Turismo judaico sem comida

2013-03-20

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Falta oferta na restauração kosher.

"Não há nenhuma oferta de comida kosher para grupos de judeus que venham visitar o Interior". Quem o diz é o rabino da Comunidade Judaica de Belmonte, Elisha Salas, que está a desenvolver um Centro de Formação Judaica, na vila, através da recém-criada Associação Shavei Israel.
A nova oferta ficará localizada num edifício junto ao jardim público, já está a funcionar "aos poucos" e terá como objectivo não só a formação, mas também o lazer, a cultura e a gastronomia. "Queremos ter um espaço aberto para todas as pessoas que queiram participar num ambiente judaico ou israelita em algum momento da sua vida. Terá o objectivo de formar e educar pessoas para temas como o judaísmo, ensinar línguas, partilhar cultura, trazer expositores e a realização de palestras. Mas também terá uma parte dedicada à gastronomia e lazer. Queremos ter um espaço kosher. Que dê comida kosher, certificada, para grupos judaicos. Um espaço em que se sintam em Israel" afirma o rabino.
Elisha Salas explica que o próximo passo é apresentar o projecto a diversas entidades que ajudem a tornar "realidade este sonho", como a Rude, Prover ou rede de Aldeias Históricas. "Temos que trazer soluções para as limitações que tem todo o sistema de turismo judaico do Interior. Faltam alimentos kosher para grupos que venham cá. Não há nenhuma oferta" lamenta, apesar de reconhecer que quando chegou, em 2003, muito menos havia. "Hoje já temos vinho, azeite, pão, sumo, queijo e compotas kosher, ou seja, basicamente uma mesa judaica. Hoje um judeu já pode comer em Portugal, mas o que precisamos é ter espaços que deem aos judeus a confiança de que podem comer este tipo de comida cá. O centro irá ajudar nisso" acredita.
O rabino da Comunidade Judaica de Belmonte lembra que nenhum judeu vem de lugares como os Estados Unidos ou Israel para o Interior a não ser pelo atractivo da história judaica. "E é nisto que temos que nos formar, para que o turista que vem de tão longe saia de cá satisfeito. Se vem e não recebe nenhum tipo de oferta, ou informação, vai frustrado. E não recomenda esta zona como ponto de visita. Agora se tivermos guias turísticos formados, através do centro, um sítio de comida kosher, um grupo que chegue cá ficará contente. É preciso sensibilidade para estas matérias" alerta.

"Governo tem que apoiar"

Na passada sexta-feira, 15, e sábado, 16, em Caria, na Casa da Torre, decorreu o encontro "Enigmas da herança judaica", que juntou na vila vários especialistas nesta matéria. A escolha de Caria para a realização do evento prendeu-se, entre outras razões, pelo facto de ali terem sido identificadas mais de 40 marcas cruciformes na zona história e uma arca sagrada, onde os judeus guardavam a tora. "Todos os dias falamos de Belmonte mas, curiosamente, há mais marcas em Caria" afirma o autarca Amândio Melo, que contudo ressalva que em Belmonte as várias transformações operadas no Centro Histórico terão apagado as marcas do judaísmo na arquitectura. "Quase todas estas zonas de fronteira terão tido uma ligação ao judaísmo" afirma. Aliás, segundo o NC apurou, ultimamente também em Manteigas têm sido recolhidos vestígios dessa presença.
Já o presidente da Rede de Judiarias de Portugal, Jorge Patrão, lembra o peso que o tema judaísmo pode ter no turismo e recorda que a rede começou com apenas nove municípios e passado um ano, já são 19 os que aderiram, sendo os últimos a chegar Lisboa, Elvas e Leiria. "Esta temática abre portas que de outra forma não seriam abertas" acredita Jorge Patrão, que pede apoios ao Estado para que a rede cresça a bem do desenvolvimento de Portugal. "Este tema desperta muitos interesses. Há, por exemplo, acordos para que a investigação científica possa surgir em colaboração com Israel. O Governo tem que perceber que se trata de um projecto estratégico e não devem ser apenas os estados que nos são estranhos a apoiarem" critica.