Trabalharam lá, viram-no fechar, ficar abandonado e com o NC viram a sua recuperação.
"Vamos matar saudades da nossa antiga casa", diz Maria Luísa, antiga costureira, assim que se encontra com Maria Olinda, durante 14 anos funcionária da secretaria do antigo Sanatório da Serra da Estrela. No percurso de cinco quilómetros até à Porta dos Hermínios perguntaram pela família, pela saúde, esbatem o afastamento de muito tempo sem se verem. Mas quando, feito o U perfeito da curva, a fachada agora em tons salmão do edifício se impõe no horizonte da estrada sinuosa, as exclamações sucedem-se. Regressam a um passado onde foram felizes, atropelam-se a lembrar o quarto onde dormiram, os espaços onde conviveram, o que funcionava aqui e ali nas casas anexas.
A cor, fiel ao projecto original de Cotinelli Telmo, é-lhes estranha. E alinhados com a entrada do edifício observam com minúcia a fachada de mais de 160 metros, a analisar cada alteração feita. Para além dos varandins terem sido reabertos, apenas detectam a eliminação de um muro no acesso à escadaria. "Está muito bonito, graças a Deus! Não queria morrer sem ver isto recuperado", diz Maria Olinda Viegas.
No espaço fronteiro povoado por pinheiros, mantém-se o pequeno lago. E na extremidade poente do edifício está uma piscina exterior. A entrada, essa, faz-se agora pelas traseiras, onde se localiza também o estacionamento. E se por fora não notam grandes mudanças, o interior, visto por quem conhece o antigo Sanatório como poucos, revela grandes modificações e o percurso é acompanhado de sucessivas interjeições e pela busca de um passado que já não existe, para dar lugar a uma moderna Pousada de Portugal.
Acácio Alves, 78 anos, 14 deles motorista na casa onde se tratavam tuberculosos, refere-se ao local como um lugar de superlativos. A lavandaria, acentua, "era colossal, nunca vi nada igual". É agora uma ampla sala de jogos. Ao lado há um restaurante, um bar e outras áreas sociais. Os salões, comenta Maria Luísa, são as zonas mais semelhantes com o tempo em que ali viveu.
Guiados por uma engenheira que acompanha a obra, os antigos funcionários da secretaria, rouparia e o motorista fazem questão de visitar o local exacto dos seus postos de trabalho. "O meu lugar era aqui", explica, entusiasmada, Maria Luísa, desenhando com gestos a sua máquina de costura. Os corredores agora cobertos com um fino tapete de pó das obras em fase de acabamentos, recorda Maria Olinda, espelhavam outrora o reflexo de quem neles se movimentava. "Eram lavados duas vezes por dia", informa. No salão lamenta o desaparecimento dos painéis decorativos de outrora, dos tapetes de Arraiolos e de outras peças que faziam do Sanatório um local onde havia "do bom e do melhor".
"Estou maravilhado com isto"
As 12 freiras espanholas que asseguravam os serviços de enfermagem dormiam numa camarata na extremidade do edifício. Para surpresa de Maria Olinda, de Maria Luísa e do marido, Acácio, existe agora aí uma piscina interior. "A água ainda vem do depósito?", quis saber Acácio. "Estou maravilhado com isto", sublinhou, depois de já ter também passado pela sauna, banho turco, a cozinha nada semelhante à antiga e por um dos 92 quartos, de cor branca.
À medida que avançam pelos familiares corredores, as memórias irrompem. Ver em ruínas uma parte do seu passado era uma ferida que tinham por sarar. A ponto de apenas Maria Luísa gostar de ali voltar com regularidade. Acácio, para não ver "o abandono" de um edifício que a degradação tornou "irreconhecível", preferia não se aproximar. Tal como Maria Olinda. "Eu vou comovida, de alegria", salienta Maria Luísa, que já tinha visto a obra por fora e se mostra satisfeita por também por dentro estar "tudo impecável". "Eu estou maravilhado com isto. Excede, em muito, o que esperava", confessa o marido, Acácio Alves.
Um dos grandes desejos de Maria Olinda Viegas era ver o edifício onde passou o tempo mais feliz da sua vida recuperado. Com os vários avanços e recuos achou que não se ia concretizar e é com emoção que observa a reconversão do imóvel quase concluída. Só lamenta que os anexos, como a casa do director e a casa do pessoal não sejam também reabilitadas. "Está lindo! Quando abrir, gostava de vir cá passar uma noite", comenta a antiga secretária, antes de olhar, demoradamente, mais uma vez para a futura pousada. "Que isto não vai ser barato, não vai", avisa Acácio.
Pousada pronta no final do ano
As obras de conversão do antigo Sanatório dos Ferroviários numa Pousdada de Portugal, propriedade do grupo Pestana, começaram no início de 2011. A conclusão chegou a ser apontada pelos responsáveis para Fevereiro ou Março deste ano, mas os trabalhos atrasaram e o empreendimento só deve ser inaugurado no final do ano.
(Reportagem completa na edição impressa do NC)
Autor
Ana Ribeiro Rodrigues
Palavras-Chave
Maria / Olinda / Luísa / Acácio / Sanatório / Vamos / Estrela / edifício / Trabalharam / Serra
Entidades
Maria Luísa / Maria Olinda / Cotinelli Telmo / Maria Olinda Viegas / Acácio Alves
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