Há mais de uma década que mantemos pântano político e tanga no Estado.
Vão-nos levando tudo, cada dia que passa, cada hora que se aproxima, cada minuto que desaparece, e, num segundo, tudo se desvanece. Só nos falta levarem a alma!
Aquela pedra angular da personalidade, duma pessoa de bem, se dissipou. Longe vão os tempos dos nossos antepassados em que um aperto de mão ou a afirmação, numa tomada de decisão, sem qualquer juramento, valia como lei. Era quase tão sagrado como a pedra de ara na religião católica. Já tínhamos ultrapassado os tempos da pedra polida, trabalhávamos na pedra preciosa, e, nos tempos que correm, somos confrontados com horríveis sonhos no quase retrocesso para os tempos da pedra lascada.
Vamo-nos rindo, em sofrimento, com a palavra tão em voga – "irrevogável" –; saindo das profundezas dum vulcão, entranhas duma "grande personalidade", que nos vomita para os olhos, nas televisões, e nos jornais, com o seu semblante – governante sem palavra – , numa visão de autêntica macacada (já não dizemos "palhaçada" por ser uma palavra proibida em certos espaços circenses); no consumir, escravo das incompetências de muitos que nos desgovernam, o dia a dia de todos nós.
Muitos atiram a primeira pedra, como outros atiram a pedra mas escondem a mão, em cobardias sobejamente conhecidas.
Depois, depois, quem deveria chamar à pedra os responsáveis pela caótica situação prefere que o "seu" povo lhe proporcione antes uma pernoita com a sua Maria, nas Ilhas Selvagens, onde esse povo pobre, doente e descontente, se sentiria mais aliviado se a permanência de sua excelência ali fosse vitalícia. Evitava-se, assim, andar tanto a dar por paus e por pedras, e andar sistematicamente com quatro pedras na mão.
Aquelas alminhas governamentais; quase de fazer chorar as pedras, pensando que se sentem de pedra e cal, com a sua provocação, em cada dia que passa, em cada palavra que soltam, em cada atitude que tomam; fazem-nos andar sempre com a pedra no sapato.
É que, "Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida, como outra coisa qualquer".
Querem acabar com ele, pois há mais de uma década que mantemos pântano político e tanga no Estado, assim como as reformas, que eram para imediato, acabaram numa mão cheia de nada.
Mas, "como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso", os senhores dos palanques do poder nos vão prometendo grandes feitos e logo surgem os defeitos.
Sendo que, "em serenos sobressaltos como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam", já se agiganta, há muito, o espectro dos lóbis, desigualdades, protecionismo, pobreza, impunidade e compadrio.
Mas, "como estas aves que gritam em bebedeiras de azul", vai a contrariedade com o défice entre partidos políticos e políticos quebrados.
Mas, "eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento", nos vão enchendo de descaradas petas, em que o que hoje é verdade, amanhã é mentira.
Evidentemente que, "eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel, base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral", para nos conduzirem a bom porto, é preciso "lançar ao mar" a escória de oportunistas, corruptos, traidores e embusteiros do pobre povo.
E, neste "contraponto, sinfonia, máscara grega, magia, que é retorta de alquimista" , ao invés de convertermos o metal vil em ouro, somos confrontados com a retoma a vê-la por um canudo, não obstantes os "Pecs" e os agora programas de austeridade, à espera de tranches dos empréstimos que pagamos, à grande e à francesa, como sói dizer-se.
É neste "mapa do mundo distante, rosa dos ventos, Infante, caravela quinhentista, que é Cabo da Boa Esperança" que vamos continuando a ver a dívida sempre escondida, a fragilidade da competitividade, a economia numa agonia, quando houve alguns negócios fortes.
O "ouro, canela, marfim, florete de espadachim, bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim" se inseriram nas privatizações da PT, EDP, GALP, REN, Portucel, ANA, e sabemos lá que mais.
Com a "passarola voadora, para-raios, locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão do átomo, radar, ultrassom, televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar",
logo "visionários", "iluminados" e "homens de Estado", mas em estado vergonhoso, nos vêm trazer uma mão cheia de coisas: a ruína do BCP, assistida pela CGD, as fugas de informação, a vergonha manipuladora das escutas, a espionagem, e a promiscuidade entre empresas, num longo etc.
E, portanto, já que muito ainda haveria que dizer, entre Face Oculta, o Polvo, o escândalo do BPN, do BPP, as PPP, os swaps, os estádios, as estradas, o aeroporto e o TGV, e outras mais, ficamos por aqui porque "eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança".
Autor
João de Jesus Nunes
Categoria
Opinião
Palavras-Chave
Pedra / Vão-nos / mão / Estado / tempos / pedras / sonho / palavra / quase / andar
Entidades
Maria / Infante / Colombina / Arlequim / PT
Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
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