NEWSLETTER MEDIA
O Arquivo Web do Notícias da Covilhã. Explore o passado deste jornal centenário
O Arquivo Web do Notícias da Covilhã. Explore o passado deste jornal centenário O Arquivo Web do Notícias da Covilhã.
Explore o passado deste jornal centenário

Quanto vale a soberania?

2011-10-12

00:00    00:00

É imperioso que a razão prevaleça sobre a esquizofrenia dos défices e das ambições históricas, que não cabem no projecto europeu.

A construção Europeia dispensou de forma mais ou menos formal qualquer resquício de legitimidade democrática que lhe adviesse da intervenção directa dos povos, dos respectivos Estados-membros, na sua fundação. Teve como ideal a criação da União do Carvão e do Aço, o tratado CECA, mas também, reduzir a possibilidade de que, nacionalismos exacerbados personificados no passado pelo Nacional Socialismo Alemão e pelo Partido Nacional Fascista Italiano, pudessem recriar a força militar que antes tinham, com novas esperanças expansionistas.. Hoje, não há guerra na dimensão convencional do termo, mas a Alemanha domina de outra forma, e nós europeus, lá nos deixamos ir, quase sem contestação e com culpas consideráveis (por termos vivido "à tripa forra" sem pensar no futuro), talvez por isso os ideais da UE, já estão em cortejo fúnebre, com a falha inevitável do euro nos moldes em que foi pensado e implementado (com excesso de valorização deste no caso Português, só para lembrar 200$482), com o acordo de Schengen a ser colocado em questão por países que tem necessidade de preservar postos de trabalho para os seus cidadãos e como se isso não chegasse, em termos de situações fracturantes no seio da UE. Temos agora a senhora chanceler alemã Angela Merkel a propor que os países endividados, devem ser sujeitos a represálias e a perdas de soberania, exigindo mais uma alteração aos tratados europeus para poder cumprir esse desiderato.
No nosso caso, entenda-se o esplendor de Portugal, após mais de 800 anos de soberania, tal proposta é intolerável e indigna vinda donde for, mais ainda, quando oriunda de um país que tantos problemas acarretou à Europa no passado e que só no ano transacto acabou de pagar as indemnizações de guerra a que foi condenado pelas suas responsabilidades na Segunda Grande Guerra Mundial e se sente agora com dinheiro no bolso para exercer coação à liberdade das nações a troco de euros.
Mas por outro lado e desabafos à parte, será que neste momento poderá haver perda de soberania maior, que aquela que já sofremos, quando deixamos de emitir moeda e subordinamos o direito nacional ao direito europeu?
Sempre poderíamos dizer que temos os tratados para escudar as nossas posições, mas neste momento, parece-me que os tratados europeus, de tratados, já só têm o nome, sendo constantemente substituídos por um verdadeiro Diktat da Senhora Merkel, às vezes isolada, outras vezes em parceria com o Senhor Sarkozy que na defesa de uma influência que almeja, se junta a chanceler alemã para se fazer ouvir desde os Champs Elysees, numa demonstração da influencia do eixo franco-alemão, que tem 80 projectos conjuntos para realizar até 2020. Entre eles, a França apoia a aspiração da Alemanha a ter um lugar de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU e os dois países apresentarão, logo que possível, uma candidatura à presidência conjunta da Organização de Segurança e Cooperação Europeia.
Custa-me assistir ao desmoronar da União Europeia sacrificada num altar de crise, haverá quem se resigne a isto, e diga que a nova Alemanha tem que mandar na Europa e refundá-la, mas eu digo que a Europa não é só a Alemanha, e que não é a esta que deve o seu nome, mas antes à Grécia e à sua mitologia.
É por isso imperioso que a razão prevaleça sobre a esquizofrenia dos défices e das ambições históricas, que não cabem no projecto europeu, e que compreendam que os Povos, tal como as pessoas, têm uma dignidade intrínseca que representa o nosso limite de tolerância e esse está a esgotar-se.
Será que temos a História, de pé à nossa frente, a cobrar o seu elevado preço, passando um véu indelével sobre as ideias de grandes estadistas como Jean Monet e Robert Schuman?
A resposta segue-se nos próximos tempos..
Resta-nos pois a nossa língua e recordando Fernando Pessoa, que escreveu através do seu heterónimo Bernardo Soares, in "Livro do Desassossego "…. A minha Pátria é a língua portuguesa…" e essa, mais acordo menos acordo, não podemos deixar que nos tirem, para já!



Autor
Jorge Saraiva

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
Alemanha / tratados / soberania / Nacional / Europa / europeu / europeus / Europeia / guerra / países

Entidades
Angela Merkel / Diktat / Senhora Merkel / Senhor Sarkozy / Jean Monet

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

partilhe!

veja também

As freguesias rurais

Só a ignorância sobre o que vale e significa a nossa ruralidade e a estabilidade do nosso desenho te...

Voltas que o Mundo dá

Sem o Euro será todo o edifício Federalista Europeu que se vinha ensaiando construir que ficará em c...

VOLTAR À PÁGINA INICIAL