NEWSLETTER MEDIA
O Arquivo Web do Notícias da Covilhã. Explore o passado deste jornal centenário
O Arquivo Web do Notícias da Covilhã. Explore o passado deste jornal centenário O Arquivo Web do Notícias da Covilhã.
Explore o passado deste jornal centenário

As árvores e a sua faceta cultural

2014-04-02

00:00    00:00

São cortadas arrancadas ou podadas de forma selvática com o pretexto de que causam alergias.

É difícil imaginar a nossa cidade ou a nossa região sem os seus habitantes de maior envergadura e de mais vetusta idade, as árvores. Estes seres vivos habitam a terra há mais de 370 milhões de anos, chegaram primeiro do que nós, razão só por si suficiente para que lhe devêssemos maior respeito. São os membros mais velhos, mais complexos e prósperos do reino vegetal. Desde que surgiram pela primeira vez no planeta têm desempenhado um papel um papel fundamental na regulação do clima. Sempre lhe recorremos para satisfazer as nossas necessidades alimentares, de construção, de combustível entre tantas outras. Mas também nos saciaram a nível cultural e espiritual. As árvores, cuja beleza inspirou poetas e artistas, foram motivo de veneração na maior parte das religiões. O bosque sagrado, onde se procura a iluminação divina é comum a várias culturas civilizacionais, como a dos ameríndios, a dos celtas ou dos lusitanos. Buda alcançou a iluminação debaixo de uma figueira, Dafne transformou-se num loureiro quando fugia de Apolo, o carvalho era a árvore de Zeus, no centro do Paraíso colocou Deus uma árvore à qual a imperfeição humana não soube resistir.
Pelas crenças e lendas que encerram, as árvores não poderão deixar de se constituir como um importante prolongamento do património cultural, que cidadãos e suas instituições não têm sabido proteger. São cortadas arrancadas ou podadas de forma selvática com o pretexto de que causam alergias., provocam acidentes de trânsito ou de que vão cair a qualquer momento sobre o nosso telhado. Tudo justifica a sua eliminação em troca de mais uns raios de sol que possam entrar pela nossa janela ou de umas folhas caídas que desaparecem da nossa entrada.
Mas façamos um percurso pela região e ouçamos as histórias que estes companheiros, ou irmãos, como diria S. Francisco de Assis, têm para nos contar.
Entramos na Covilhã pela zona sul, a toponímia dá-nos conta da Quinta do Pinheiro, a árvore que deu o nome à zona já não existe, era um pinheiro manso, um dos maiores do país, a que vários botânicos fazem referência, também conhecido pela designação de pinheiro do diabo, foi destruído por um raio. A pouca distância e com melhor sorte encontramos alguns exemplares de palmeiras, dão agora o nome a uma conhecida escola. Decerto o que muitos desconhecem é que foram mandadas plantar por João Alves da Silva, o primeiro presidente da Câmara após a implantação da República.
Junto ao Rossio do Rato, plantaram, há poucos anos, alguns exemplares de gingoko biloba. Iniciativa de aplaudir, a gingoko existe no planeta há 200 milhões de anos, na tradição budista japonesa é considerada a arvore sagrada da esperança. O exemplar de gingoko mais conhecido no mundo existe em Hiroshima, a 1,1Km do local onde caiu a bomba atómica. Nasceu em 1945 no lugar onde existia um templo destruído pela explosão.
Continuando em direcção ao centro da cidade encontramos, junto à capela de São Silvestre, vários ulmeiros pedunculados. Era sob os ramos destas árvores que, na Gália franca, do século V, se aplicava a justiça e, na Idade Média, os trovadores faziam os pacíficos torneios de trovas. As três espécies de ulmeiros existentes na Europa correm o risco de desaparecer devido a doenças que os atacam designadamente a "torcidoura". No entanto o desconhecimento desta realidade não impediu que recentemente uma empresa ligada à EDP tivesse cortado uma destas árvores no Teixoso chegando para tal a invadir a propriedade privada.
Seguimos para norte, não falemos da mancha florestal que vemos na encosta, pois o incêndio do último ano embarga-nos a lucidez. Que voltas terá dado, no túmulo, Joaquim de Oliveira Monteiro, o responsável pela florestação daquela zona! Nos Penedos Altos observamos alguns pinheiros mansos e pseudotsugas de grandes dimensões, chama-nos, no entanto, a atenção uma sequóia. É uma Wellingtonia, assim chamada em homenagem ao oficial britânico Wellington que esteve no país aquando das invações francesas e que gostava de perpetuar a sua presença com a plantação destas árvores que são as mais altas do mundo.
A viagem já vai longa, ficamos por aqui, numa próxima etapa revelaremos outros segredos que as árvores têm para nos contar.



Autor
Carlos Madaleno

Categoria
Opinião

Palavras-Chave
árvores / árvore / cultural / Pinheiro / gingoko / faceta / difícil / imaginar / habitantes / envergadura

Entidades
Buda / Dafne / Apolo / Zeus / Deus

Artigo Preservado pelo Arquivo.pt
→ Ver Original

partilhe!

veja também

Licão de Lionismo

Os Clubes Lions são, de facto, associações que se regem por um código de ética a que seu fundador, M...

A factura

Fazem o que lhes dá na real gana, e o Zé pagante não consegue reclamar...

VOLTAR À PÁGINA INICIAL