-26

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Cerca de 100 voluntários tratam das dores do corpo e alma no CHCB.

Reformei-me, os meus filhos casaram, sempre gostei de ajudar os outros e veio-me à cabeça a ideia de me inscrever como voluntária, foi o que fiz", conta Maria Leocádia Franco, de 63 anos. Há dois anos que uma vez por semana vem ao Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB), veste a bata amarela e percorre os corredores a conversar com os doentes das enfermarias.
Foi-lhe atribuída a Cardiologia, onde se mostra disponível para conversar com quem o quiser fazer, ajuda a partir a carne à hora da refeição, a esmagar a fruta e a animar quem se sente mais triste, embora sublinhe que a vontade do doente é sempre respeitada. "Se as pessoas não quiserem conversar, não maçamos ninguém", salienta.
"É uma coisa que me preenche muito, adoro fazer isto, nunca imaginei que gostasse tanto de o fazer", realça, ainda que por vezes não consiga evitar ir a pensar a caminho de casa nos problemas com que se depara no hospital.
Maria Leocádia é um dos cerca de cem voluntários que prestam serviço no Centro Hospitalar Cova da Beira, e que no último fim-de-semana estiveram reunidos nas I Jornadas de Voluntariado da Cova da Beira, no auditório do Hospital da Covilhã. Uma iniciativa que contou com 150 inscritos e a sala sempre preenchida a ouvir as intervenções de oradores como Manuel Santos Silva, da Universidade da Beira Interior, a falar de voluntariado e cidadania, Elza Chambel, presidente do Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado, a abordar o voluntariado e a terceira idade, Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Nacional, a perorar sobre a acção humanitária a social, Vítor Feytor Pinto, da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, ou o representante da Assistência Médica Internacional a discursar sobre o voluntariado na saúde.
Mais velhos "são mais comprometidos"
A assistência era maioritariamente de uma faixa etária acima dos 50/60 anos, à semelhança da maioria dos voluntários que se vêm a circular pelas instalações do hospital. Mas Nuno Abreu, responsável pela organização, diz que ali presta serviço um grupo heterogéneo de pessoas, doa 19 aos 83 anos.
Até devido à proximidade com a UBI, há muitos jovens que aderiram ao Voluntariado da Liga dos Amigos do CHCB. Porém, são essencialmente gente presente sazonalmente, de acordo com o calendário escolar. Os mais velhos, nota Nuno Abreu, "são mais comprometidos, até porque têm maior disponibilidade, embora haja muitos voluntários ainda profissionalmente activos".
"Ser-se voluntário é uma prática de vida", salienta Nuno Abreu, que sublinha a abrangência de serviços que abarcam e o facto de não estarem conotados com qualquer confissão religiosa ou política.
Voluntariado tem de ser "mais profissional"
Nas I Jornadas, que tencionam repetir, estiveram presentes participantes não apenas ligadas ao CHCB como também de outras zonas do País. O objectivo é retirar ensinamentos para que a ajuda prestada seja cada vez de melhor qualidade. "Pelo luxo dos palestrantes, pela riqueza que nos deixaram, os voluntários terão uma capacidade diferente de desempenhar o seu trabalho", acredita o responsável pelo grupo. Até porque, acentua, "a formação é essencial".
No horizonte está uma futura edição da iniciativa, direccionada para outros campos dentro do voluntariado. "Há um campo enorme onde se podem desenvolver muitas temáticas", refere Nuno Abreu.
Bernardino Gata, presidente da Liga dos Amigos do CHCB, destaca a "acção diária muito intensa" desenvolvida nos Hospitais da Covilhã e Fundão. As jornadas, frisa, servem para "tirar ilações". "O voluntariado tem de ser menos naif e mais profissional, porque a nossa função é exigente", defende Bernardino Gata.

(Reportagem completa na edição papel)