É sempre a tirar. Menos férias, menos feriados, menos subsídio de desemprego, menos salário.
Desde o início do século, sucessivos governos têm vindo a patinar artisticamente os números do nosso descontentamento. Diz o ditado que para além da pequena mentira temos ainda a grande mentira e no nível seguinte a estatística.
De facto, entre nós, os números são de tal maneira torturados e martelados que conseguem justificar o momento e o seu contrário num tempo a seguir. As recentes interpretações da chamada execução orçamental mostram que a política actua de acordo com as suas conveniências e que a verdade dos factos é..afinal uma mentira ocasional.
Os patins políticos permitem qualquer dança. Volta não volta, há sempre alguém que, quando menos se espera, recebe como oferta um belo par de patins e deslisa suavemente para um qualquer lugar no bem-bom do sistema. Outros, mais sofisticados na arte da patinagem, patinam pela Europa e até pelo mundo. Claro que nestas artes do patim o gabarito é alto e os números são de arregalar olhos e encher os bolsos. A crise vai passando ao lado. São as excepções do sistema com justificações difíceis de engolir. Os esquemas pessoais continuam na ordem do dia a defender interesses instalados que chocam com os sacrifícios aplicados. Não pode haver interesses que fechem o futuro e tentem arquivar pessoas num qualquer canto da sociedade.
Saber ver as consequências de tudo o que "troikamente" vai acontecendo implica estar atento ao conhecimento dos outros e ao sofrimento causado. A economia, nestes assuntos, tem que ser mais social e humana. A realidade é preocupante. Mais desemprego, maior custo de vida, mais impostos a cair sobre o dia a dia das pessoas. Vivemos em estado de "bullying" fiscal, tal a fúria com que atacam sistematicamente o já exprimido orçamento dos cidadãos. Não há uma única benfeitoria. É sempre a tirar. Menos férias, menos feriados, menos subsídio de desemprego, menos salário. Dizem-nos que estamos a meio da ponte. Com as "portagens" que já facturaram ainda só chegaram a metade? A situação é de verdadeiro espanto pois todos os dias lemos nos jornais mais e mais buracos de dimensões impensáveis. Depois dos buracos da Madeira e da Parque Escolar, do buracão do sector público dos transportes e das contas caladas das célebres parcerias público-privadas, surge agora mais um astronómico buraquinho para as autarquias ao qual deverá ser acrescentado mais uma conta calada das parcerias público privadas municipais. Falta ainda percorrer metade da ponte mas, sabemos que quem vai desembolsar as "portagens" são os pagantes do costume. O recente acordo que o governo fez com as cerca de 50 autarquias em dificuldades significam ainda mais impostos para os munícipes. Como foi possível atingir este descalabro? Presidentes da República, Tribunal de Contas, Assembleia da República, Ministros das Finanças, Inspecção Geral de Finanças e tantos outros responsáveis foram assistindo à patinagem numérica, bem instalados nos seus pedestais. Sabe-se agora que todos sabiam de tudo mas, responsáveis não existem. Só cidadãos que pagam os estragos causado por …"alguém", que afinal é …"ninguém". Depenaram-nos, depenaram a democracia e agora patinamos nas dívidas.
Autor
José Vicente Ferreira
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
mentira / desemprego / qualquer / patinagem / política / República / Finanças / contas / tirar / férias
Entidades
Assembleia da República / Ministros das Finanças / Europa / Madeira / Parque Escolar
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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As cadeiras do poder e dos interesses têm que levar um grande abanão...
Um pouco mais de silêncio, mais trabalho e diálogo sério entre os vários actores políticos ajudariam...