No Dominguizo.
Após as tentativas infrutíferas para conseguir que as dívidas fossem saldadas, o acumular dos calotes e a perspectiva de não vir a recuperar parte desse dinheiro, Vânia Duarte tomou a decisão de afixar na porta da sua mercearia, no Dominguizo, um aviso de que iria divulgar o nome dos incumpridores, um por semana. Durante um mês, em Junho, a folha ficou em branco. "Dei esse tempo para as pessoas pagarem ou fazerem um acordo de pagamento", explica. Em Julho começou a tornar público o nome dos maiores devedores da sua loja, a maior parcela no valor de 1728 euros, e a lista foi aumentando ao longo de cinco semanas.
O método teve alguns resultados, suscitou a curiosidade da população, levou algumas pessoas a saldarem as quantias em falta e também motivou ameaças à proprietária da mercearia, que diz não ter perdido clientes, porque os que foram expostos já tinham deixado de o ser.
"Quem tem carácter e vergonha, veio pagar, quem não tem vergonha não se importa", frisa. Com o rol ao lado, enquanto faz a conta a mais uma cliente que veio buscar para o almoço alguns produtos em falta, Vânia, há sete anos à frente do estabelecimento mais antigo da aldeia, sempre fiou. "O normal é as pessoas virem pagar no final do mês". Até agora, quando alguém estava em maiores dificuldades, também facilitava. Ainda o faz com algumas pessoas, mas os "escaldões" levaram-se a estabelecer um tecto e a ser mais criteriosa.
"Uma pessoa tem pena e deixa-se levar"
Acabou por deixar os calotes avolumarem-se por antes as pessoas em causa terem cumprido anteriormente e por "pena". "Uma pessoa tem pena e deixa-se levar pela carência que vê, mas depois as pessoas não têm consideração", indigna-se. Por um lado, via esses clientes recorrerem à sua mercearia quando não tinham dinheiro, mas quando tinham como pagar preferirem as grandes superfícies. Por outro lado, custava-lhe ver as pessoas passarem por si sem darem satisfações de dívidas com dois e três anos.
"Quis dar-lhes uma lição, para não andarem aí com a arrogância e a prepotência de quem parece que não deve nada", justifica Vânia. "Para não fazerem o mesmo a outros", acrescenta.
Segundo a comerciante, a maior parte das pessoas "achou bem", embora também houvesse quem lhe tivesse chamado burra por se ter deixado enganar. A alguns clientes teve de explicar que não tinham de ter receio de ser expostas por a lista só se aplicar a dívidas antigas de quem não tinha intenção de pagar.
"Às vezes ainda ficam ofendidas quando lhe pedimos o dinheiro"
Foram várias as abordagens antes de agir, mas "às vezes as pessoas ainda ficam ofendidas quando lhe pedimos o dinheiro", conta. Com margens reduzidas, diz que o rol "estava a pôr em causa a viabilidade do negócio". Até porque, apesar de não receber, tinha de pagar aos fornecedores, a água, luz e os impostos. "A situação tornou-se insustentável", realça.
Porque é que deixou levar fiado até esses montantes? Vânia Duarte encolhe os ombros. Para além da pena, conta que são pessoas conhecidas. Primeiro pagavam, depois vão-se atrasando. Houve quem mentisse e justificasse os atrasos com ordenados em atraso, prometendo saldar a dívida quando recebesse e continuasse a aumentar o rol. A cliente com o maior calote tem crianças, há também o caso de idosos com poucos rendimentos e as situações de debilidade social faziam a empresária vacilar.
Grande parte do dinheiro está convicta de que não é recuperável. Ainda assim, considera ter "cumprido o objectivo".
Autor
Ana Ribeiro Rodrigues
Palavras-Chave
Dominguizo / pessoas / Vânia / pagar / dinheiro / mercearia / pena / tinham / clientes / pessoa
Entidades
Vânia Duarte / Vânia / Quis / Dei / Dominguizo
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